terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Refrão de um dueto

Ora pois,
A vida sorri tão bela
Que não há como não querer bem
Nem a quem te odiava a minutos atrás...
Poderá te amar por anos depois.

Dessas surpresas que enchem os caminhos de flores,
O peito de amores,
Os ares de canções,
As mais belas são as melodias tristes
De amores não correspondidos,
Doados em vão.

E se um dia
As artimanhas da vida
Deixarem eu te amar,
Estarei cantando
A melodia mais bela
Para te acompanhar.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Quebrando a cara

Te dão um tempo para você correr uma pista.
Você se acha o tal e enche a pista de barreiras,
Corre, salta e chega antes dos outros competidores,
Só então você se lembra que é preciso voltar em marcha atlética pelo mesmo caminho...

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Será que eu volto?

Divaguei devagar
Devaneio escorrendo lento
Pela imaginação...

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Em cantar

Aprendi a não esperar certezas para me atirar nos abismos mais fundos,
Enquanto isso, perdi mergulhos incríveis e salvei-me de vários desastres.
Percebi que não vale a pena arriscar por arriscar,
Mas que vivendo sem riscos não se rabisca nem a história mais banal,
E não por isso menos bela.
Mas arrisco
E temo.
O medo alimenta, renova e me dá a chance de comemorar com mais fervor quando sobrevivo a cada investida.
Ressonante.
Fotografo as paisagens na mente
E valorizo mais a vida quando me aproximo da morte.
Hoje elas me seduzem com igual encanto,
E é só o que desejo,
Partir encantada.

Um grande evento.

Percebe... que o campo é vasto e longo?
Daria para fazer aqui um grande evento.
Busquemos as esteiras.
Vamos estendê-las na horizontal
E formar um grande círculo
Do lado de fora ponhamos flores,
Do lado de dentro uma grande fogueira.
Não, se as chamas subirem muito alto não poderemos nos ver
E haverão muitas pessoas
Porque será um grande evento.
Mudemos então,
As chamas nos rodeiam por fora,
E as flores ficam no centro
Pétalas de todas as cores
Para combinar com os diversos sorrisos
Das muitas pessoas.
Preservaremos sempre o solo
E o máximo de sorrisos.
Talvez precisemos de mais luz,
A lua anda tímida,
E será um grande evento.
Precisamos do frescor da noite
E as chamas aquecerão por demais o campo.
Já sei,
Façamos um lago entre as chamas e as esteiras,
Com uma ponte de bambus e estacas que nos liguem ao centro de flores
O reflexo das chamas nas águas nos dará a luz necessária
E poderemos aproveitar o hálito da madrugada.
Estamos combinados,
Convide todos os seus amigos
E avise aos inimigos sem convidá-los
Estarei em casa cuidando dos preparativos
Para o nosso grande evento
Os que vierem antes da data
Ficaram desde então para a festa
Os que chegarem no dia comemorarão
Farão canticos e danças como melhor lhes ocorrer
Cuidarei de providenciar instrumentos percussivos,
Serão grandes tambores de couro por sob as flores
Como aqueles espalhados em campos mais tristes
E será um grande evento
Com água, ar, fogo e flores ao chão
Celebrando a vida e seus contrastes.
Um grande evento.

Um laço diferente: o elo!

Temo sentir-me velha ou aproximar-me da morte ao dizer essas palavras, mas parece mesmo que a vida se complica por nossos desejos de seguir retas alheias sem sequer saber se gostamos das retas. 
Sinto que complicam os caminhos com uma necessidade desmotivada de seguir estanque, marchando e sem muitos sorrisos. Julgam estranho o homem que prefere duas janelas a duas portas e não tem nada que explique esse desapreço a não ser uma convenção anterior que nem nos faz sentirmos melhor. 
Não obstante a quantidade de janelas ou as formas de percorrer o caminho, pior tornaram-se as escolhas dos caminhos, famigeradas decisões prevendo aptidões pre-inexistentes para a manutenção/alcance desesperad@ de um status quo compartilhado por pessoas que nem são admiradas pelo caminhador. 
O semblante da vida sorri menos tenso quando simplesmente saltam janelas e correm em zig-zag criando um próprio conceito em caminhos indeterminados.
E é mais do que loucura, é paixão por viver. Os suspiros desdobram-se uns sobre os outros acariciando-se em movimentos circulares e não muito velozes. É o viver pedindo licença para se esparramar por entre as carnes. Os poros se elevam saudando a sensação de desconhecer as retas. Agradecendo a sua resiliência clamam em cortejo por sobre a pele: viva! Que suporte! Viva! Para além dos suportes!
Um aplauso sem fim a esse ser tão irreverente, incompreensível aos olhos mais atentos e de aguçada visão, mas perceptível ao tato sensível do cego que faz um lindo laço sem nó.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A ponte (Por Matheus Cunha)

A razão da loucura não me escapou aos dedos;
fez-se real do que não fora realizado.
Alegria triste de ter em plenitude por não ter nada.
Amor que é fantasia para ser de verdade.

Enquanto estiver aí, aqui me oriento;
E me perco, pra achar a cor do teu sorriso.
As cores desse sonho não cabem na realidade,
mas não escapam aos meus dedos, órfãos dos teus.

              Por Matheus Cunha em http://mat-cunha.blogspot.com/

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Aprendizes do poder


O poder engana a gente.
Tem horas em que eu acho que não posso,
Mas posso muito mais.
E eu posso tanta coisa,
Que, de repente, eu nem posso e não sei.
E vou podendo, sem poder,
Não podendo quando posso,
E correspondendo ao poder, também.
Prefiro, contudo, quando acho que não posso
E verifico que podia.
O segredo é sempre tentar
Podendo sempre aprender com a tentativa.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Correr

Na minha cidade tinha um garoto que corria
porque sabia o trabalho que dava parar e começar de novo.
Ia sempre no embalo
E tinha medo de ter que parar.
Não gostava do impulso inicial,
Desprendia muita energia,
Cansava.
Preferia correr sem ter que parar
E aproveitar essa energia para estar sempre mais longe
Do começo.
Percebi que fugia
E que não importava o onde, o de, nem o para,
Importava o como
E tinha que ser correndo.
Fugia da forma, da fôrma.
Queriam que ele andasse, que ele parasse, que ele dormisse,
Mas ele queria ser livre,
E o era correndo...

O que o vazio me deu

E restou-me um vazio tão cintilante
Que eu salivei pensando em suas incertezas
Viajando em suas curvas sem fim
Que davam em lugar nenhum

Fui percorrendo seus descaminhos
Descobrindo em suas ruas encobertas
Sentidos nunca antes desvendados
Pelos amigos da razão

Corri trechos invencíveis
Com a fúria de um menino
E por fim cheguei
Onde nunca imaginei estar

Eramos a estrada e eu
Avaliando as direções
Buscando mais incertezas
Pelo prazer inerente da busca

Agradeci pelo vazio
Com tudo aquilo que ele me preenchia
A infinitude de possibilidades
A plenitude do preencher-se

Onde mora a mentira?

Meu compromisso é com uma verdade que nem se diz honesta,
Não sabe onde habita,
Mas reconhece um lar.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Olhos calados

Seus olhos não me dizem mais nada.
Que triste!
Brilham angustiados,
Tentam falar e não conseguem.
Você os calou a força
E parece nem saber por quê.

Carinho inusitado

Um carinho assim inusitado
deixa o corpo acanhado,
ouriçado e querendo mais...
Ele estava quieto,
desiludido, desacreditado,
Mas um carinho assim, inusitado
Deixou confundido
O coração já tão confuso
Que não sabe de si
E só faz acreditar no amor.

