segunda-feira, 25 de março de 2013

Aurora

De frente para o mundo
Ela olha a versão primeira da fantasia
Os pingos da chuva encenando entre as nuvens
O vento seguindo em sua coreografia inexorável
O movimento das folhas descortinando o dia
O frescor da noite acariciando tudo

Ela sobe no céu para acender o sol
Observa de cima o despertar das formigas
E desce com calma pensando nos seus afazeres
Hoje seria um dia de coincidências
Planejava os caminhos daqueles dois
De modo que eles só fossem perceber depois


quarta-feira, 20 de março de 2013

Agora, olhando para a mesma parede branca que me inquire cotidianamente, penso:
"hoje é um bom dia para recomeçar..."

Ainda sobre a saudade

longe é onde eu queria estar hoje,
porque as pessoas que eu mais amo estão lá...

terça-feira, 19 de março de 2013

Raiva

Quando alguém quiser me defender de alguma fofoca nunca diga: "mas ela é incapaz de fazer isso com alguém...". Não que eu queira dizer que sou boazinha, mas essa frase tira todo o mérito de mesmo "sendo completamente capaz" de fazer ou não alguma coisa, eu posso optar por não fazer algo que considero errado ou fazer algo que considero certo. Nem tudo no mundo são fatalidades, e ainda acho que as escolhas são mais frequentes. Sem falar que gosto de surpreender.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Plágio ainda não consentido

"...não precisa ter conversas reveladoras todos os dias, não precisa ter programas incríveis ou novidades excêntricas. O que nos basta é saber que somos para sempre, que somos um encontro, que a amizade por si só se basta..."

Tem gente que fala pela gente, e aí não temos muito o que dizer a não ser aquilo que o outro já disse.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Xenofobia

Como é difícil andar sozinho a noite, pai;
Olhar para o lado e ver que eles me temem, pai;
A cor da pele e do meu cabelo, pai;
E também o meu sotaque estrangeiro, pai.

Minha cultura é vista como suja, pai;
O preconceito é latente e velado, pai;
Se manifesta logo ali do lado, pai;
Latinos e africanos são escanteados, pai.

A manifesta violência é rija, pai;
E se fantasia em pequenas muralhas, pai;
Há também as forcas e mortalhas, pai;
Quem não se pintam nem se vestem a face, pai.

Pai,
Afasta de mim esse medo, pai;
O  ódio e a desconfiança, pai;
Os julgamentos, a repugnância, pai;
A aversão e o desejo de sangue.


domingo, 10 de março de 2013

Mãe, eu queria ser poeta

Ler durante a madrugada,
Dormir de dia,
Embriagar,
Escrever,

Eu queria sentir a lua
Se levantar pela minha janela,
Enquanto eu a descrevia
Em minha narrativa estupenda e vadia.

Queria acompanhar-me da solidão dos poetas,
Que fazem coisas exóticas em noites frias,
Que fazem coisas banais em noites frias,
Mas todas elas com poesia.

Eu queria amar como um poeta,
Demonstrar meu escárnio na falta de rima,
Sofrer em cada sílaba,
Corresponder todos os amores,
Sem nunca enterrar o amor não correspondido.

Eu queria morrer como um poeta,
Vícios, melancolia, cores, nostalgia,
Uma leitura equivocada do mundo,
Sob o canto dos mandarins.

A chuva na cara,
Um girassol na lapela,
Cartas para desconhecidos
Na garupa da bicicleta.

Não tem coisa melhor no mundo que vida de poeta,
Desafiar a ordem natural das coisas,
Viajar em campos desconhecidos,
Querer terminar como aprendiz.

Ah, se um dia eu for poeta,
Eu vou fazer uma poesia sobre um trajeto que eu fazia,
De como eu arrancava a flor da graxeira que ficava do lado da igreja
E entregava para minha avó todo dia de tarde quando eu voltava da escola.

Não rimas da madrugada

Saliva,
Língua,
Lábio,
Lua,
É mais que metalinguagem,
É o desejo escorrendo pela boca...

sábado, 9 de março de 2013

Sina

Eu sou uma meta inatingível,
Inalcançável, inacessível,
Em vão me esforço, não consigo,
Estou logo ali do lado.

Sei-me impossível
E isso me alegra,
Uma oportunidade na crise,
Um desdobramento inconvicto.

Há um espelho que reflete em minha direção,
E chega a ser risível,
A tangente do meu eu
Sorrindo à espera de mim.


quinta-feira, 7 de março de 2013

Eu Crusoé

Nossos não ditos me sufocam,
Guardamos as palavras mais sábias
Com medo das que outrora pronunciadas
Pareçam bestiais a nós que juramos tanto.

Estamos nos despedindo sem dizem adeus,
Chorando nos cantos, maquiando as olheiras,
Dissimulando uma indigestão que começa a doer
Mais fora de si do que dentro.

