domingo, 31 de julho de 2011

Maria-fecha-porta

Sutileza da dor
Na dureza da flor.
Basta um toque,
E ela se recolhe sem se despedir.

Não é como pescoço de moça
Que se encolhe por arrepio.
É o medo do outro,
Um silêncio arredio.

Quer afastar os dedos
Que a tentam acariciar.
Consequências de um amor cativado,
E não correspondido.

Foi embora sem motivo.
Deixando-a mimosa, sensitiva.
Abandonou-a com o carma
De sempre se esconder evitando se apaixonar.

sábado, 30 de julho de 2011

A chegada de Augusto

Estou anciosa pela chegada de Augusto.
Acordei cedo e sentei na porta de casa.
Estou daqui imaginando ele dobrar a esquina.
Com que roupa ele vem?
O que será que traz na mala?
Não ligou dizendo que vinha,
Mas sei que vem.
Dá para sentir seu perfume...

Sintomas

Com uma tinta escura marcaram o seu coração.
Antes que o sol saísse escreveu uma carta.
Com a tinta que escorria do peito marcou o ponto final.
Colocou-a em cima da mesa, deixando-a bem visível.

Sentou para tomar um café forte e amargo.
Vestiu o casaco azul estampado por margaridas.
E saiu antes que o dia clareasse de vez.
Lambeu os gatos da vizinha e engoliu os pelos sem engasgar

As árvores da rua estavam enlaçadas com tecido.
Vendou-se com um daqueles panos brancos,
E sentiu o sereno da noite nos olhos.
Seguiu desviando dos carros sem vê-los.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Reviver em mim

Poderosas membranas
Levem-me longe
Bem longe daqui
Onde eu durma sem medo
E acorde sem pressa

Polinizem meus sonhos
Em diversas cores
E me levem para perto
Do querer bem
Do amor sem fim.

O avesso da lenda:
Infinitas crisálidas
Renascendo em mim.
A vontade da eternidade.
Metamorfose da vida.

(Imagem de Wladimir Kush)

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Para te enxergar melhor.

Temos que estar sempre felizes,
Exibindo nosso melhor sorriso,
Esbanjando o sucesso e o glamour de sermos...
Dispostos, radiantes, intensos, inteligentes, comunicativos,
Enobrecidos pela deslumbrante tarefa de ser
Sem tristeza, sem problemas,
Sem melancolia....
Com aptidões diversas para sermos os melhores
Nesse mundo de competições.

Não podemos não ser assim,
Não ser o problema.
Não sermos vistos,
Não sermos reconhecidos em nossa estranha face.
Por mais que gritemos
Em nosso desesperado silêncio.
Por mais que exploremos as mais diversas formas
De nos inconformar diante do contrato que assinaram por nós.
E nos obrigam a cumprir todos os dias.
Sob pena de sanções cruéis.

Por mais que queiramos dizer não.
O aqui não nos cabe. 
Não cabemos aqui.
E não vejo alternativas de fuga,
Que não sejam estas reveladas por minha alucinada visão.

Rupturas,
Descontentamento,
Desconforto,
Anormalidade. 

Eu não sou daqui também, marinheiro.
Eu venho de longe.
E por desejar um horizonte,
Por conseguir vê-lo,
Além.

Além de nós mesmos. 
Pareço louca aos olhos dos que não conseguem ver.
O reflexo da clausura está na lucidez maltrapilha,
Atropelada pela brutalidade do acostumar-se...

E são tantas por aí,
Jogadas, esquecidas. 
Mortas a cada dia,
Matadas em ações corriqueiras.
Julgadas por sua (não) vontade. 
Facilmente julgadas.
A outra.
O outro: o fraco, o covarde, o inconsequente. 

Quantos gramas dessa tonelada você representa?
O que você jogou aqui?
O que você deixou de tirar?
Quantas destas você ajudou a construir?  
E quantas você ainda vai deixar perecer?
Ao sabor de valores rotos,
De expectativas consumistas,
De éticas utilitaristas.


Mal de amor

Êta coração burro, meu Deus!!!!
Não era pra ser cérebro,
Mas também não precisava ser tão coração...

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Um quase silêncio.