Take care

Coração estava adormecido,
Bastou um carinho seu
E ele despertou...
Parece que não aprende,
Vive sempre assustado,
Ancioso,
Esperando um novo amor...

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Ao som do tambor

Vindos de outros lugares,
Tambores bordados com feltros de luz.
Saberes que são milenares,
Inscritos no couro das telas azuis...

Como é tão difícil ver um sonho
Correndo para um lugar qualquer...

Me empresta um pedaço da infância do céu,
Para eu fazer de conta que é meu sonho bom.
Girar num carrossel,
ao som do tambor...

Tum, tum, tum...
Ao som do tambor...

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Conselhos de Aninha I

Corra que lá vem o agenciamento coletivo do desejo,
Corra dele ou em direção a ele...
ou simplesmente não corra,
passeie,
pare,
volte,
retorne,
Invente um novo jeito de ir,
Mas não ignore a paisagem...

O abraço que não quero

Tristeza tem um abraço frio e cálido
Sonega o calor e o carinho...

Vai sem saber

Passamos a vida toda buscando formas de nos diferenciar,
Escolhendo com cuidado nossas rotas,
Aí vem a morte e iguala todo mundo:
Os brancos e negros, as mulheres e os homens,
os ricos e os pobres, os belos e os feios,
os analfabetos e os doutores, os tristes e os felizes.
Como água que escorre e se perde no chão,
A morte simplesmente leva.
Aí buscamos de novo nos diferenciar perguntando para onde,
Mas já não interessa.
Independentemente de onde você queira ir,
Ela vem e leva.
E você vai sem saber... E você vai sem saber...

A inveja sadia.

Dia tenso, noite longa...
A lua flutua no céu reinventando seu itinerário.
Façamos algo semelhante,
Nunca o mesmo.
É sempre bom ter o próprio itinerário,
Ainda que acompanhado
E observando a lua.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O menino que aprendeu a aprender

Ele sempre queria saber mais,
Mas tinha medo de perder o não saber
No começo, quando aprendia,
Lamentava por ter perdido o que não sabia
Mas, enquanto aprendia,
Percebeu que sempre não sabia mais do que imaginava.
E quis aprender mais
Cada vez mais,
Porque à medida que conhecia,
Ganhava saberes e "não sabias".

O menino que seguia sentindo.

Ele queria saber dos segredos
Queria inventar seus caminhos
Gostava de parar quando todos seguiam
Para observar o andar
E voltava se preciso.

Por fora era calmo e tranquilo
Por dentro, um furacão
Pensava um mundo, questionava o mundo
Um explorador
Sonhando a perder de vista

Via beleza em quase tudo,
Reflexo dos seus belos olhos
Ainda quase infantis.
Surpreendiam por tanta luz
Pelo tanto que conseguiam iluminar

E como eram belos os caminhos iluminados por aqueles olhos
Tão mais livres,
Tão mais...
E ele seguia em paz,
Buscando,
Sentindo.

O menino por trás dos óculos

Como pode um garoto
Seduzir-me com as palavras
Colocando-as lado a lado
Como quem lapida preciosamente uma pedra.

Suas pausas, seus silêncios
Remetem-me a uma operação delicada
Em que cada ação ou omissão são fatais,
Nesse caso, vitais.

Empreende tanta vida em cada sílaba
Que chego a temer terminar seu texto
E leio uma, duas, quantas vezes mais seus escritos pedirem
Deixo passearem por mim à vontade.

Quando consigo me libertar da leitura
Vejo que foi uma mentira.
Ainda estou presa
Esperando o próximo escrito.

Lembro do seu sorriso tímido
Das suas poucas palavras
Do óculos que o protege
E o imagino escrevendo...

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Vitrines

Eram promessas expondo sonhos.
Miravam longe, focavam depressa,
com grande alcance
E mostravam o melhor que se pudesse ver...

Amarelas

Me tira daqui
Que a lembrança daquelas rosas amarelas não me deixam dormir.
Enfeitam o altar tão alto, tão grande, tão distante.
E me impedem de descansar.

Não sei se era eu,
Não sei se era Deus,
Mas o mármore frio,
Gelou-me também os pés.

Descalça, pensei que o homem que ali dormia
Tremia por conta do tempo,
Que passada cada vez mais frio
Entre os poros por sob as pedras.

Talvez fosse Deus,
Ou minha culpa cristã,
Me faziam tristeza no peito,
Sempre que olhava para o tal sujeito.

E as rosas amarelas enfeitavam o altar.
Tão vivas, tão belas.
Pareciam gostar da frieza do mármore
Se espalhando pelo recinto.

E o sujeito girava procurando posição,
Como um cão que sonha e revira no chão,
Sem saber que nunca será compreendido.
Julgados sempre aquém dos sonhos ou do sereno.

Talvez fosse eu
E esses olhos miseráveis,
Enxergando sempre o refugo,
Desprezando até o esforço das rosas amarelas que não me deixam descansar.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Quando os pássaros conversam em minha janela

Gosto de te ver passar,
Encanta os caminhos.
Gosto de te ver sonhar,
Muda o tempo
E fica tudo mais bonito!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Agradecimento por um sorriso sincero.

Não fui eu quem te deu o sorriso mais bonito,
Sequer o motivo para te fazer sorrir,
Mas não me aborreço,
Gosto tanto de te ver sorrir,
Que mesmo sem conhecer,
Gosto também dos seus motivos.

Ainda que me façam sentir ciúmes,
Ainda que os inveje eu meu silêncio,
Ainda que os procure em seu olhar,
Ainda que eu nunca os encontre,
Eu os agradeço
Por fazerem você sorrir.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Sem nada a dizer

Hoje eu queria ouvir um silêncio teu
Só olhar você me olhando
Sem nada a dizer...

Aulas de conquista

Era só um garoto
E eu queria muito beijá-lo.
Em seus vinte e poucos anos
Aos meus olhos era um menino.

Tinha barba e fumava,
Mas seus caixinhos,
Seu sorriso quase infantil,
Não me permitiam tocar-lhe a face.

Os lábios carnudos um dia se atreveram
Aproximaram-se com a malícia de um adulto.
Mas recuei, disse que não iria beijá-lo,
Sem saber muito bem o porquê.

Eu queria, mas não o fiz.
E naquela noite beijei outro homem,
Que nem me apetecia tanto quanto àquele dono dos lábios carnudos,
Entretanto, quase infantis.

E o jeito de olhar,
De falar, de sorrir,
Não me deixam esquecer que o quero,
Mas que é só um menino.

Os óculos ajudam a imprimir na face o eterno ar colegial
Desajeitado com as meninas,
Mas muito bem quisto por elas.
Um garoto inexperiente.

Talvez essa seja a resposta,
Ou, por fim, a grande questão.
Teria que ensinar ao garoto?
Ou sou eu que preciso aprender?

Ele respeita demais,
Poderia ser mais ousado.
Mas é tão bonitinho,
O seu jeito acanhado.

Diz saber o que faz,
Mas não me sinto segura,
Acredito no menino, no garoto,
Mas duvido do homem, do rapaz.

Pensa como um dragão,
Age como um felino,
Sorri como uma criança,
Más é só um menino.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Qual é o limite?

Seria pretensão demais querer responder a essa pergunta sem antes questionar: o que é o limite?
Limite é a borda, a contensão, o marco de ruptura, o ponto que instaura o início do transbordo, onde a conteúdo não mais se controla, porque escorre para fora de si. E justamente, por não correr para qualquer lugar, escorre até esbarrar noutro limite, ainda que seja o limite ontológico do que se quer limitar.
Todo limite expressa uma hierarquia superior barrante que determina até onde se pode ir, que delimita, ou seja, dá limites. Nesse sentido, o limite se reproduz tantos quantos sejam os conteúdos a limitar. Estes, por sua vez, os conteúdos, são igualmente capazes de romper esses limites e transcender aos outros que se anunciam como condição de sua existência. Relações de poder infinitas: o (i)limitante e o (i)limitável.
O limite é a relação entre possibilidade e transgressão. Ele vai até onde a transgressão o transcende.
O limite é o mito, nós, o Sísifo. Precisamos escolher como vamos carregar as pedras e subir a montanha.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A palavra ausente

Angústia solene
Enrubesce a face
Embrutece a frase

Diz
Desdiz
E não se encontra...

