quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A fantasia brindou comigo
Me olhou nos olhos e sorriu
Virou o copo de vez
Num gole só
Achei que ela fosse soluçar
Mas encheu o copo de novo
Olhou o meu sorriso e brindou
Outro gole voraz, 
Outro copo
Sorriu o brinde e olhou
Outro copo vazio em suas mãos
Completou outro copo 
Bebeu os olhos e sorriu
Brindou comigo e nem viu...

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Para depois da morte

Quando eu morrer,
Se quiserem falar mal de mim,
Digam que eu pequei,
Que eu pequei muito,
Que tive vários amores,
Que chorei de raiva,
Que tive medo,
Que pensei em desistir,
Que duvidei das divindades,
Que tive vícios,
E que eu adorava versos.
Mas não inventem muito,
Nem diminuam tanto,
Muitos não irão acreditar no que disserem,
Alguns tentarão me defender,
Não acreditarão que eu era uma pessoa tão ruim,
Não acreditarão que eu era uma pessoa tão boa,
Não que eu quisesse ter sido mais ou menos "correta",
Mas tentei ser coerente comigo,
Embora a coerência não seja uma variável constante para mim,
Porque mudei muitas vezes o meu modo de pensar, de ser, de ver,
Mas tomem cuidado, não falem como quiserem,
Ou não digam,
Silenciem,
Falem pouco,
Ou falem muito,
Mas falem só do que me viram fazer,
Não me definam com as suas opiniões, 
Se eu não tentei mudar é porque elas não tiveram valor para mim,
Ou porque achei que os seus valores eram menos convincentes que os meus,
Se me arrependi, pedi desculpa a quem era de interesse,
Se me arrependi e não pedi desculpa, morri com esse remorso,
Se não me arrependi, sinto dizer que alguém perdeu uma oportunidade de aprendizado
E espero que não tenha sido eu,
A não ser que eu possa reviver para tentar aprender de novo,
Talvez com o mesmo erro, ou com outros,
Porque eu também adorava errar,
Adorava poder errar sem que me julgassem,
Adorava quando me corrigiam com ternura,
Porque eu também adorava aprender,
Não tinha facilidade com algumas coisas,
Com outras eu era cabeça dura,
Podem dizer que eu fui muito orgulhosa,
É um defeito que reconheço por antecipação.
Ah, digam o que quiserem,
Mas terminem dizendo que eu fui feliz. 

Conversa de cronópios I

- ... eu nao sei se o que eu senti por ele foi um coisa chamada amor platônico, que estava aqui guardado e quando foi correspondido causou aquele desejo, sabe? Eu nao sei se é só desejo, mas é algo que me deixou em um estado de embriaguez, que  me fez sabotar a minha razão e eu fui mesmo sabendo que eu não podia estar lá... mas estar para sentir as bochechas quentes, o espaço em volta sumir... e o outro faz eu me sentir feliz... com os pés no chão, confortavel... o q era?
- Sei lá o que era... para cada pessoa há um amor diferente. Acho que o amor tem uma espécie de bimatéria. Ele é algo em si, mas antes disso é uma "substância" que depende de uma relação. E a gente precisa de várias relações de amor. E cada relação dessa assume uma função diferente na nossa vida, ainda que a função seja simplesmente amar. Até uma música você ama de um jeito diferente de outra, ainda que você ame muito as duas e não saiba dizer qual delas você ama mais. É por isso que por mais que você ame uma pessoa, você não pode passar a vida toda só com ela, porque você precisa de amigos, você precisa de família, você precisa de você, você precisa de solidão. A economia do amor é complexa, é muito mais do que a vontade ou a disponibilidade do/para consumo de uma coisa só e de um jeito só, ele pede uma pluralidade de formas e de sentimentos que a gente sempre tenta definir como uma coisa só, mas no fundo a gente se sente encurralado, porque o amor é sempre mais que isso tudo e no final ele é tão simples que por mais que a gente não consiga defini-lo, a gente sabe quando a gente ama, porque a gente sente que ama.