Balbucia a melodia em compasso binário.
Escuta, baixinho!
O coração tocando para a gente dançar.

Três mundos

Temo o outro vértice
Que separa os pontos de nós.

Lembranças de um cais

Velejei ao sabor das águas.
O meu pedaço mais feliz
Você escondeu debaixo da onda mais funda,
Onde não encontro.
O silêncio está em mim.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Coração covarde

Queria beijar-te os olhos
Fazê-lo sorrir novamente
Mas tenho um coração covarde
E medo das manhas do amor
Toquei violão,
Escrevi poesia,
Assisti a um filme,
Fiz caipirinha...

A noite foi boa, mas poderia ter sido melhor...
Deveras longa, mas poderia ter sido maior...

Revolta de Cronus

Quebraram meu relógio por brincadeira!
Preciso acordar,
Mas quero dormir.
A noite foi longa.
E já não tenho noção dos dias.
Uns tão distantes,
Outros me sufocando,
Em ordens invertidas,
Saltando acrobaticamente em minha mente.

Faz tempo que não encontro o sol pelas ruas.
O danado anda se escondendo de mim.
Sempre que acordo e saio à janela
Vejo que já se foi.
E espera eu adormecer para aparecer.
Deixando a lua de consolação.
Pelo menos ela me dá atenção e cada vez mais linda.
Iluminando meus dias insistentemente noturnos
E surpreendentemente produtivos.

É, pirraça.
Sumiram com os ponteiros,
Drogatizaram meu sono,
Seduziram-me em sonho.
Quando a cidade acorda,
Meu corpo amolece e uma magia me toma,
Me leva num transe quase profundo.
E eu durmo com o outro lado do mundo,
Enquanto o lado de cá acorda.

Cronus anda sempre bêbado,
De ressaca ou com enxaqueca.
Dorme mais do que deveria,
E levanta com mau humor.
Tenho medo de suas crises,
Que resvalam em mim muito fortes.
Fazendo-me relembrar os dias
Em que estive mais perto da morte.
Por um triz eu me salvaria,
Se não tivesse chegado atrasada.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Conselhos das ondas.

Tenho saudade das ondas,
De como elas acariciavam meus dedos,
Um por um.

Adorava o jeitinho que elas tinham de se aproximar,
Deixando um pedaço de si
E levando um pouco de mim.

Logo tomavam-me pelas pernas...
E o corpo não resistia.
Embarcava em um mergulho sem fim.

Deslizando pelos poros,
Suas águas sempre me diziam
Que o mar é doce, porém arredio.

Eu ouvia os seus conselhos
Como uma criança que teme o pai,
Mas o respeita antes de temê-lo,
E o ama antes de tudo.

O ioiô que sentia.

O ioiô que você lançou sem força
Ainda gira só para te agradar.
Tão empenhado com as cores,
Tece os caleidoscópios mais belos
Nas manhãs mais chuvosas.

Ele gosta de te ver feliz,
Saltitando sem maiores motivos,
Cortando o vento como uma flecha no ar,
Que arremete livre,
E leva consigo os segredos do arco.

Mas não pule tão alto
Que o vento te leva.
Tão leve!
Qual o som das risadas
Gastas sem meios pudores.

E é tão leve o seu pouso
Que dá vontade de aprender a voar.
Lançar ioiôs com a mesma doçura, sem pressa.
Vendo as cores se misturarem,
Refletindo os olharem que passeiam.

Não sei quais são os segredos,
Se é o brilho no olhar,
O reflexo das cores,
Ou os pingos da chuva.
Mas o ioiô continua a girar...

Rosto pomar.

Quem plantou essas jabuticabas em seus olhos?
Tinindo de tanto brilho.
Êta que é gostoso só de ver...
No seu rosto um pomar:
A maçã redondinha!
Primor da natureza.

Nossa Senhora,
Quanta beleza!
Os lábios caqui
Na tez de jambo.
A beleza da fruta.
Germinando em você.

Daqui imagino: Hummm!
Deve ser doce,
Saboroso!
Ai ai...
Salivei.
Que vontade!

Chora não, coração.

Arrume seu quarto, meu bem.
Eu te ajudo a dobrar as roupas,
A estender o lençol,
A organizar os livros.