Como se perde um amigo?

Beleza interior

Pareciam dois olhos,
mas eram grandes janelas
com uma vista indescritível...
Fizeram-me lembrar do sábio chinês que nunca conheci,
mas que sempre imaginei como um homem bom e sereno.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Deposição


Desce o Cristo da cruz
Nos braços cansados dos homens
Que depuseram a sua divindade
E depoem em nome dela.

Imagem: Deposição de Cristo, Caravaggio.

O menino que não esquecia

Seu, seu, seu...
Mnemônico!
Lembra de tudo,
Não esquece de nada,
Vai estourar.
Não dorme direito,
Não vive direito,
Não esquece de lembrar...
E, se se lembra de esquecer,
Não renuncia,
Guarda a lembrança
Jamais esquecida.

O poder e o afeto

É possível,
Não se renda.

Você pode
Ao poder
Render-se.

Renda-se,
Insita.

Renda-me,
Suscita.

Renda!
Não crê.

Renda!
Não vê?

Rendar,
Render,
Não rende...
Rendar?

Renda!
Borda a barra da saia
Cantarolando,
Vê os carros que passam,
Amando a amendoeira que cresceu ao lado da sua janela.

Acostumar

Visto desejo com roupas novas,
Mas ele sempre relembra as antigas.
Contorcendo-se por entre as malhas,
Reclama da textura dura demais para sua pele macia e sedenta.

Por mais que tente lasciar o tecido.
Apanha do pano.
E é vestido assim mesmo,
Envolto pelos novos cortes.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Contas de um viajante

Gasto contigo meu último minuto
Para não me arrepender do prejuízo
De ter lucrado com a tua ausência.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O azul consternado


Às vezes me parece
Que a gente se conhece
Do fim do mundo

Da curva mais rasa

De onde eu sentava
Para ver melhor
E tomar o vento na cara

Os barcos passavam velozes
E, como detritos a rolar,
A água rasgava suave a pele
Numa dorzinha gostosa

Me faziam lembrar da vida

Viva! Não era só uma curva
Era todo um arranha-céu
Com o céu no topo e o mar no chão

Do azul que me mergulhava
E que ninguém via

E ele corria pela rua
Gastava toda a rua
Em sua procura incessante

Querendo direção

Quase um pedido

Quero um amor bem grande
Do tamanho da minha saudade
Que me toque com ternura
E me ouça com amizade
Que me beije com tesão
E me mate a vontade

E que depois de me saciar,
Me abandone por um tempo
Para eu sentir a sua falta,
Ver aumentar a necessidade,
O desejo, a vontade,
De querer um amor bem grande,
Do tamanho da minha saudade.

domingo, 11 de setembro de 2011

Por Manoel de Barros

A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.

Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.

Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.

sábado, 10 de setembro de 2011

Fogo no céu


Até parece que saiu do nada
Essa vontade de comer amora na varanda.
Ai, quem me dera
Se esse céu lilás pela janela do meu quarto fosse a sua cama.

Como eu queria ter os seus cabelos
Deslizando entre meus dedos, o seu olhar macio.
Ai, quem me dera ter seu corpo quente
Em minha pele tão carente nesse tempo frio.

Eu ia por fogo no céu,
Tirava a roupa ali mesmo no altar.
E se alguém me perguntasse por Deus,
Responderia: também foi amar.

Eu ia por fogo no céu,
Ficava nua ali mesmo no altar.
E se alguém me perguntasse por Deus,
Responderia: deixe eu pecar.

Deus mandou cuidar,
Cuidou e mandou cuidar.
Amou e mandou amar, amou...
Até parece que saiu do nada
Essa vontade de comer amora na varanda.
Até parece...

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Transportes

Não,
Eu não sou um avião.
Sou apenas um barquinho
A velejar pelo oceano,
Por querer bem às ondas
E amar o vento.




Vaidade II

A vaidade é um bicho que come o homem pelo pé...
Deixa seguir caminhando,
apesar das mancadas.

Vai o sujeito...
se esbarrando,
Perdendo as pernas.

Com o baço corroído,
Não sente falta dos braços,
Tampouco do umbigo.

Segue o sujeito quase sem pescoço.
Aí se dá conta
De que está perdendo a cabeça.

domingo, 4 de setembro de 2011

Transbôrdo

Augusto partiu de novo...
Foi buscar a Prima Vera na rodoviária
e de lá mesmo arranjou outro destino.
Esse Augusto inventa cada coisa.
Não queta o cabo mesmo.
Bem que minha vó dizia:
As estações são pequenas demais para tanta gente!

Ressaca

    É onda que leva
 É onda que traz
      É mar que balança
          E não pode parar...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Eu que não sei nada de estética!

Puristas de merda
Santificados em altares de títulos
Facilmente corruptíveis

Sacro monte de escritos
Fabricando ídolos por hierarquia
No império da perversão

Julga idiossincráticos
Meus sonhos de liberdade
E ri por definição.

Sua pedagogia está tão ultrapassada
Quanto os seus conceitos instituidores.
Fazem-me lembrar do nobel lobotômico.

Quando o respeito é temor
Quando a autoridade é opressão
Empobreces a estética que tanto julgas conhecer...

Talvez seja melhor eu não saber nada dela
Ganhar um novo umbigo a cada relincho teu
E continuar sendo uma mulher feliz.

Sou ridícula graças aos meus muitos umbigos
Que me permitem viajar em várias órbitas
Onde a sua arrogância não é o árbitro.

Lá pessoas riem por prazer, por felicidade.
As vestes são livres
E as canções, vivas.

Lá a estética é mais que um conceito bem definido por doutores
Escondidos atrás da sombra cavernosa dos seus olhos de vidro
E de seus hábitos pastéis bestificados

Lá o reino do indefinido transcende as gerações.
Criam o inaudível às suas membranas podres,
Castigadas pela sina da não renovação.

Lá a nossa paz é indizível ao seu humor de barro petrificado no tempo
E solúvel à primeira neblina mais ousada
Que doe vida a uma flor.

Suas palavras de homem sério e respeitado que machucam e entristecem
Carecem de revisão não epistemológica
Carecem de revisão de sentidos.



domingo, 21 de agosto de 2011

É, vô...

Sua lucidez me atrapalha.
E o infantilizo em minhas perguntas toscas,
Por não saber como dizer te amo
Enquanto posso.

domingo, 14 de agosto de 2011

A tristeza da moça

Ela sentava e chorava
Ali onde o mar começava
E as ondas iam aumentando.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Antecipação

Antes que pese o tempo sobre o nosso corpo.
Antes que outro corpo sobre o seu pese.
Antes que pesem as lembranças de nós dois.
E o pensamento sobre as lembranças pese.
Me deixe partir.
Me deixe ir bem mais leve.

Antes que haja o aumento da gasolina.
Antes que nossos filhos paguem nosso preço.
Antes que eu saiba o nome daquela menina.
E por você eu perca todo o meu apreço.
Antes que pese o meu pesar sobre nós dois.
Me deixe partir.
Me deixe ir bem mais leve.