Amar, verbo composto.

Uma amiga me disse que não queria amar
Pensei em dar uma resposta óbvia e simplesmente dizer:
- Quem não quer amar?
E conhecendo-a como conheço,
Sei que ela é uma dessas pessoas que SEMPRE querem amar,
Ainda quando dizem que não querem.
Como eu estava morrendo de sono, dei-lhe a seguinte resposta:
"Amor não tem querer, ou melhor, ele quer mais que a gente. Se amar fosse assim "de se deixar querer" e "desquerer" não seria amor. Seria desejo, vontade. O amor é algo além disso, ele tem vontade própria e parece que a vontade dele é sempre maior que a nossa. Quantas vezes a gente ama alguém que não "deve", ou ama alguém que não ama a gente? Quantas vezes a gente tem uma pessoa que ama a gente, e que a gente até queria amar, mas a pupila não dilata, o coração não acelera, os poros não se arrepiam quando essa pessoa abraça a gente? Amar não é tão simples. Não dá para entender o amor pelo querer, é preciso conjugar outros verbos e nenhum deles vai substituir o verbo amar."
Foi uma resposta meio louca, mas ela me disse que entendeu o que eu quis dizer.

Do que sei do amor

Em matéria de amor todo coração é leigo, por mais que se tenha amado, por mais que se tenha sofrido, quando se ama não é possível ser um conhecedor pleno. O amor é capaz de trazer as dúvidas mais bobas às pessoas mais espertas e experientes. O amor guarda uma inteligência própria que se distancia da razão; ele é uma simbiose involuntária que implica confiança e vulnerabilidade num ato de entrega.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A certeza de não estar só é muito pequena diante da certeza que se tem quando você sabe que está muito bem acompanhado.

"Como está por aqui?"

Por aqui tudo vai bem,
Exceto o amor, exceto a saudade,
Tudo me sobra,
Nada me resta.

Minha alma mudou de rua,
Convidou a poesia,
Viajou para a lua,
Passeamos nuas.
Estão dizendo que a gente não presta.

Sinto sua falta,
Ainda te amo,
Ainda te quero,
Ainda te espero, 
Não aguentam mais essa minha conversa.

Não ligo,
Repito,
Choro,
Escrevo,
Parece que morro, mas vivo e é uma festa.

Oração

Meu Deus, meu Deus,
Por onde repousa os olhos Teus?
Te peço, ilumine os caminhos dos "meus",
Daqueles que amo, ainda que ateus.
Abençoe com força, com paz, com leveza,
Amenize a dor, a saudade, a dureza,
Que por vezes as curvas da vida impõem,
Mesmo sem entender o que Você compõe.
Me permita que eu os veja por mais um dia
Com saúde, com amor, sem melancolia.
Amanhã eu repito a oração com alegria.

Escolha

Encantam-me os miseráveis
A pedagogia deles é mais honesta
Recheada de empiria, de sabor, de fantasia.

Adoro as suas metáforas,
Sua mania de olhar para o além,
De insistir em querer o bem.

Eles têm uma loucura que me fascina,
Identifico-me com as suas trapalhadas
E até com as lágrimas regadas a gargalhadas.

Os bêbados, os drogados, as prostitutas,
Exercitam bem melhor a escuta
E têm, quase sempre, muito mais a dizer.

São vidas que não se domesticaram,
Transgrediram, criaram
Alternativas para sobreviver.

O mundo corre, tem pressa,
Nos quer bem sucedidos, estáveis,
Mas eu ainda prefiro muito mais os miseráveis.


Negação

Elegante mente tristonho
Fácil mente o sonho
Me faz lembrar você

Tranquila mente a rua
Desejosa mente a lua
Parece que vai chover

Disfarçada mente a noite
Constante mente um açoite
Não sei não ter você

Vagarosa mente a carne 
Prudente mente a tarde
Começa a escurecer

Ingênua mente cogita
Insistente mente acredita
"Preciso amar você" 

Cuidadosa mente a calma
Abandonada mente a alma
Temem não mais te ver

Falsa mente a saudade
Dicreta mente a amizade
Te amo e não sei dizer

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Não é fácil manter o ritmo,
As pernas cansam,
Os caminhos mudam,
Vêm a sede,
O vento,
A noite,
O amanhã.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Retiro o alvo.