Que tal tirar esses papéis da cama?
Trocar as fronhas...
Mudar os posters...
Reciclar os amores?!

Chega de tanta saudade,
De lágrimas velhas,
De corações murchos,
De sentimentos rotos.

Você tem um sorriso tão bonito,
Uma meninice tão sua,
E um carinho no jeito de olhar
Que não me deixa aceitar essa sua tristeza.

Chora não, coração.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Cada sorriso

Era uma mulher de muitos sorrisos
Quase nunca dissimulada
Quase sempre feliz
Sabia sorrir com os olhos,
Com o cheiro, com a voz.
Sorria por querer bem à vida
Por querer viver bem.
Driblava as angústias como ninguém.
Era dessas mulheres que fazem o mundo tremer quando acordam
E mudam o mundo a cada sorriso.

domingo, 17 de julho de 2011

Não suma, some.

É assim que quer somar?
Sumindo?
Por mais que somem sentidos,
Os sentimentos sempre somem
Se simplesmente somados.
Serão sempre sumidos,
Quando não somatizados...

Sentir sem ti não faz sentido,
Só me resta solidão.
Porque sumir?
Continue somando.
Só amando.
Já seria o bastante.
Mantenha a soma,
Esqueça o sumiço.

sábado, 16 de julho de 2011

Mais de Cora Coralina

"Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silencio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina".
Cora Coralina

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Um dia eu tive ciúmes do sol

Olhos mirando o céu
Refletindo o brilho sol, 
Cegados pelo clarão.
Vislumbrando um reinado distante.

Um astro presente.
Com todas as atenções voltadas para si.
Grande, imponente, intenso,
Magnético.

Quem nunca quis ser o sol?
Dominar o espaço,
Conhecer o infinito,
Comandar o tempo.

Lançar chamas para todos os lados,
Queimar sem dor,
Alimentar-se do próprio fogo.
Sem dormir. Sem se cansar.

Trepar com os cometas,
Seduzir os planetas,
Acariciar os ventos,
Amar as constelações.

Seu espectro amarelo ouro,
Sua alma cósmica,
Sua tez febril,
Estrela singular a encantar o universo.

Luz e calor para dar.
Energia pulsante,
Ardendo em combustão.
Pronta para consumir o que se aproximar.

Olhares romeiros

Não chore, garoto.
Ela nunca entenderia a sua dor,
Seu sorriso em sacrifício,
Seu olhar perdido.

Não é por maldade, garoto.
Ela pensa em outro
Que também não entendeu a sua dor,
Nem valorizou seu sorriso.

Quando olhares perdidos se encontram
Eles se gostam pela falta.
Identificam-se com o brilho turvo,
A retina castigada.

Mas, cedo ou tarde percebem
Que não são o destino quisto.
E logo se põe de volta à romaria
Correndo da mágoa que os fizeram surtar um dia.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Turbulência

Doeu ver seu beijo em outra face
Doeu ter na face outro beijo que não o seu
Doeu o virar da face
Doeu o beijo

O beijo negado
Vagando no rosto à procura de pouso 
Só encontrou desconsolo,
Turbulência e desilusão

Não sei mais o que esperar
Ou se me desespero
O coração está cansado
Triste, machucado.

Não queria me arrepender
Queria ter somado mais que um
Um número incontável
Qualitativo

Mas somei errado de novo
Índices e números nunca me favoreceram
E não seria agora
Que as minhas divagações iriam ajudar

Elas me levam longe
Onde você não alcança
Com sua razão mestra
E sua emoção ignorante

Pobre nos sentidos
Jamais conseguiria chegar
Onde os ventos acariciam
E sopram com ternura

Não insista na dureza
Ela te atropela com a mesma rudeza
E você nem percebe
Refém dos seus medos

Cambaleando por entre assaltos
Do seu próprio pensar
Teima em gritar
Para depois se esconder

Não adianta fugir
Não adianta correr
Um pouco antes de reagir
Respire e faça diferente

Pense no outro
Pense em você
No amanhã
Ou então no talvez

Na sedução do se
Na beleza do porém
No peso do apesar
No outro lado da face

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Incomparáveis

Não queria me arrepender daquele beijo
Mas esse desejo parece tão distante
Quanto o seu olhar quando digo que amo

Acesso seus lábios pensando nos lábios de outro
E acredito que esse tenha sido o meu maior erro
Buscar em pessoas diferentes as mesmas qualidades

Não gosto de comparações
E não vou fazê-las
Não por isso...