Indecisão não faz seu tipo e eu admiro.
Gosto de homens firmes e isso eu reconheço em você.
Não estou te mandando embora,
Só antecipando a hora
Da mudança de endereço.
Me deixe partir,
Me deixe ir bem mais leve.

Solitude e solidão

Não,
Eu não consigo conceber a solidão para você.
Fez mil castelos e brinquedos
E não tem onde morar,
Com quem brincar.

Vida tem dessas coisas,
Mas não sei entender, não consigo.
As flores brotam no asfalto para te receber,
Para te ver passar
Só.

O mundo é um moinho e você dorme só,
A flor e os espinhos em um jarro,
Só.
As gotas de luar refletem o canto só.
E é só isso.

Solitário pela madrugada afora.
Juro, estou contando as horas
Só para te acompanhar.
E deixar a solidão seguir sozinha.
Só isso.

Metáforas

Depois que transbordam me deixam escolher do que estão cheias...

Super-Maria

Maria desce a ladeira da preguiça
Todos os dias com a trouxa na cabeça.
Antes do almoço já tem roupa no varal,
E meio dia Maria já pôs a mesa.

Arruma a casa e ainda se faz bonita.
Leva para a feira muita coisa para vender.
Antes da missa leva os filhos na escola,
Só depois providencia o que comer.

Maria, essa farinha, o que é que tem?
Além da pouca água, tem o quê?
Maria o seu sorriso vai além,
Daquilo que um homem pode ver.

Maria pega os filhos na escola,
Maria tira a roupa do varal,
Chega da feira com um monte de sacolas,
Sobe ladeira para pegar o seu mensal.

Maria dança, ama os filhos e sorri.
Maria sonha em um dia ser artista.
Desenha quadros bem melhor do que o Dali.
Isso sem falar do seu problema de vista.

Maria pinta sempre os seus dias
Com arte e alegria de viver.
Maria, o seu palco é a vida.
Maria, essa farinha tem o quê?

Maria,
Super-Maria,
Não sei se faria,
O que você faz tão bem!

Maria, essa farinha, o que é que tem?
Além da pouca água, tem o quê?
Maria o seu sorriso vai além,
Daquilo que um homem pode ver.

Do que passa

A maquiagem bonita
um dia borra.
A roupa bonita
um dia rasga.
O sorriso bonito
um dia amarela.
O corpo bonito
um dia apodrece.
A beleza muda.
Amadurece,
e constrói um novo lar numa cidade mais fresca e menos poluída...

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Poesia pra mim :D!!! Vlw, Polete!!!

De talento imensurável,
De sorriso iluminado.
Alegria que contagia,
...Mas não é carnaval.
Energia que dá gosto,
Mas não é Nescau.
É você, só podia ser você!
E se eu tiver no fim do mundo,

Eu volto pra te ver!

Feliz!!!

Era madrugada...
Todos em casa.
O colchão me abraça.
...
O sol acordou antes de mim,
Apesar de ter ido dormir mais cedo.
Passeia radiante lá fora.
...
Ai, que soninho bom!
E o sol cantarolando lá fora.
Já chegou interfonando.
...
Soninho, vai esquentando a cama.
Peraííí, tô indo também...
Obrigada, vida!!!!

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Noite fria

Quando as luzes da cidade se apagam,
E a noite chega traiçoeira,
Esperança veste seu vestido vermelho decotado,
Cruza as pernas na sacada do prédio mais alto.
E fuma um enorme charuto de pétalas aromáticas,
Cobrindo as ruas de neblina e fumaça,
Seduzindo o amor que passeia desavisado...

Caminhador

Seu olhar passeava fracassado
Mirando o que a cabeça permitia,
O chão.

Vivendo sem destino,
Caminhava por si só
Não queria que lhe atrofiassem os tendões.

Dono de uma história cansada
Levava consigo algumas cartas
Com poesias mal riscadas.

Se escondia do mundo.
Duvidava da vida.
E tinha medo da morte.

Não sabia quem era.
Julgava-se sem sorte.
Perdeu por desastre a pessoa amada.

Via o dia morrer,
O sol ir embora,
A lua surgir.

Via a manhã renascer
Com o brilho da aurora,
A lua partir.

Não gostava de caminhar,
Mas gostava do caminho.
E isso era suficiente.

Vez em quando seus olhos marejavam 
E não via nada.
Mas caminhava, por que acreditava na estrada.

Um sono só

Parece que Augusto não gosta de cuecas que lhe apertem os bagos.
Veste samba-canção, ou dorme sempre pelado.
Tirou as pilhas dos relógios para não ouvir os ponteiros
Tagarelando em compassos binários.

Espirrou muito a noite passada
Por causa da colcha nova cheirando a guardado.
Vestiu meias pretas como há muito não fazia.
Acordou quando deu vontade, que alegria.

Dormiu um sono só.
Também não se lembrava da última vez que isso acontecera.
Constatou sem saudade dos sonos interrompidos,
Que é muito bom adormecer sorrindo e acordar sonhando.

Revelação

Eu te amo porque te amo,
Não tem muito o que dizer.
Também não sei o que faria
Se pudesse fazer diferente.
É como uma fotografia
Impressa na nossa frente.
Eu te amando no retrato
E você indiferente...

Incompreensão

Hoje visitei uma lápide que poderia dizer assim:
Aqui jaz um louco pela vida!
Ainda estou refletindo,
Como pode ter sido um suicida?

Lenha de pano

Janela, terno, machado.
Tecido bem dobrado.
Um golpe.
E Augusto agora tem uma camiseta de ombreiras.
Com três grandes botões amarelados.

domingo, 7 de agosto de 2011

A procura.

Amantes,
Amáveis,
Sentindo-se inseguros,
Com medo da dolorosa solidão.

Sonhando sonhos impossíveis de tão infantis.
Seus pensamentos passeiam,
Deslizam entre as lembranças mais doces,
Que os fizeram gigantes.

Caminhando leves por entre os jardins,
Seus passos não machucam as flores,
Nem fazem fugir os bichos.
Só estão à procura de amores.

A simplicidade dos desejos e a grandeza das vontades...
...Devaneios de mentes tão boas.
Não conseguem enxergar a maldade,
Ou veem muito além dela.

Julguei o destino cruel ao vê-los passear assim.
Buscando-se sem nunca se encontrar.
Mas eu estava errada.
Eles andavam sempre juntos.

Sabiam um do outro,
Mas não queriam ser egoístas.
Queriam encontrar quem precisasse mais do seu amor
E seguiam amando durante a procura.

As retinas mais belas

Heterocrômicos.
Aquecendo os dias,
Iluminando as noites.

Sol e lua. 

Luz refratando o mundo,
Adocicando tudo
Com seus reflexos entorpecedores.

Lua e sol.

Enobrecendo os seres.
Brilho do amor mais puro,
Nas retinas dos olhos do céu.

sábado, 6 de agosto de 2011

A hora das rosas

O sino e uma canção triste
Acompanham o meu silêncio,
Uma das minhas verdades.

Sinto que agora é tarde,
E a angústia me conforta,
Porque sei que estou sofrendo.

Os dias parecem iguais,
Mas não são.
E sei que não foram tempo perdido.

Os segundos já alcançaram as horas.
E tudo voltaria a ser como antes.
Tivesse havido tempo para renascer.

Só lágrimas não dizem a minha dor,
Elas apenas transparecem a minha luta.
E tenho fé no final, porque confio na estrada.

Meu espírito está calmo,
Sorrindo em paz.
Calmo, consolado.

Sei que virão as rosas
Sem espinhos.
Outrora superados.

Não é a dor que fica,
São as marcas do aprendizado.
Vão-se os medos, ficam as lembranças.

As perdas foram inevitáveis,
Dolorosas.
E até então inesquecíveis.

Minam atuais todos os dias,
Trazendo à vida a nostalgia
Dessa interminável saudade.

