segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Precious - Esperanza Spalding

Love me or leave me, but please don't deceive me
And say you'll love me how I am
You love the way I fit some ideal,
Not the real woman you've yet to understand
See, love ain't all heaven, and I am no angel
But I do the best I can

You always wanted something more from my body
And said you needed something more from my lovin'
But all you got was me and that's all that I can be,
I'm sorry if it let you down

Now it's no nice excuse, but all the magic was used up on trying to uphold
Some kind of tame, flattering persona that
Soon enough was getting real old
It takes more than pressure to change rock to diamond,
Now all you have is sand slipping through your fingers

You always wanted something more from my body,
And said you needed something more from my lovin'
But all you got was me and that's all that I can be,
I'm sorry if it let you down

But I'm not gonna sit around and waste my precious divine energy
Tryin' to explain and being ashamed of things you think are wrong with me
I'm not gonna sit around and waste my precious divine energy
Tryin' to explain and being ashamed of what you think is wrong with me

Set you up, you say I set you up
Like I was different than what I am offering you now
Let you down, you say I let you down
And drove your heart around
Did you forget about all the love

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

À Luis Alberto Warat

Foi-se um mestre, mas receio em dizer que o céu é o seu destino. Não por não merecê-lo, mas porque reduzir a sua nova trajetória a um determinismo maniqueísta imposto pela religião seria declará-lo menor do que se mostrou ser.

Diria que agora visita vários céus, como um cronópio viajante, e que não me surpreenderia se a partir de agora choverem confetes e serpentinas nos dias mais inusitados.

Foi fazer outros carnavais em novos lugares.

O pouco tempo de convivência foi suficiente para perceber a simplicidade e grandeza de um homem intenso. A paixão dos seus discípulos me impediu de ignorar um acontecimento novo: ali esteve e está um sujeito transgressor. Sujeito. Transgressor.

Fez do amor uma utopia real, presente em seus discursos, em suas ações, em suas alucinações.

Nos momentos burocráticos mais tensos conseguiu nos fazer perceber que a vida é algo além de tudo isso, algo bom, gostoso, poético, erótico.

Falo com pernas vacilantes de quem inicia uma caminhada com grandes pretensões, insegura, mas com a convicção de ter visto em muitas pessoas que admiro a admiração que têm por você.

Não sei se estou triste, e não acho que seja ruim não saber. Por mais que saibamos que uma hora esse momento chega, acho que nunca o esperamos.

Estou estranhamente (amargamente) feliz, por reconhecer em você novas possibilidades para o mundo. Possibilidades de sonhar, levantar contentes, reconhecer a beleza em coisas simples, comer as horas em sabores mais diversos, viajar sem planos, cantar...

Estas possibilidades ficarão em seus escritos; em suas ações que acabaram me atingindo por efeito dominó. Jogo de pedras infinitas, multicores e reluzentes que ainda se multiplicam com suas palavras e os sentimentos que despertou.

A sua existência nos permitiu ser mais livres, nos permitiu sermos nós, os outros, e enfim nós (de novo) com um sentimento mais humano acerca do que nos toca.

E em nome de outros me sinto confortável para dizer que você nos tocou, e continuará existindo dentro de nós.

Obrigada por tudo. Por nos mostrar que a vida é sempre um grande começo. E por hoje podermos desejar a você com suas próprias palavras um bom (re)começo.

Começar :

"... é poder ver as coisas pela primeira vez, ainda que as tenha visto setenta mil vezes antes. Estar sempre virginalmente diante do mundo (apesar de os famas nos agredirem chamando-nos de imprevisíveis, de nunca contar com os olhares de adãos para um fazer esperado...). Começar é poder conservar o olhar de Adão, logo, imediatamente, no segundo instante de haver mordido a maçã... Começar é perguntar-se como se começa apesar de ter feito uma infinidade de vezes antes esse mesmo trabalho. Isso vale para o amor ou qualquer outra produção de nutrientes; vale também para dotar de poesia qualquer rotina, para tudo o que sempre ameaça passar igual no correr dos dias. Perguntar-se como começar de forma constante é a possibilidade de sair de qualquer rotina. É a arte que esconde todo começo. É o primeiro segredo da arte de amar." (Warat, Luis Alberto).

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Seduzida.

Faz tempo que não paro para pensar sobre as coisas do mundo, sobre as pessoas no mundo e suas ações no mundo. O excesso de informação requer tanto tempo para selecioná-las e organizá-las que sobra pouco tempo para refletir sobre tudo o que se lê, se ouve. Falta tempo para vivenciar a própria vida; com outras pessoas então, praticamente impossível. As pessoas têm medo de estarem desinformadas, desatualizadas...
... e a loucura é tão sedutora.
                                     Tão sedutora...
E seduz a mim.