Mais do que hipócrita, aquele que que não consegue fazer uma auto crítica sem antes apontar defeitos/qualidades alheias é um doador de falsas carícias, nunca quis reconhecer as qualidades. Esse não passa de um sujeito incapaz de pensar, incapaz de externalizar um pensamento sem antes se esconder por trás de um escudo imaginário, uma projeção de si. Não consegue ferir sem antes cortejar com falsos elogios, e antes disso não é possível não se afirmar. Esse tem a espada torta, impregnada de tanta mentira, camuflada em suas projeções. A maquiagem ajuda a pesar, e a espada sempre pende para um lado. Faz do alvo ficar cada vez mais distante. Para poupá-los desse trabalho retiro o alvo. Despejem à vontade as suas flechas. Os elogios eu dispenso. Isso não significa que eu esteja me abstendo da luta. Mas prefiro lutar diretamente, olho no olho. Sem precisar de arcos, flechas, escudos, muito menos de me esquivar por entre as árvores ou qualquer outra projeção. Gosto das batalhas em que o melhor mecanismo de defesa é a escuta e que as palavras não vêem contaminadas de falsas intenções. Sinto-me inclusive honrada quando saio derrotada, pois aí já não tive um inimigo, mas um mestre.

Paciência

Queria buscar-te em fonte,
Descobrir os segredos que te fazem brotar, 
Te sentir nascendo dentro de mim
Como a água que acaricia as pedras
Eliminando as quinas,
Arredondando as pontas,
Aliviando as mágoas, 
Amenizando os cortes
Abaulados por sua mão incansável
Que cuida sem bajular,
Zela sem vigiar.

Queria entender-te plena
Porque te admiro em verdade.
Gosto quando te acesso sem dificuldade,
Quando te encontro mesmo sem te procurar.
Sinto que às vezes não temos muita afinidade
E me deparo com coisas que não consigo suportar.
E então eu grito, eu explodo, despedaço,
Voam cacos para todos os lados.
E então eu machuco o outro,
E então eu sofro,
E então eu choro.
É um remorso inútil por você não ter chegado antes que eu notasse a sua ausência.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Nomes próprios

Meu amor, que saudade é essa que me consome?
Estou quase mudando de nome.
Ia ficar engraçado eu assinando e as pessoas olhando para mim como se eu fosse uma pervertida...
Não iriam entender.

É sempre assim, parece sina.
Quando a gente se encontra,
Quando a gente se aproxima,
Vem o tempo e bota fogo no galão de gasolina.

É uma rotina que não me abandona,
Não deixa eu cultivar as minhas borboletas,
Sempre nessa ânsia de desencontro.
Pra quê tanta pressa, meu filho?

Augusto se foi outro dia?
E temo que em abril ele esteja em Amsterdã.
Fiz uma música no ano passado
E quero tê-la sempre como um mistério.

Desvendar é bom,
Mas a ignorância tem seus encantos.
Nem falo pela pureza,
Que não me apetece tanto quanto os miseráveis.

Tem gente que insiste: tem algo de errado!
Mas é tão sedutora a loucura,
O desconstruir, a tessitura,
Que a gente conserta, remenda, aperta...

Separa em bandas para colar de novo,
O brinquedo mole de tão usado,
Mas sempre bem quisto,
Ainda que quebrado.