Não queria que tivesse sido assim,
Mas agradeço a força, a amizade.
E o aprendizado deixado pela dor:

Todas as pessoas são únicas, singulares.
Ninguém é substituível.
Mas todos têm um brilho que pode preencher o vazio da escuridão.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Saudade

Tenho saudade de quando você sonhava.
A nossa casa não tinha parede,
E o céu era bem mais colorido.
   

Sinto falta do seu destemor,
Do amor às águas de chuva,
Do abandonar-se ao rio.  

Queria de novo as permissividades mais loucas, 
Os segredos mais bem guardados
Pela naturalização do desvendar.
 
Era bom quando a gente saia.
Sempre descobria algo novo
E ficava deslumbrado até a nova descoberta.
 
Era bom o jeito que a gente se conhecia,
Amava o nosso desconhecer,
E se descobria junto.
 
Era bom quando a gente viajava para dois lados,
E passava a volta pensando
Como seria gostoso o abraço do reencontro.      

Mas era melhor quando a gente viajava junto. 
Conversando, dormindo, cantando,
Viajando.
   
Era bom quando a gente desconhecia o nosso amor,
E acreditava nele mesmo assim.
E cada dia valia a pena...

Sem plano B!

Não, ainda não sei o que vou fazer!
Por enquanto estou me concentrando no que estou fazendo...
... e parece que demora.
Apesar de você achar que não.

Não, não tenho plano B.
Se não der certo posso continuar tentando.
Ou me apaixonar outras vezes,
Ter novas ambições.

Sabe que sonho muito.
Não me faltará o que fazer.
E acho que tenho vida suficiente pra isso.
Espero que não me falte.

Eu sei, o dinheiro é seu.
Mas não se preocupe,
Não é a ele que amo.
Procurarei outras fontes.

Esses anos fora de casa me ensinaram muito.
Entre saltos e quedas aprendi que posso ir longe.
Onde as suas vistas ainda não alcançam.
Ou fingem não enxergar por medo do tombo.

Agradeço a confiança, o investimento, a compreensão...
Imagino o dia em que as cobranças serão findas,
E, sem culpa, eu receba só o amor.
Contemplando a beleza do percurso que fiz.

Te respeito muito, te admiro mais ainda,
Te amo incondicionalmente,
Mas não somos iguais
E quero ser eu.

Quero meus medos,
E principalmente os meus anseios.
Mas te levo comigo em cada lembrança,
E conto com a sua torcida.

Lembro de quando eu tirei as rodinhas de apoio da bicicleta
E você ficou no portão reprovando.
Olhando com medo de eu me machucar.
Sabia que eu podia, mas não queria que eu me arriscasse.

Em pouco tempo eu já estava soltando as mãos.
Lembro daquele acidente, parecia que o caminhão ia me matar. Apaguei.
Quando voltei o que mais me doeu não foram as feridas, nem os hematomas.
Foram seus olhos insones, inchados de tanto chorar.

Eu te ouvia, e tomava cuidado.
Mas o vento batendo no meu rosto me ensandecia.
E eu acelerava,
E abria os braços para voar...

As asas?
Sinto que estão crescendo aos poucos.
As pontadas nas costas não me deixam dúvidas.
Estou escalando uma montanha bem alta para o voo perfeito.

Se eu não arremeter?
Não, não tenho plano B.
Mas, não chore.
Só não fomos iguais.

E acredite,
Posso não ter te amado do melhor jeito,
Mas te amei com tudo o que pude.
Sem restrições.

Se eu arremeter?
Volto para te dar uma carona!
Te mostrar a estrada de cima,
Para curtirmos o vento batendo na cara!

Para que acredite,
Que com amor a gente pode tudo!
E que o plano B não era o mais importante.
Poderíamos sempre repetir o plano A.

Estranhamente feliz!

Estranhamente feliz!
Por amar algo que fiz e deu certo,
Mas ainda sem saber o que!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Seguindo com Augusto

Augusto chegou e nem desfez a mala
Fez um convite irrecusável
Queria que eu seguisse viagem com ele
E como era irrecusável
Não resisti...

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Os super poderes de Júlia

Júlia é tão contraditória quanto amável.
Ela não tem super ego,
Mas teima em ser o super ego alheio.

A mulher vulcão.
Tem o poder dos três dias,
No primeiro se apaixona,
No segundo chora,
No terceiro esquece.
O quarto dia não existe,
Porque é o primeiro de um novo ciclo.

Uma mulher intensa
Com um coração gigante.
Desconhece o quarenta e quatro.
É oito ou oitenta.

Daria a vida por um amigo,
Mas antes disso provocaria muitas outras mortes.

Amiga,
Companheira,
Doce,
Arredia.

Não sabe lidar com suas emoções,
Mas nunca vai admitir isso.
Em seu lugar eu também não saberia,
E talvez não admitisse também.
Senão eu não seria ela.

É muito sensível,
Temperamental,
(íssima).
Temperança passou longe.
Aliás, é um excesso.
Quanta vida num só ser.

Devora os dias em todos os seus segundos,
Milésimos,
E ainda lhe sobra tempo.
Única.

Não consigo imaginar um mundo só com pessoas como Júlia.
Tão enérgicas.
Seria uma dádiva,
Ou uma catástrofe.

Surpreendentemente previsível,
Previsivelmente surpreendente.
Uma dessas pessoas que fazem a diferença na vida.
E que fazem a vida valer a pena.

É muito bom conhecer Júlia,
Aprendo sempre,
Dando muita risada,
E com a adrenalina lá em cima!!!!!

Com carinho.

domingo, 31 de julho de 2011

Maria-fecha-porta

Sutileza da dor
Na dureza da flor.
Basta um toque,
E ela se recolhe sem se despedir.

Não é como pescoço de moça
Que se encolhe por arrepio.
É o medo do outro,
Um silêncio arredio.

Quer afastar os dedos
Que a tentam acariciar.
Consequências de um amor cativado,
E não correspondido.

Foi embora sem motivo.
Deixando-a mimosa, sensitiva.
Abandonou-a com o carma
De sempre se esconder evitando se apaixonar.

sábado, 30 de julho de 2011

A chegada de Augusto

Estou anciosa pela chegada de Augusto.
Acordei cedo e sentei na porta de casa.
Estou daqui imaginando ele dobrar a esquina.
Com que roupa ele vem?
O que será que traz na mala?
Não ligou dizendo que vinha,
Mas sei que vem.
Dá para sentir seu perfume...

Sintomas

Com uma tinta escura marcaram o seu coração.
Antes que o sol saísse escreveu uma carta.
Com a tinta que escorria do peito marcou o ponto final.
Colocou-a em cima da mesa, deixando-a bem visível.

Sentou para tomar um café forte e amargo.
Vestiu o casaco azul estampado por margaridas.
E saiu antes que o dia clareasse de vez.
Lambeu os gatos da vizinha e engoliu os pelos sem engasgar

As árvores da rua estavam enlaçadas com tecido.
Vendou-se com um daqueles panos brancos,
E sentiu o sereno da noite nos olhos.
Seguiu desviando dos carros sem vê-los.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Reviver em mim

Poderosas membranas
Levem-me longe
Bem longe daqui
Onde eu durma sem medo
E acorde sem pressa

Polinizem meus sonhos
Em diversas cores
E me levem para perto
Do querer bem
Do amor sem fim.

O avesso da lenda:
Infinitas crisálidas
Renascendo em mim.
A vontade da eternidade.
Metamorfose da vida.

(Imagem de Wladimir Kush)

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Para te enxergar melhor.