A fantasia pirou

O gato tirou as botas
Quando Alice chegou no Haiti
E viu a chapeuzinho vermelho sem o chapeuzinho vermelho
Montando a mula com cabeça
Acompanhada pelo mestre dos magos.

Ninguém reparou a cinderela chegar
O burro falante cantar
O saci pererê caminhar sem pular
Os Flinstons usando bluetooth para se comunicar
O dunga falar

Deu a louca no mundo da fantasia
Está tudo de pernas pro ar
Mas o melhor de tudo
É que agora os biscoitos de Tia Nastácia
Vão ter o nome dela.

Por quê os móveis tem esse nome?

A tarde descia vagabunda como se não tivesse outro destino. E vinha devagar, anunciando a noite serena e comum. Os mendigos começavam a acomodar-se nas calçadas. Voltava da academia cansada, apesar de nem ter feito todos os exercícios (inclusive o aeróbico), mas ao atravessar a rua senti um cheiro de milho cozido e imaginei que não havia muita coisa para comer em casa e teria que preparar algo... Retirei o dinheiro em um caixa 24h que havia ali perto. Por um instante pensei nos hábitos de higiene daquela mulher e, receosa, perguntei quanto era. Respondeu-me ao mesmo tempo em que atendia a uma outra senhora que lhe comprava uma pamonha, desejou-lhe boa noite e agradeceu a Jesus por algo que não me recordo, mas aquilo de certa forma deixou-me mais confortável para comer o milho, ainda que sua higiene não fosse das melhores (pura especulação). Se aquilo foi uma tática de vendas: funcionou. Segui andando e driblando os homens que geralmente estão voltando para suas casas e mechem com todas as mulheres que encontram pelas ruas.

Entrei no supermercado para comprar algumas bobagens, como sempre, a fila demorou infinitamente mais do que demorei a escolher as coisas. A moça do caixa com a mesma cara fechada de todos os dias, as pessoas mórbidas e débeis cumpriam fielmente seu papel de consumidores, inclusive eu. Após o balcão, um senhor, com seus sessenta anos, embalava as compras alheias por conta própria, como no mercado não havia empacotador, apesar de ser um grande empreendimento presente em todo o país. Esse senhor embalava as compras demonstrando cuidado, conversando sozinho e desejando bom dia às pessoas que passavam sem sequer percebê-lo, ou fingindo que não o percebia (não sei o que é pior), pois moedas saltavam no balcam em resposta à “entidade” que conseguia fazer as comprar entrarem sozinhas nas sacolas.

Entrei no meu prédio que ficava ali perto do mercado, na portaria a minha vizinha de andar reclamava algo para o porteiro. Dei boa noite, educada que acho que sou, segui e chamei o elevador. Tomei um banho, li uns e-mails e assistia TV, quando me lembrei de entregar à vizinha uma correspondência que o porteiro deixou por engano no meu apartamento.

Toquei a campainha e mesmo demorando um pouco (isso quer dizer muito) a atender, saiu meio descabelada. Acredito que ela estava tomando banho, senti um cheiro de shampoo. Após os cumprimentos ditados pela lei da boa convivência, entreguei a sua correspondência e ia retornando à minha humilde residência quando me perguntou se a que horas dormia. Pensei que fosse reclamar do barulho que tinha feito no fim de semana porque eu e uns amigos resolvemos fazer uns cachorros-quentes e terminamos a noite tocando violão e cantando na sala, mas às dez horas paramos, por bom senso e medo das reclamações (ainda acho que poderíamos ter ido até mais tarde). Mas, ainda assim achei a pergunta estranha e respondi receosa que dormia às 23h ou 24h e perguntei o porquê da indagação. Parecia com vergonha de perguntar-me, mas estava com plena convicção de que deveria fazê-lo.

Então perguntou-me se durante a madrugada eu não ouvia um barulho de móveis se arrastando e disse que alguns moradores já teriam comentado o mesmo. Respondi que não e realmente nunca tinha ouvido nada. Ela insistiu dizendo que o próprio síndico reclamou com ela e que ela convidou a moradora do andar de baixo do dela a passar uma noite em sua casa para mostrar que o barulho não vinha de lá. Fiquei tentando imaginar o que ela queria com isso e disse-lhe que iria ficar mais atenta e se ouvisse algo diferente comentaria com ela. Entramos num diálogo um pouco irônico e desconfiado:

- Não quero te provocar medo porque acho que temos inteligência o suficiente para escolher no que devemos acreditar. (Falava tentando arrumar o cabelo). Mas acredito que isso seja algo sobrenatural, pois não consigo assimilar a idéia de que moradores de andares tão diferentes e em blocos diferentes ouçam esse barulho e outros não (falou ironicamente). 

