quinta-feira, 28 de abril de 2011

Palavras

Livrar-me de mim
Transbordo
Da dor (,) do amor
Enriqueço
Despertencem de si
Enlouqueço
Masoquistas, acompanham-me pelo prazer do abandono
E escrevo
No papel o reflexo do retrato ao avesso.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Cantar (Tereza Cristina)

Canto pra amenizar grande dor que me traz o sorriso de alguém
Se a minha escola querida cruzar a avenida eu canto também
No canto vou jogando a minha vida pra você
Por isso, fecho os olhos pra não ver
Cantar. Desnudar-se diante da vida
Cantar é vestir-se com a voz que se tem
Achar o tom da alegria perdida
E não ter que explicar pra ninguém
A razão desta tal melodia
Encharcada de sorriso e pranto
No cantar, a lembrança se cria
E envelhece de repente
Vai solta no ar
Por isso eu canto

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Boi Cenário - Coincidências à parte

Padecia de um grande mal
Achava-se rei
Mas de leão não tinha nem a juba

Subia no casco para rugir e mugia
Mugia moralidade quando se sabia precisar de ética
Sem fome, comeu de um capim azul porque o mandaram.

Dizia representar os bezerros, mas não os ouvia.
Quando jovem aprendera a marchar
E nunca mais trotou.

Chiste da vida com os bichos da raça
Queria que o resto do gado marcha-se também.
Posa de leão, mas nem é digno da bovinidade.

Parou no tempo em que puxavam carroças
Em que se acreditava no amor do castigo
E nas farpas da conformação

Pobre Cenário
Não viu a revolução
No lugar das patas vê mãos.

É um cavalo
Preza a guerra, torturaria os potros
Delira em seu pasto precário

Tá explicado
Comeu do capim estragado
Ou diz fazer política em nome do respeito, da família, da segurança e da ordem pública em algum lugar no Brasil.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Galanteios abortados

Combinava infância e pecado de um jeito só seu.
Molhavam lábios
As curvas do plebeu.

Os pelos negros sobre a alvez de sua candura
Fizeram-me desejar...
Quanta loucura.

Água escorrendo por entre os dedos;
Passava veloz pelas escadas;
Vertia pelos degraus, e eu tinha sede.

Muita curva para pouca reta.
Essa noite não dormiria;
Imaginando... me tocaria.

A culpa era sua;
As curvas, suas;
A vontade, minha.

O desejo, meu;
O gracejo, seu;
O super ego, Deus.

Os grandes Outros jamais nos permitiriam.
Falam de impureza,
De aberração da natureza.

Lascívia, perversão.
Como posso eu culpar-me,
Por mexer-me o coração?

Sua beleza me tortura.
"Ah, bruta flor do querer,
Ah, brota flora, bruta flor".

Entendo Caetano,
E entendo também a Frankie Valli:
"Can't take my eyes off you"

Não me vê e preciso falar.
Mas se abro a boca,
Muitos vem tentar-me calar.

Não te conheço, é verdade, por isso demonizam minha vontade.
E paro nas prescrições ilegítimas da sociedade.
Não compreendo. Não a essa brutalidade.

Queria beijar-lhe,
Dar-lhe carinho,
Coisas que um desconhecido não faz.

Que faço eu
Pobre moça,
Sofrendo de vontade por um belo rapaz?

Infância em onze atos

I

Sou pequenininha
Da perna grossa,
Vestido curto
Papai gosta não.

Declamava sem rima e as pessoas riam,
Pediam que eu repetisse.
Eu não entendia o porquê,
Apenas gostava e repetia...

II
Comi demais da vida e não podia ser diferente.
Estou suja,
Encardida, como as roupas de renascença esquecidas no guarda-roupa,
Mal apresentável, como os deveres de casa mal apagados.

Devo ter uns quinhentos anos de tanta saudade.
Saudade de não me importar com os padrões,
Muito menos com os patrões,
E menos ainda com o que os outros iriam pensar de mim.

III
No dia das mães escrevia bilhetes dizendo: “te amo”;
No dia dos pais, também.
As letras não eram escritas com a mesma agilidade de hoje,
Mas eram belas, sem contradição, sem ambigüidade, eficazes.

Chegavam a deixar marcas no papel,
Poderiam arrancar várias folhas e saberiam da força daquelas palavras,
Bem coloridas.
Eram o presente mais valioso que eu podia dar.

IV
Andar passando a mão nas paredes...
Querer uma bicicleta nova...
Questionar...
Eu era isso.

Questionava o porquê de não poder ter uma bicicleta nova.
Adorava ter alguém para questionar o porquê de eu não poder ter uma bicicleta nova.
E no fim a bicicleta velha nem era tão velha assim;
E as mangueiras eram tão altas e sedutoras.

V
Jogar bola, brincar de casinha, pular corda, cantar.
Os carros eram de brinquedo,
Os velórios proibidos.
Os batons, de chocolate.

O mal feito, se não descoberto, continuava sendo segredo;
Se conseguisse dormir, a culpa ia embora com o sono.
Era estripulia,
Não covardia.

VI
O quintal sempre teve o mesmo perímetro
Mas era bem maior
Lembro-me de como era grande
A ponto de nele caberem todas as nossas alegrias

Bastava viver
A saúde era um estado de espírito
Não me importava com a osteoporose
Embora me acometessem resfriados, dentes caídos, ossos quebrados...


VII
Papai Noel existia
Fada do dente existia
O anjo da guarda ainda existe
De vez em quando ele aparece

O dente debaixo do travesseiro,
Minha avó trocava por uma moeda.
No natal era a mesma coisa,
Pais e tios faziam um mutirão e enchiam a árvore de presentes.

VIII
Era bom quando a felicidade cabia em mim,
E a culpa não me alcançava.
Era bom não pensar no amanhã,
A não ser que amanhã fôssemos viajar.

Eu era muito veloz,
Corria, andava de bicicleta, pulava alto
E isso me preenchia
Nada me satisfazia mais que as guloseimas da minha avó

IX
Éramos seis, os primos.
Brincando de esperar nossos pais chegarem do trabalho
Mas tínhamos que aprender as regras do clã
E as regras da vida...

Os ensinamentos foram passados num tempo bom,
Mas poderíamos ter demorado mais para aprender.
Embora fosse muito curiosa,
Não sabia, e era bom não saber.

X
Os pelos apontaram junto com a vaidade
Fizeram-me entender a Adão, e muito mais a Eva
Aos poucos fui introjetando o conceito de escolaridade
E perdendo a liberdade para ela

A ignorância tem seus encantos.
Não sabia o que era saudade,
Entendia quase nada da morte,
Mas queria morrer antes do que eu amava.

XI
Sentia-me segura.
Meu pai era o maior homem do mundo.
Minha mãe, a mulher mais inteligente.
Eu, a criança mais feliz.

Fui criança até os catorze
Saí para estudar
Aprendi muitas coisas
Algumas das quais preferiria não saber.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Amor próprio

Ganhei
Um novo amor
Inesperadamente
Lindo
Humano
Espetacular
Raro
Magia que eu quero ter
Eternamente