Também quero largar as muletas
E retomar minha juventude num salto imprudente,
Sorrir para toda gente,
Viajar sem mapa.

Ontem sonhei que dormia e acordava sozinha
E sorria,
Mudava de rumo várias vezes ao dia,
Conhecia coisas novas e escrevia.

Sem ninguém me seguir, eu ia,
Sem ninguém me pedir, eu dava,
Sem ninguém me ver, eu fazia,
E aquilo me preenchia.


terça-feira, 5 de março de 2013

Tomates e maçãs


Meu Deus, perdoe a minha ingratidão. Quantas vezes olhei para o céu e não tendo do que reclamar não fiz esforço para agradecer. Quando tudo vai bem a gente nem nota, normaliza o que tem de melhor todos os dias, e é preciso acontecer algum imprevisto que nos "tire" do conforto para que possamos dar valor a tudo que temos. Quantas vezes pensei em dizer: "obrigada meus Deus pelos meus sentidos perfeitos" e não disse!
Quando pensei em escrever esse texto, a primeira ideia que veio em minha cabeça foi: "que saudade de fazer as coisas mais banais como escovar os dentes, pentear o cabelo, tomar banho, cortar um tomate, ou até mesmo dormir sem sentir dor ou sem tanta dificuldade..." mas seria mais uma reclamação do que qualquer outra coisa.
Hoje uma limitação física na mão direita me incomoda bastante e me traz na lembrança momentos não muito distantes em que tive medo de perder a visão. Não pretendo supervalorizar um problema, pelo contrário, quero chamar a atenção de vocês (e a minha) para que sejamos mais gratos e percebamos como é bom poder se locomover nas ruas com liberdade, saborear uma sobremesa que a nossa avó faz com carinho, sentir o perfume de uma pessoa na rua, ou até mesmo o odor desagradável de uma comida estragada, dar risada e conversar com os colegas, admirar o por do sol, sentir em cada poro o mergulho quando se entra no mar, escutar uma música que você gosta, poder cantar, dançar, tocar e todas as outras coisas que fazemos cotidianamente com "normalidade" sem valorizar cada uma delas.
Em 2005 escrevi um texto no qual eu falava da magia de reconhecer algo positivo em nossas vidas sem precisar reconhecer anteriormente algo de negativo na vida do outro. Vou tentar ser mais clara: que tal tentarmos agradecer por ter o que comer sem que para isso precisemos nos comparar àqueles que tem fome; ou agradecer o lugar onde se dorme sem antes pensar nas pessoas que não o tem. A ideia parece egoísta, mas no meu entender vai muito além disso.
Não é agradecer o pão por temer a fome, ou o agasalho por medo do frio, nem o amigo por medo da solidão. Esse é um convite a começar a perceber a vida como pequenos orgasmos que se dão continuamente. A acordar e se espreguiçar na cama ocupando todos os espaços e se dando conta dos ossos, dos músculos, dos órgãos, da respiração. Agradecer como um ato de entrega a si mesmo.
Não é temer o oposto ou a falta. É a ideia de agradecer sem contrapartida, sem precisar se projetar na dificuldade do o outro, ou seja, potencializar o seu agradecimento com relação ao prazer que aquilo te traz, o agradecimento sem culpa, sincero. Porque na verdade um agradecimento pode passar pelo medo de não ter algo que se tem ou que se visa a ter, pela perda ou pela não conquista; ou pode simplesmente ser resultado de um reconhecimento "involuntário" e "inconsciente" de algo que você gosta. Como acordar e simplesmente sorrir porque está vivo.
Não fosse o meu dedo enfaixado me gritando o quanto eu me contradigo neste texto eu seria cínica. Mas prefiro agradecer também à minha contradição. É bom poder ser contraditória e encontrar razão nas contradições, porque ambas me fazem sentido. Sim, quero meu dedo de volta, quero fazer de novo as coisas banais sem dor ou dificuldade, quero cortar meus tomates, porque não quero comê-los como se fossem maçãs; quero lavar a louça com as mãos, mesmo tendo máquina de lavar em casa. E quero também agradecer mais, inclusive por aquelas coisas das quais eu nunca senti falta, daquilo que talvez eu nem saiba que eu tenha, mas eu quero agradecer. Agradeço o querer. Ainda que por vezes sem poder; desejar talvez seja uma das maiores conquistas do homem. E hoje só o que eu desejo é agradecer.

Em caminhar


O caminho era feito de pedras
Umas menores
Outras nem tanto
Amontoadas
Gritando direções.

domingo, 3 de março de 2013

Meus poemas perderam o sentido
Tento pensar em outra coisa, não consigo
Sou poeta de um tema só
Amor não correspondido.