Vocês são mesmo incomparáveis.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Desilusões

Ela amava,
Mas sempre pisavam em seu coração
Com espora.
Arrastavam o calcanhar
Para lá e para cá.
Sempre cortando no mesmo lugar,
E sangrava...
Colocava sal (lágrimas)
Até cicatrizar.
A pele rosada, de tão recente,
Cobria a ferida da nova desilusão
E recobria os traços do velho e conhecido carma:
Ela amava,
E por isso era feliz.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Correnteza

Apaixonei-me por uma impressão.
Choveu.
E a água levou tudo embora.

Pesadelos

Um dia sonhei que havia morrido,
Mas não era sonho.
Morri.
Ou não consigo acordar.

As noites em claro,
Recorrentes,
Fazem-me pensar que não sou daqui,
Ou que preciso de um derivativo poderoso para dormir.

Um derivativo tão poderoso quanto a morte,
Mas nem tão sedutor quanto a vida.
Ou seria o inverso?
Poder, sedução, desejos...

Não, não preciso morrer.
Só preciso dormir,
Ou quem sabe acordar
Desse sonho ruim.

Sinestesia II

Os poemas que faço para você
Têm as cores da madrugada,
Tagarelam como seus olhos,
E cheiram a notas amadeiradas.

Pueris

Busquei-os sólidos,
Mas se desfizeram ali mesmo,
Na viela escura,
Ao sabor da noite sem charme.

Lembrei-me de desenredo,
Das suas putas tristes,
Das mocinhas enganadas,
E da solidão inadiável.

Superestimados,
Perderam o fôlego no pé da ladeira.
Antes eu continuasse acreditando
Que eram fortes e resistentes.

Chegariam inteiros,
E com sede de mais.
Mas não eram atletas,
Eram apenas bons atores.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Era um dengo só

Desfazia-se entre abraços, beijos,
E qualquer outra carícia.

Todos queriam ver sua boca se enlarguescendo num sorriso tímido,
E a maçã do rosto levantando os olhos que se encolhiam.

Miravam o chão tentando se esconder,
Mas não adiantava.

Todos sabiam que aquela dureza era uma farsa
E se desmanchava a qualquer afago.

Teimosas, suas sobrancelhas voltavam a se arquear,
Simulando um não acontecimento.

Adorava se enganar.
Deixava o medo sufocar-lhe.

Mas a qualquer toque que se aproximava,
A maçã se animava, sapeca.

Empurrava a tensão para fora do rosto 
E apertava os olhinhos enternecidos.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Depende mais da escolha ou da crença?

Sabe aquelas coisas que só existem para quem acredita?
A gente tem que escolher
Se acredita ou não,
Pra fazer existir ou deixar morrer,
Para fazer morrer ou deixar existir.
Ou nunca deixar existir.
Se a gente mata, deixa morrer ou faz morrer,
Se a gente vive, deixa viver ou faz viver.
Parece tudo a mesma coisa,
Mas não é.
E é bem diferente.

sábado, 2 de julho de 2011

Sinestesia

Você se cala
Mas não adianta
Tem olhos tagarelas
Que te denunciam

Sobre mim

Tenho um milhão de músicas para ouvir,
Mas não me canso de ouvir a mesma música um milhão de vezes.
Dizem que fui muito mimada,
Acho que não.
Só não sei explicar esse meu jeito de valorar as coisas.

Procuro um milhão de músicas
E acredito que um dia ouvirei todas elas
Escutando um milhão de vezes as que eu mais gostar
E quando me der vontade
Não adianta. Eu sou assim.

Explicação para o não poeta

Hã?
O que faço dos meus dias
Além de escrever poesias?
Vivo-as.

Com toda deferência à diferença

Alô, alô, alô...
Testando

Um dia eu quis um mundo
Tão confuso quanto eu
Com seres iguais a mim
Sem saber se definir

Amorfos e sem juízo
Rizomas enternecidos...