É assim também meu coração desvirtuoso,
Bate gritando, bate calado, bate teimoso.
Mas não desiste de acreditar no amor.
... Assinado: Eu Preciso de Você.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Cachimbo de vento é fumaça

Sei-me impossível.
Era preciso paciência e delicadeza,
E eu não tinha nenhuma delas.
Estava a ponto de um surto.
Aquele silêncio havia me deixado louca,
Assistia a fumaça misturar-se à neblina,
E procurava desenhos nas nuvens que se formavam.
Uma lucidez insustentável,
Um labirinto sem fim.
Muita reta para pouca curva,
Tomando forma no céu,
Sem que eu pudesse intervir.
Mirei o chão.
Eu me reconheci naquele mendigo velho
E a gente nem se parecia,
Apesar de me olhar como quem me conhecia.
Permiti que seu olhar me perscrutasse,
Até o último broto de mim.
Sorri,
Era quase noite.
Um açoite aquelas retinas a me percorrer.
Desenhou uma chave em um caderno azul
Que guardava com cuidado sob as cobertas sujas da rua
Foi o tempo de eu piscar
E ele sumiu por entre os cílios
Aproximei-me e encontrei a porta aberta, 
No caderno sob as cobertas.
Ainda ouvi o barulho da chave caindo ao tocar o chão.
E ele sumiu sem que eu pudesse saber o que levou de mim.

Coincidir

Tem gente que entra na nossa casa sem pedir licença. Não avisa que está chegando e nem toca a campainha. Você simplesmente abre a porta da rua, entra na sala e ela está lá, sentada no sofá, admirando a vista da sua varanda. Então você vai até a cozinha, prepara um aperitivo, abre a geladeira, pega o vinho que ela mais gosta e senta no sofá para continuarem aquela conversa que parece que vocês tinham começado a anos atrás.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Enfim sós

Você me fez falta, querida
Senti saudade de nós no quarto
Eu mirando as paredes ad eternum
E você admirava todo aquele mar branco comigo.

Seus olhos nunca me julgaram,
Nem às minhas dancinhas estranhas quando acordo brincando.
Nem à minha voz rouca quando canto chorando.

Que saudade eu tive
Só nós na varanda
Observando os poucos carros que passam na madrugada
Tentando adivinhar de qual direção viriam.

Lembrei das inúmeras vezes em que abri a geladeira
E você não estava lá
Para me ajudar a lutar contra a insônia,
Para a gente pensar na vida...

Entre encontros e despedidas,
Choramos com as partidas,
Vibramos com as chegadas,
Estivemos de mãos dadas.

Que falta, querida, que falta você me fez.
Vou te abraçar bem forte,
E sei que você não vai se importar se eu chorar ou se eu sorrir.
Cedo ou tarde você terá que partir. 

Mas volte sempre, intermitente.
A falta da falta.
Enfim sós,
A solidão e eu.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

já estive dos dois lados... definitivamente, é muito pior amar sem ser amado.

... ainda pensei que você estivesse morando em Paris. Mas de qualquer outra cidade do interior da França você conseguiu me fazer sentir ciúmes de alguém que talvez eu nunca encontre.
Não precisava tentar reverter a situação dizendo que fiz a mesma coisa inúmeras vezes com você. Acredite, as minhas palavras dizendo que estava feliz por você e triste por mim não foram cobrança, muito menos ironia. O amor é uma nuvem tão branda e bela, que eu vibro quando ele se esparrama pelas calçadas flutuando sobre os pés das pessoas que caminham sem pressa e que dançam na chuva. Mas eu não pude negar, tive ciúme, tive medo de te perder. E por mais que eu tentasse me esconder por trás de ideologias libertárias e nada conservadoras... sim, eu fiz planos para nós. Mas não convém falar dos nossos/meus planos. Não pense que vamos brincar menos, só vamos mudar o estilo da brincadeira. Quem sabe um dia a gente não resgata o jogo? Mas por enquanto prefiro não trapaçear, é anti-desportivo. E isso nem é um campeonato. Não são as regras do jogo que importam. É o bem estar dos jogadores. Continue brincando e sorrindo com o seu sorriso, lindo. Isso de ficar chateado por mais de um dia é coisa de gente velha, e nós temos a vida toda pela frente.