- Quem ficaria movendo móveis de lugar para outro em plena madrugada? Provavelmente isso aconteceu porque algumas pessoas mudaram-se daqui semana passada. (Respondi de forma irônica ao perceber que ela desconfiava de mim).

- Acho que não porque venho ouvindo isso desde antes, até então eu não me incomodava, mas, a partir do momento que pensam que sou, eu preciso descobrir quem é ou pelo menos provar que não sou.

- Sei. (Tava explicado, ela precisava colocar a culpa em alguém).

- Pois é, quando eu escutar o barulho de novo vou usar o interfone e chamar para que você venha ouvir. (Sempre com a mão no cabelo e agora com um sorriso cínico. Ela pensava mesmo que era eu, ou pelo menos queria transferir a culpa para mim).

- Tudo bem. (Falei querendo dizer que não. Imaginei-a batendo a minha porta em plena madrugada, mas aceitei porque assim eu estando lá ela me veria e ouviria o barulho ao mesmo tempo, se é que esse barulho existia).

- Pena que você dorme cedo. (Percebeu que eu fiquei chateada com a situação).

- Realmente. E nunca percebi esses ruídos. Se notar te aviso. (O que eu tenho a ver com as alucinações dessa mulher?)

- Tudo bem. (Agora o sorriso era meio retraído como se ao mesmo tempo em que tivesse dado um passo a frente em sua busca e dado um passo atrás em suas possibilidades de colocar a culpa em alguém).

- Isso deve ser coisa de algum sonâmbulo. (Sorri).

- É, mas preste atenção porque assim saberei se você vai poder me ajudar ou se você faz parte do problema. (Risada irônica).

Saí com um sorriso meio sem graça e nos despedimos. Entrei em casa com raiva. Que mulher mais louca, ao invés de ir pentear aquele cabelo fica aí ouvindo móveis. Até me deu uma vontade de arrastá-los essa noite só para vez a confusão. Mas não o fiz.

Esperei ansiosamente a madrugada, mas dormi e não ouvi nada durante a noite a não ser a chuva que caia lá fora lavando a cidade. Lembrei-me do mendigo que se deitou na sacada do caixa eletrônico onde tirei o dinheiro para comprar o milho, à uma hora dessas já estaria todo encharcado e morrendo de frio. Peguei o cobertor mais grosso que tinha no guarda roupa, virei para o lado e voltei a dormir.

Vida ordinária, assim como a vizinha, eu, e os espíritos a arrastarem esses benditos móveis.

Tomara que aquele milho não me faça mal...

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Fim de festa.

Tentamos entrar em oito no motel. Teríamos conseguido não fossem as risadas debochadas demais que nos denunciaram à atendente: não queríamos entrar; e era bom que ela percebesse isso antes de gerar qualquer período na máquina. Também não tínhamos dinheiro para pagar...

O guardador de carros pediu dez reais, falei que só tinha cinco, e de fato, era verdade. No carro da frente um amigo disse só ter pagado dois. E provavelmente muitos ali não pagaram (nada), o mais correto; estacionamos em via pública, não era horário comercial, portanto, não havia obrigação nenhuma em pagar qualquer valor que fosse. E mais: cobravam antecipado.

Entramos. Comida e bebida à vontade. Tratei de descobrir logo o nome dos “barmen”, se chamavam Marcos e Jailton. Durante esses curtos anos de existência descobri que quando sabemos o nome das pessoas isso faz uma diferença enorme em qualquer tipo de relação. Efetivamente, nossas frutas eram as melhores, não esperávamos muito na fila, as “roskas” vinham sempre geladas e adoçadas no ponto. Além disso, era agradabilíssimo ir buscar os drinques, todos atuavam sorrindo, conversando, quase que num estado de consciência alterado. Estava tudo bem, todos felizes, satisfeitos, bem vestidos, simpáticos, sorridentes...

Primeiro momento de transição: a banda começou. Com pouco tempo o ar condicionado que era eficiente já não dá conta do trabalho, as pessoas começam a suar; a maquiagem e os cabelos a se desfazer. As gravatas e os paletós vão para a mesa e em pouco tempo as sandálias de salto alto vão lhes fazer companhia.

Segundo momento de transição: os que têm algo a dever ou têm medo de que tenham algo a dever começam a ir embora ou já foram quando a gravata e as sandálias começaram a incomodar. Na medida em que o salão se esvazia os que ficam se apropriam daquele espaço que é cada vez mais deles. As danças ficam mais expansivas, as gargalhadas mais altas, as luzes brilham mais rápido, a qualidade das músicas muda drasticamente, e, definitivamente, estamos em outra festa.