Temos que estar sempre felizes,
Exibindo nosso melhor sorriso,
Esbanjando o sucesso e o glamour de sermos...
Dispostos, radiantes, intensos, inteligentes, comunicativos,
Enobrecidos pela deslumbrante tarefa de ser
Sem tristeza, sem problemas,
Sem melancolia....
Com aptidões diversas para sermos os melhores
Nesse mundo de competições.

Não podemos não ser assim,
Não ser o problema.
Não sermos vistos,
Não sermos reconhecidos em nossa estranha face.
Por mais que gritemos
Em nosso desesperado silêncio.
Por mais que exploremos as mais diversas formas
De nos inconformar diante do contrato que assinaram por nós.
E nos obrigam a cumprir todos os dias.
Sob pena de sanções cruéis.

Por mais que queiramos dizer não.
O aqui não nos cabe. 
Não cabemos aqui.
E não vejo alternativas de fuga,
Que não sejam estas reveladas por minha alucinada visão.

Rupturas,
Descontentamento,
Desconforto,
Anormalidade. 

Eu não sou daqui também, marinheiro.
Eu venho de longe.
E por desejar um horizonte,
Por conseguir vê-lo,
Além.

Além de nós mesmos. 
Pareço louca aos olhos dos que não conseguem ver.
O reflexo da clausura está na lucidez maltrapilha,
Atropelada pela brutalidade do acostumar-se...

E são tantas por aí,
Jogadas, esquecidas. 
Mortas a cada dia,
Matadas em ações corriqueiras.
Julgadas por sua (não) vontade. 
Facilmente julgadas.
A outra.
O outro: o fraco, o covarde, o inconsequente. 

Quantos gramas dessa tonelada você representa?
O que você jogou aqui?
O que você deixou de tirar?
Quantas destas você ajudou a construir?  
E quantas você ainda vai deixar perecer?
Ao sabor de valores rotos,
De expectativas consumistas,
De éticas utilitaristas.


Mal de amor

Êta coração burro, meu Deus!!!!
Não era pra ser cérebro,
Mas também não precisava ser tão coração...

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Um quase silêncio.

Balbucia a melodia em compasso binário.
Escuta, baixinho!
O coração tocando para a gente dançar.

Três mundos

Temo o outro vértice
Que separa os pontos de nós.

Lembranças de um cais

Velejei ao sabor das águas.
O meu pedaço mais feliz
Você escondeu debaixo da onda mais funda,
Onde não encontro.
O silêncio está em mim.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Coração covarde

Queria beijar-te os olhos
Fazê-lo sorrir novamente
Mas tenho um coração covarde
E medo das manhas do amor
Toquei violão,
Escrevi poesia,
Assisti a um filme,
Fiz caipirinha...

A noite foi boa, mas poderia ter sido melhor...
Deveras longa, mas poderia ter sido maior...

Revolta de Cronus

Quebraram meu relógio por brincadeira!
Preciso acordar,
Mas quero dormir.
A noite foi longa.
E já não tenho noção dos dias.
Uns tão distantes,
Outros me sufocando,
Em ordens invertidas,
Saltando acrobaticamente em minha mente.

Faz tempo que não encontro o sol pelas ruas.
O danado anda se escondendo de mim.
Sempre que acordo e saio à janela
Vejo que já se foi.
E espera eu adormecer para aparecer.
Deixando a lua de consolação.
Pelo menos ela me dá atenção e cada vez mais linda.
Iluminando meus dias insistentemente noturnos
E surpreendentemente produtivos.

É, pirraça.
Sumiram com os ponteiros,
Drogatizaram meu sono,
Seduziram-me em sonho.
Quando a cidade acorda,
Meu corpo amolece e uma magia me toma,
Me leva num transe quase profundo.
E eu durmo com o outro lado do mundo,
Enquanto o lado de cá acorda.

Cronus anda sempre bêbado,
De ressaca ou com enxaqueca.
Dorme mais do que deveria,
E levanta com mau humor.
Tenho medo de suas crises,
Que resvalam em mim muito fortes.
Fazendo-me relembrar os dias
Em que estive mais perto da morte.
Por um triz eu me salvaria,
Se não tivesse chegado atrasada.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Conselhos das ondas.

Tenho saudade das ondas,
De como elas acariciavam meus dedos,
Um por um.

Adorava o jeitinho que elas tinham de se aproximar,
Deixando um pedaço de si
E levando um pouco de mim.

Logo tomavam-me pelas pernas...
E o corpo não resistia.
Embarcava em um mergulho sem fim.

Deslizando pelos poros,
Suas águas sempre me diziam
Que o mar é doce, porém arredio.

Eu ouvia os seus conselhos
Como uma criança que teme o pai,
Mas o respeita antes de temê-lo,
E o ama antes de tudo.

O ioiô que sentia.

O ioiô que você lançou sem força
Ainda gira só para te agradar.
Tão empenhado com as cores,
Tece os caleidoscópios mais belos
Nas manhãs mais chuvosas.

Ele gosta de te ver feliz,
Saltitando sem maiores motivos,
Cortando o vento como uma flecha no ar,
Que arremete livre,
E leva consigo os segredos do arco.

Mas não pule tão alto
Que o vento te leva.
Tão leve!
Qual o som das risadas
Gastas sem meios pudores.

E é tão leve o seu pouso
Que dá vontade de aprender a voar.
Lançar ioiôs com a mesma doçura, sem pressa.
Vendo as cores se misturarem,
Refletindo os olharem que passeiam.

Não sei quais são os segredos,
Se é o brilho no olhar,
O reflexo das cores,
Ou os pingos da chuva.
Mas o ioiô continua a girar...

Rosto pomar.

Quem plantou essas jabuticabas em seus olhos?
Tinindo de tanto brilho.
Êta que é gostoso só de ver...
No seu rosto um pomar:
A maçã redondinha!
Primor da natureza.

Nossa Senhora,
Quanta beleza!
Os lábios caqui
Na tez de jambo.
A beleza da fruta.
Germinando em você.

Daqui imagino: Hummm!
Deve ser doce,
Saboroso!
Ai ai...
Salivei.
Que vontade!

Chora não, coração.

Arrume seu quarto, meu bem.
Eu te ajudo a dobrar as roupas,
A estender o lençol,
A organizar os livros.

Que tal tirar esses papéis da cama?
Trocar as fronhas...
Mudar os posters...
Reciclar os amores?!

Chega de tanta saudade,
De lágrimas velhas,
De corações murchos,
De sentimentos rotos.

Você tem um sorriso tão bonito,
Uma meninice tão sua,
E um carinho no jeito de olhar
Que não me deixa aceitar essa sua tristeza.

Chora não, coração.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Cada sorriso

Era uma mulher de muitos sorrisos
Quase nunca dissimulada
Quase sempre feliz
Sabia sorrir com os olhos,
Com o cheiro, com a voz.
Sorria por querer bem à vida
Por querer viver bem.
Driblava as angústias como ninguém.
Era dessas mulheres que fazem o mundo tremer quando acordam
E mudam o mundo a cada sorriso.

domingo, 17 de julho de 2011

Não suma, some.

É assim que quer somar?
Sumindo?
Por mais que somem sentidos,
Os sentimentos sempre somem
Se simplesmente somados.
Serão sempre sumidos,
Quando não somatizados...

Sentir sem ti não faz sentido,
Só me resta solidão.
Porque sumir?
Continue somando.
Só amando.
Já seria o bastante.
Mantenha a soma,
Esqueça o sumiço.

sábado, 16 de julho de 2011

Mais de Cora Coralina

"Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silencio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina".
Cora Coralina

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Um dia eu tive ciúmes do sol

Olhos mirando o céu
Refletindo o brilho sol, 
Cegados pelo clarão.
Vislumbrando um reinado distante.

