quarta-feira, 25 de maio de 2016

Crônicas do Rio - Enquanto eles se batem dê um rolê!

Da dor que me dói só quero o estrago,
O fim da cena,
O assalto

Afaste o medo,
A arma em punho,
O sangue

Leve o sereno,
O frio, o silêncio, o corte
Deixe apenas a morte

Era madrugada, as crianças se revezavam no quebra-molas improvisado no início da rua. Corre, grita, apita. Tudo muito natural para quem tudo ali era estranho. O carro preto desce as ruas estreitas e sinuosas da favela. Um homem sai correndo do bar e grita. Insistentemente, grita. Walk toques anunciam nossa descida. A cada curva é mais nítida a sensação que estamos sendo esperados. Esperadas. Na quarta curva, com a pistola em punho, nos para o cidadão. - Desce do carro -, Fala para o motorista. Espero aflita a execução que não se dá. O primeiro tiro seguido de muitos. A primeira respiração seguida da apneia. Tudo em suspenso no campo das ideias. O homem armado corre ao lado do carro e grita "tranquilo". Depois de ter nos feito jurar que não havia "nada" conosco no veículo e nos questionar se tínhamos "certeza", nos promete uma recepção com fuzis e metralhadoras. Noite confusa. Apreensivos, reféns assegurados pelo cidadão armado que grita enquanto corre ao lado do carro, éramos nós e a sensação precisa de ser um peixe de rio fora do aquário. "Tranquilo, tranquilo...", As luzes da cidade logo nos iriam relembrar que não era nada daquilo, ou que era tudo mais do mesmo!