Terceiro momento de transição: a solidão se anuncia. Sem que percebêssemos, os donos da festa já tinham ido embora. O pessoal da organização já estava arrumando as mesas, varrendo o chão... A banda já tinha acabado e dançávamos ao som mecânico a pelo menos umas duas horas. Olhávamo-nos como se não compreendêssemos o término da festa. A gente não viu.

Cansados, mas ainda anestesiados da dor que amanhã daria o ar da graça, sugerimos outro lugar. Mas a segunda leva de desertores precisa ir embora, a luz contínua e uniforme, a falta de música, e as pessoas exercendo tarefas burocráticas na nossa frente são suficientes para retirar alguns do estado alterado de consciência e trazê-los de volta à realidade. É, preciso ir para casa, voltar à vida normal.

Os primeiros desertores tinham razão, saímos no lixo. Não que isso seja ruim. Ainda entramos no carro gritando... O dia amanhecia enquanto tentávamos entrar em oito no motel. O olhar da moça no balcão merecia um livro. Exercia religiosamente sua função de liberar a entrada sem olhar para o cliente para não constrangê-lo. Ríamos tanto e tão alto que antes de liberar a nossa entrada perguntou para quantos queríamos o quarto. Oito! Mas antes dela imprimir qualquer coisa demos ré. Afinal, a música já havia parado, a luz do dia era contínua e uniforme, e ela exercendo uma tarefa burocrática na nossa frente foi suficiente para retirar alguns do estado alterado de consciência e trazê-los de volta à realidade. Em algum momento seria preciso ir para casa, voltar à vida normal.

Ao final, já éramos todos desertores.

Nada que um generoso banho, uma boa noite de sono e bastante água no dia seguinte não curem.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Manias

Adquiri uma mania
Lavo a mesma blusa todos os dias
Sem vestí-la
Uso-a somente para lavar
E lavo
Não há prazer em vesti-la
Só o desprazer em vê-la perder a cor
Desbotando a cada lavagem...

Não, nós não somos heróis!

A caixa na roda dos miseráveis
Soma dores para enterrar seus mortos
O choro contido na face rígida
Sobe a ladeira com revolta e desilusão
E os lábios negros do asfalto ainda estão sujos
Do sangue dos negros do barro

Pequenas lanças de pólvora
Chegaram sem avisar
Seu barulho cortando os ares
Não esperou a pipa subir no céu
Não é tempo de brincadeira
E a vontade de infância desmanchou-se no chão

O mundo de “sem razões” faz correr
Os que viram no asfalto o seu retrato
Sem lança, sem pipa, sem céu, sem chão
O asfalto lambe o vapor da noite
Que o dia cospe na cara da rua

Não, não somos heróis
E o pesadelo se anuncia real
A impotência, o desconsolo, a revolta, o medo
Descaso obsidiador. Perversidade programada.
Alimentando o lobo dentro do lobo
Indigestão certa de um banquete sem sonhos

As vielas respiram temerosas
O dia que amanhece sozinho
A calmaria e o silêncio: falsa paz que se anuncia
O pânico das ausências, do desamparo
E das presenças mal quistas (- Corre! Polícia).
Na sua injustificável missão de guerra

São os nossos filhos na escada da vida
Calados, o grito salta-lhes aos olhos
Estão sem direção
Gira mundo, roda peão.
Quem diria, as seqüelas da morte
Apontarem os marcos da renovação

Cedo chegam os que vendem notícia
Buscam os palhaços do seu picadeiro
Espetáculo em brasa e cinza
- Houve ou não houve pipa e morteiro?
- Não! Só as pequenas lanças de pólvora, vindo de uma única direção.
E os já conhecidos tiros de canhão

Canhão de gozo e maldade
A colocar grilhões na rebelião
A calar os meninos que correm
As mães que se acuam
Os homens que fogem
Canhões de imatéria (quem os vencerão?)

Quantos anos mais de anistia
Aos canhões da hegemonia
Ferem, machucam, humilham, maltratam
E se escondem por trás dos postes
Únicas testemunhas do banquete do asfalto
A beber o sangue do vapor pelo chão

Toque de recolher. (Essa causa é ou não é sua?)
Mudar de calcada é ingenuidade.
A questão é mais complexa que a largura da rua
E que a (des)nudez da cidade.
Não! Não somos super heróis
E os canhões estão em nossas casas esperando por nós.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sonhei seu sonho

Ainda triste por sua ausência,
Feliz por você.
Saboreando também essa vitória.
Sentindo-me um pouco responsável por essa trajetória.
Mesmo sem convite.

É, não tem limite.
E loucura a gente não explica mesmo.
Se é, sendo.
Vivendo.
Sentindo.

Siga os acordes,
As melodias,
Componha canções.
Deixe-se preencher por elas.
E seja mais feliz.