Um astro presente.
Com todas as atenções voltadas para si.
Grande, imponente, intenso,
Magnético.

Quem nunca quis ser o sol?
Dominar o espaço,
Conhecer o infinito,
Comandar o tempo.

Lançar chamas para todos os lados,
Queimar sem dor,
Alimentar-se do próprio fogo.
Sem dormir. Sem se cansar.

Trepar com os cometas,
Seduzir os planetas,
Acariciar os ventos,
Amar as constelações.

Seu espectro amarelo ouro,
Sua alma cósmica,
Sua tez febril,
Estrela singular a encantar o universo.

Luz e calor para dar.
Energia pulsante,
Ardendo em combustão.
Pronta para consumir o que se aproximar.

Olhares romeiros

Não chore, garoto.
Ela nunca entenderia a sua dor,
Seu sorriso em sacrifício,
Seu olhar perdido.

Não é por maldade, garoto.
Ela pensa em outro
Que também não entendeu a sua dor,
Nem valorizou seu sorriso.

Quando olhares perdidos se encontram
Eles se gostam pela falta.
Identificam-se com o brilho turvo,
A retina castigada.

Mas, cedo ou tarde percebem
Que não são o destino quisto.
E logo se põe de volta à romaria
Correndo da mágoa que os fizeram surtar um dia.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Turbulência

Doeu ver seu beijo em outra face
Doeu ter na face outro beijo que não o seu
Doeu o virar da face
Doeu o beijo

O beijo negado
Vagando no rosto à procura de pouso 
Só encontrou desconsolo,
Turbulência e desilusão

Não sei mais o que esperar
Ou se me desespero
O coração está cansado
Triste, machucado.

Não queria me arrepender
Queria ter somado mais que um
Um número incontável
Qualitativo

Mas somei errado de novo
Índices e números nunca me favoreceram
E não seria agora
Que as minhas divagações iriam ajudar

Elas me levam longe
Onde você não alcança
Com sua razão mestra
E sua emoção ignorante

Pobre nos sentidos
Jamais conseguiria chegar
Onde os ventos acariciam
E sopram com ternura

Não insista na dureza
Ela te atropela com a mesma rudeza
E você nem percebe
Refém dos seus medos

Cambaleando por entre assaltos
Do seu próprio pensar
Teima em gritar
Para depois se esconder

Não adianta fugir
Não adianta correr
Um pouco antes de reagir
Respire e faça diferente

Pense no outro
Pense em você
No amanhã
Ou então no talvez

Na sedução do se
Na beleza do porém
No peso do apesar
No outro lado da face

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Incomparáveis

Não queria me arrepender daquele beijo
Mas esse desejo parece tão distante
Quanto o seu olhar quando digo que amo

Acesso seus lábios pensando nos lábios de outro
E acredito que esse tenha sido o meu maior erro
Buscar em pessoas diferentes as mesmas qualidades

Não gosto de comparações
E não vou fazê-las
Não por isso...

Vocês são mesmo incomparáveis.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Desilusões

Ela amava,
Mas sempre pisavam em seu coração
Com espora.
Arrastavam o calcanhar
Para lá e para cá.
Sempre cortando no mesmo lugar,
E sangrava...
Colocava sal (lágrimas)
Até cicatrizar.
A pele rosada, de tão recente,
Cobria a ferida da nova desilusão
E recobria os traços do velho e conhecido carma:
Ela amava,
E por isso era feliz.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Correnteza

Apaixonei-me por uma impressão.
Choveu.
E a água levou tudo embora.

Pesadelos

Um dia sonhei que havia morrido,
Mas não era sonho.
Morri.
Ou não consigo acordar.

As noites em claro,
Recorrentes,
Fazem-me pensar que não sou daqui,
Ou que preciso de um derivativo poderoso para dormir.

Um derivativo tão poderoso quanto a morte,
Mas nem tão sedutor quanto a vida.
Ou seria o inverso?
Poder, sedução, desejos...

Não, não preciso morrer.
Só preciso dormir,
Ou quem sabe acordar
Desse sonho ruim.

Sinestesia II

Os poemas que faço para você
Têm as cores da madrugada,
Tagarelam como seus olhos,
E cheiram a notas amadeiradas.

Pueris

Busquei-os sólidos,
Mas se desfizeram ali mesmo,
Na viela escura,
Ao sabor da noite sem charme.

Lembrei-me de desenredo,
Das suas putas tristes,
Das mocinhas enganadas,
E da solidão inadiável.

Superestimados,
Perderam o fôlego no pé da ladeira.
Antes eu continuasse acreditando
Que eram fortes e resistentes.

Chegariam inteiros,
E com sede de mais.
Mas não eram atletas,
Eram apenas bons atores.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Era um dengo só

Desfazia-se entre abraços, beijos,
E qualquer outra carícia.

Todos queriam ver sua boca se enlarguescendo num sorriso tímido,
E a maçã do rosto levantando os olhos que se encolhiam.

Miravam o chão tentando se esconder,
Mas não adiantava.

Todos sabiam que aquela dureza era uma farsa
E se desmanchava a qualquer afago.

Teimosas, suas sobrancelhas voltavam a se arquear,
Simulando um não acontecimento.

Adorava se enganar.
Deixava o medo sufocar-lhe.

Mas a qualquer toque que se aproximava,
A maçã se animava, sapeca.

Empurrava a tensão para fora do rosto 
E apertava os olhinhos enternecidos.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Depende mais da escolha ou da crença?

Sabe aquelas coisas que só existem para quem acredita?
A gente tem que escolher
Se acredita ou não,
Pra fazer existir ou deixar morrer,
Para fazer morrer ou deixar existir.
Ou nunca deixar existir.
Se a gente mata, deixa morrer ou faz morrer,
Se a gente vive, deixa viver ou faz viver.
Parece tudo a mesma coisa,
Mas não é.
E é bem diferente.

sábado, 2 de julho de 2011

Sinestesia

Você se cala
Mas não adianta
Tem olhos tagarelas
Que te denunciam

Sobre mim

Tenho um milhão de músicas para ouvir,
Mas não me canso de ouvir a mesma música um milhão de vezes.
Dizem que fui muito mimada,
Acho que não.
Só não sei explicar esse meu jeito de valorar as coisas.

Procuro um milhão de músicas
E acredito que um dia ouvirei todas elas
Escutando um milhão de vezes as que eu mais gostar
E quando me der vontade
Não adianta. Eu sou assim.

Explicação para o não poeta

Hã?
O que faço dos meus dias
Além de escrever poesias?
Vivo-as.

Com toda deferência à diferença

Alô, alô, alô...
Testando

Um dia eu quis um mundo
Tão confuso quanto eu
Com seres iguais a mim
Sem saber se definir

Amorfos e sem juízo
Rizomas enternecidos...

Sou um cronópio incompreendido
Uma criança travessa
A esperança sempre reencontrada
Mesmo na infância perdida

Acredito nos seres
Mas não duvido das coisas

Sonho muito
A perder de vista
E espero que um dia eles invistam
Também nas coisas sem sentido

São os sentimentos
Não precisam de explicação

Para quê: rádio, internet, tv,
Se se sente sempre sozinho?
A comunicação é mais imaterial do que se pensa.
E se materializa para além dos nossos pensamentos.

Nos quartos, salas, paredões,
Nos instrumentos, nos duetos, nas canções.

...Seres que se comunicassem como ninguém,
Que buscassem a todos,
E que quando os alcançassem
Voltassem aos poucos até ter consciência de si.

De si em si,
De si no mundo.

Cronópios incompreendidos,
Crianças travessas,
Esperanças sempre reencontradas,
Sonhando a perder de vista.

Não precisarão ser compreendidos
Serão sentidos.

Adoro brincar com as palavras!

