domingo, 28 de abril de 2013

Ainda sobre a saudade III

É difícil acostumar-se com a ideia de que não cabe tudo na mala: os amigos, o cachorro, a avó, os livros...
Tem quase um ano que estou longe de casa e nem usei tudo o que eu trouxe naquelas duas malas de trinta quilos. Confesso, muitas das coisas foram supérfluas, ou não serão usadas, ou não fará tanta diferença se eu vier a usá-las. Como eu aprendi o conceito de supérfluo contudo é uma lembrança bem mais útil: estávamos minha mãe e eu no mercado para fazer as compras do mês e eu sempre colocava no carrinho iogurtes, bolachas recheadas, salgadinhos, sandálias coloridas, refrigerantes, e depois minha mãe vinha tirando tudo me dizendo que era supérfluo. Muitas coisas nós levávamos para casa, mas não tem nada que eu me lembre mais do que ela me ensinando o que deveria e o que não deveria entrar no carrinho a cada compra.
Quando decidi vir morar em Bruxelas eu pensava que eu tinha ideia de como seria, mas na verdade nunca parei para tentar realizar como seria essa experiência. Geralmente não penso muito como vai ser o meu futuro, mesmo quando isso significa para o senso comum tomar uma decisão importante. Ainda não sei dizer se isso é bom ou se é ruim. Normalmente me sinto feliz, apesar da saudade que me consome...

sábado, 27 de abril de 2013

Estou tão feliz!

Vi um adjetivo cometer um verbo quando a minha felicidade se transformou em sujeito e sonhou contigo.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Nada demais a dizer, muito para considerar

E então somos nós
E não estamos sós
Gosto de pensar que te encontrei...

Confraria da luta

Iniciamos outra batalha e serão dias longos, 
A guerra nunca apresentou um fim tão incerto. 
Armem-se soldados, estejamos atentos. 
Não é necessário que sorriam sempre,
Mas não chorem tanto.
Valorizemos os nossos motivos.
O inimigo é a tristeza que se alimenta da nossa dor.
Viveremos o nosso luto, mas sejamos um exército forte. 

Possuímos bons instrumentos e não podemos ter pena de usá-los:
Sonhos, irreverência, boa vontade, criatividade.
O mundo carece de amor e de esperança.
Coragem!
Amanhã é um novo dia e precisamos estar a postos.
Não há tempo para a fraqueza,
Cada passo é decisivo.
E poderemos sempre bailar.
Coloque a sua música preferida para tocar,
Invente a sua própria música.
Desistir é proibido para nós.
E lembrem-se: Teremos sempre uns aos outros.
Viver é uma luta constante e não podemos parar.
Se o campo estiver minado,
Saquem suas asas.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

E quando eu acho que já vi de tudo...
... descubro que eu estava cega!

Eu que amo Berenice...


...ainda não consegui dizer para ela não ter tanto medo de ter medo. Ter medo é normal. É o mínimo para quem tem algo a perder e se sente ameaçado. Queria dizer para ela que não é ruim ter medo de escuro, de ladrão, de amores partidos ou bichos ferozes. 
Queria também dizer que eu admiro muito as manobras radicais que ela faz com a vida, o seu destemor às quedas, que nem chega a ser um destemor. É a crença maior na esperança de levantar, de aprender com a queda. 
Nossa... como eu amo Berenice. Tenho vontade de ficar observando o seu dia a dia, a forma com a qual ela reage às investidas mal torneadas do mundo. Seu sorriso ligeiro tomando a frente dos passos certeiros e também dos vacilantes. 
O tempo é doce com Berenice, as rugas na face, a flexibilidade limitada do corpo não tiraram a beleza dos seus movimentos. Ela paira no ar, "inventa jeito" de despistar as desilusões e dança assim mesmo, segurando no sofá ou com a bengala na mão. 
Ah, eu quero envelhecer "que nem" Berenice, saudosa da juventude, acreditando nos sonhos não realizados, contando mil vezes a mesma história com a mesma emoção, relembrando os amigos, silenciando os sofrimentos, valorizando os seus nós. 
Se Berenice não existisse eu a inventaria, para alegrar mais o mundo, para eu descobrir o valor das utopias, para eu acreditar nos homens. 
Berenice, contudo, receia coisas que eu também temo: que os homens não se conheçam e lutem sempre com seus fantasmas. Guerreando sem consciência da morte, arriscando a vida por nada, destruindo quadros que não poderão mais ser pintados, momentos que não poderão mais ser vividos. 
Não gosto das antecipações de Berenice. Quando ela teme eu temo em dobro, pelo temor e por ser ela quem teme. E não entendo quando ela tem medo de temer. O temor de temer é rio sem fonte que nos afoga na primeira braçada. 
Eu que amo Berenice, amo mais quem a inventou. Seria inumano restar imune à tão curiosa invenção. Nada é mais apaixonante que a humanidade à procura de Berenices.