domingo, 22 de julho de 2012

Naturofagia


Enquanto o mar engole o chão
O sol incendeia o céu
Não era só um por-do-sol 
Era a natureza se devorando!

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Calhas

Que maneira estranha de seduzir
Mandar embora
Sem deixar partir

Invadir sonhos
Causar arrepios
Demorar nos olhos
E depois, um vazio

Quer me fazer louca
E se dá por feliz
Mira a minha boca
E me beija o nariz

Seu lamento é meu pranto
E não temos razão
Nem eu com minha dor
Nem você com sua obsessão.

Outra saudade

O que são aqueles olhos a me inquirir? 
A saudade que imprimem em meu peito?
Eu não me lembrava direito,
Ou é saudade nova...
Conquistaram algo em mim!
É indo que se vai e nunca se chega...
O gerúndio pesa na mochila!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Tem alguém que me voe por essas estradas?
Ando tanto e não dá em nada.
Alguém que me caminhe por esses becos...
Que me encontre pelos butecos,
Que me acene com o sorriso,
Que me invente um paraíso.


terça-feira, 17 de julho de 2012


Dá-me a tua mão (Clarice Linspector) (Ucrânia, 1925 - Brasil, 1977)

"Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.
Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio
e nesse silêncio profundo se esconde
minha imensa vontade de gritar".

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Decepção é um prato que se come sem fome.

domingo, 15 de julho de 2012

Crônica do cotidiano I: A enxaqueca e o labor.

Se amanhã eu faltar ao trabalho porque morri ninguém vai reclamar, afinal, não há muito que dizer. Acredito que até terão colegas de trabalho no meu velório.
Se amanhã eu faltar ao trabalho porque estou internado no hospital ninguém vai reclamar. Talvez eu até receba algumas visitas.
Se amanhã eu faltar ao trabalho porque estou com enxaqueca talvez alguns reclamem dizendo que é corpo mole, outros até ligarão perguntando se estou melhor.
Mas se amanhã eu faltar ao trabalho porque optei por ir ao cinema, visitar um amigo, ler um livro, parar um pouco para fazer exercícios de respiração, cuidar da família, me reorganizar mentalmente para suportar a rotina do trabalho, serei um irresponsável, darei causa a comentários desagradáveis a meu respeito que talvez até desmereçam o trabalho que faço e que dizem que é bom.
Pois bem, se amanhã eu não for trabalhar pode ser que eu tenha morrido, e aí você escolhe se vai ou não no meu enterro. Se eu estiver no hospital e a sua preocupação for verdadeira sua visita será bem vinda. Se eu estiver em casa com enxaqueca guarde seus comentários perversos para o seu dia de enxaqueca, agradecerei as ligações dos que se preocuparam. Mas se eu não for por qualquer outro motivo que pareça pequeno aos seus olhos pense que a ausência pode ser uma boa justificativa para render melhor no outro dia.
Não é sempre que se pode morrer para não ir ao trabalho. Hospitais são caros. E as enxaquecas acabam tornando-se cada vez mais comuns porque são transformadas em desculpa ou porque os colegas de trabalho não se chamam para ir ao cinema.