Elas correm,
Às vezes eu pego, às vezes fogem.
Eu me escondo,
Mas elas sempre me encontram.

Quando estou ofegante
Acalmam,
Esperam,
Reanimam.

Respeitam minha solidão,
E me acompanham quando eu mais preciso.
Elas me ajudam a ser uma pessoa melhor,
Porque com elas conheço mais de mim,

Com elas eu choro, sorrio...
Extravaso.
E elas me respondem
Tão imprevisíveis quanto eu.

Adoro brincar com as palavras
Elas se deixam reinventar
Têm lá seus caprichos, são vaidosas.
Ainda estou aprendendo a lhe dar com isso.

Quando me incomodo, saio da brincadeira.
Mas elas sempre me convidam de novo.
Sabem que não resisto a uma ciranda.
Estendem as mãos e começam a cantarolar.

E lá vou eu brincar com as palavras.

Rajada: súbita, ininterrupta, violenta.

Acho que eu nasci com um defeito caro
Não me apaixono por pessoas
Mas por ações

Às vezes tudo parece tão transitório
Quase sempre solitário
Até que alguém faça algo novo
De novo
E eu me sinta feliz...

As pessoas fazem muitas coisas
Proporções bem maiores de ação
Muito mais possibilidades de paixão
Um dia essa minha gula ainda me causa uma indigestão voraz.

O bom disso é que não consigo ficar triste por muito tempo.
Aliás,
Preciso reconsiderá-las:
Rajadas homeopáticas de tristeza.
Voem para longe de mim.

Ambição

Reconquisto você ainda que eu precise conquistar o mundo...

Mapa de nós

Nos comparamos por contraste
A diferença encanta
A semelhança incomoda
O resultado engana
O mapa surpreende

In Natura

A natureza nunca me deu tanta atenção.
Lê meus poemas com carinho e paciência.
Quando gosta brotam sorrisos em sua face serena,
No seio da terra, no ventre do vento.
Do solo ao céu.

Sinais

Gosto do que os seus olhos me dizem
Quando você esquece a pólvora em casa;
Da sua mão desobediente
Que me acaricia sem perceber.

Viva o vento que sopra mansinho
E te arrasta para perto de mim,
E deixa sua voz grave soando baixinho,
Dengosa.

Como quem pede um carinho,
Fecha os olhinhos,
Dá tempo ao silêncio,
E cada poro responde.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Avariações internas

É feio...

Uma parede sem reboco,
A parte interna de um corpo,
Um coração despedaçado.

Preocupam-se com o design
E esquecem das engrenagens

Apesar de lindos e agradáveis aos olhos
Estão com defeito
Não funcionam direito

A capa só cobre
Embeleza, enfeita
Mas não sustenta nada

Reformam a casa
Rebaixam o teto
Cobrem de gesso

E vem tudo ao chão
Ao sabor das infiltrações

Preferem o banco de couro ao air bag
A roda de liga leve ao freio abs
Trocam o som, mas não olham o motor

Espero que depois da próxima curva
A música continue a tocar.
Hoje
fui
chuva.
Precipitei...
A loucura é sagaz.
Seduz,
Mas não atropela.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Até a vontade deixou de existir.

Nada existe sem ti,
nem os acordes tristes que dedilhei noite passada,
nem a madrugada fria que não me deixou dormir.

Parei no nosso último beijo,
na nossa nudez sobre a cama,
nas imperfeições do acaso.

As olheiras crescem
mais do que a saudade que me consumiu.
Nem vontade eu tenho mais...

Tem coisa mais triste que um sujeito sem ambição?
Não falo de riquezas ou títulos.
Falo da vida, do amanhã, do prazer.

Pensando em você

Não, não sonhei com você...
... pelo contrário,
não consegui dormir.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Modinda

A moda muda
A moda é muda
Amiúde...
Precisamos dela?
Prescindimos dela?
Que mistirófio!!!
São miudezas.
Magnânimidade murcha.
Megalomania.
Magazines,
Museus.
Meses,
Milênios.
Micro,
Macro.
Meso,
Média,
Moda.

Elação

Oferecia canções,
Agora afronta.
Fala com soberba,
Me intitula egoísta,
Fere.

Altivez.
À flor da pele,
(Ar)risca sua candura sem perceber.
Se o que queria era um beijo,
Bastava ter dito.

Não precisava ter "perdido seu tempo",
Nem ofendido o meu.

Infância

Pedacinho de flor
Filha do sopro mais doce do vento
Pétala
Corre, pula, salta, grita
Contempla a vida da sua forma mais bonita

sábado, 25 de junho de 2011

Antes que seja tarde.

Você não me conhece,
mas me desconserta.

A noite passada tinha seu nome.
O dia de hoje também.

Até agora não sei o que aconteceu
Se é que (não) aconteceu. Queria entender...

... mas é melhor que a gente se afaste,
Não quero pagar para ver o desfecho.

Começamos mal,
ou foi um fim sem começo.

Vaidade

Hoje alguns micrômetros de resina me impediram de sair de casa
Foram mais fortes que uma contenção no meu portão
Que algemas de aço em minhas mãos
Ou que a perda do molho de chaves.

Campo de força chamado vaidade
Temor da reação dos vulneráveis
Pânico da não reação dos vulneráveis
Metamorfoseei-me em um deles.

O mesmo infortúnio deixá-los-iam em casa também, eu sei
E talvez eu não dissesse nada,
ou dissesse...
Silêncio dos que notam e simulam não notar

Maldita tampa de caneta
Dentes frágeis
Micro falha estética
Mentes frágeis

Vou reabilitar meu sorriso
Alguns reais
Somados a alguns minutos
Pronto!

Como num passe de mágica
Amanhã acordo cedo
Tomo banho, escovo os dentes
E volto à banalidade.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Só hoje

Conhecer-te me fez mais frágil do que costumava ser
Reconhecer-me em ti me fez amar-me mais
E querer amar-te mais
Quis mudar, e me orgulhei do que sou.

Pensei que fosse vontade de retribuir
Mas descobri que isso é tão pequeno
Quando vi você chorar
E tive vontade de te cuidar

Cuidar por cuidar,
Sem contrapartida,
Por tempo indeterminado
Dar carinho, fazer cafuné

Quando digo que você me faz bem
Estou pensando em dizer te quero.
Sem cobrar nada de você...
Só você.

Para quem não queria nada.
Acho que já estou querendo demais.
Mas já ficaria satisfeita
Se deixasse eu cuidar de você só por hoje.

O único problema seria
Eu querer ler esse poema para você de novo
Amanhã,
E depois... e depois... e depois...

Os ventos de junho...

Nunca pensei em te dar carinho
Muito menos em te ver chorar
Nunca pensei em pensar tanto em você
Muito menos nessa vontade louca de te encontrar.

O mundo girou muito nas últimas 24 horas
Ainda estou meio tonta
E bastante confusa.
Sua voz ainda pulsa na minha memória.

Seus olhos em minha lembrança.
Seu perfume em meu vestido.
Não consigo dormir...
É intensidade demais para permitir o sono.

Eu peço para o cérebro parar de pensar
Mas ele não obedece
Coração interfere...
Será que estou a me apaixonar?

Foi tudo tão rápido
Sorrisos, confissões e agora lágrimas
Um furacão passou por aqui
Não dá para negar

O que vou dizer a ele quando voltar?
Que o feriado não foi dos melhores?
Que tudo mudou de repente?
Não sei...

Espero que os ventos se acalmem
E que a respiração retome seu ritmo natural
Mas, e se o coração continuar batendo mais forte?
Não sei...

É falta de sorte?
É medo da morte?
É medo da vida.
Feridas demais para curar...

... acho que nunca mais vou me apaixonar.