Sou um cronópio incompreendido
Uma criança travessa
A esperança sempre reencontrada
Mesmo na infância perdida

Acredito nos seres
Mas não duvido das coisas

Sonho muito
A perder de vista
E espero que um dia eles invistam
Também nas coisas sem sentido

São os sentimentos
Não precisam de explicação

Para quê: rádio, internet, tv,
Se se sente sempre sozinho?
A comunicação é mais imaterial do que se pensa.
E se materializa para além dos nossos pensamentos.

Nos quartos, salas, paredões,
Nos instrumentos, nos duetos, nas canções.

...Seres que se comunicassem como ninguém,
Que buscassem a todos,
E que quando os alcançassem
Voltassem aos poucos até ter consciência de si.

De si em si,
De si no mundo.

Cronópios incompreendidos,
Crianças travessas,
Esperanças sempre reencontradas,
Sonhando a perder de vista.

Não precisarão ser compreendidos
Serão sentidos.

Adoro brincar com as palavras!

Elas correm,
Às vezes eu pego, às vezes fogem.
Eu me escondo,
Mas elas sempre me encontram.

Quando estou ofegante
Acalmam,
Esperam,
Reanimam.

Respeitam minha solidão,
E me acompanham quando eu mais preciso.
Elas me ajudam a ser uma pessoa melhor,
Porque com elas conheço mais de mim,

Com elas eu choro, sorrio...
Extravaso.
E elas me respondem
Tão imprevisíveis quanto eu.

Adoro brincar com as palavras
Elas se deixam reinventar
Têm lá seus caprichos, são vaidosas.
Ainda estou aprendendo a lhe dar com isso.

Quando me incomodo, saio da brincadeira.
Mas elas sempre me convidam de novo.
Sabem que não resisto a uma ciranda.
Estendem as mãos e começam a cantarolar.

E lá vou eu brincar com as palavras.

Rajada: súbita, ininterrupta, violenta.

Acho que eu nasci com um defeito caro
Não me apaixono por pessoas
Mas por ações

Às vezes tudo parece tão transitório
Quase sempre solitário
Até que alguém faça algo novo
De novo
E eu me sinta feliz...

As pessoas fazem muitas coisas
Proporções bem maiores de ação
Muito mais possibilidades de paixão
Um dia essa minha gula ainda me causa uma indigestão voraz.

O bom disso é que não consigo ficar triste por muito tempo.
Aliás,
Preciso reconsiderá-las:
Rajadas homeopáticas de tristeza.
Voem para longe de mim.

Ambição

Reconquisto você ainda que eu precise conquistar o mundo...

Mapa de nós

Nos comparamos por contraste
A diferença encanta
A semelhança incomoda
O resultado engana
O mapa surpreende

In Natura

A natureza nunca me deu tanta atenção.
Lê meus poemas com carinho e paciência.
Quando gosta brotam sorrisos em sua face serena,
No seio da terra, no ventre do vento.
Do solo ao céu.

Sinais

Gosto do que os seus olhos me dizem
Quando você esquece a pólvora em casa;
Da sua mão desobediente
Que me acaricia sem perceber.

Viva o vento que sopra mansinho
E te arrasta para perto de mim,
E deixa sua voz grave soando baixinho,
Dengosa.

Como quem pede um carinho,
Fecha os olhinhos,
Dá tempo ao silêncio,
E cada poro responde.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Avariações internas

É feio...

Uma parede sem reboco,
A parte interna de um corpo,
Um coração despedaçado.

Preocupam-se com o design
E esquecem das engrenagens

Apesar de lindos e agradáveis aos olhos
Estão com defeito
Não funcionam direito

A capa só cobre
Embeleza, enfeita
Mas não sustenta nada

Reformam a casa
Rebaixam o teto
Cobrem de gesso

E vem tudo ao chão
Ao sabor das infiltrações

Preferem o banco de couro ao air bag
A roda de liga leve ao freio abs
Trocam o som, mas não olham o motor

Espero que depois da próxima curva
A música continue a tocar.
Hoje
fui
chuva.
Precipitei...
A loucura é sagaz.
Seduz,
Mas não atropela.