quarta-feira, 29 de julho de 2015

O melhor carinho do mundo

Desengonçado entre meus dedos, seu rosto;
O cerrar das pálpebras me davam sua entrega.
Duas janelas por sobre os cílios.

Por um pequeno instante, minha...
Era minha a graça, o privilégio de te afagar,
Desenhar em sua face movimentos disformes,
Admirar seu sorriso, boba,
Sem conseguir concatenar ideias,
Nem precisar me cercar de certezas.

E aí então eu também ria
Com todas as borboletas que decidiram me visitar
                                                                  [nesse inverno,
Vieram morar em minha barriga.

Logo eu, casa,
Morada das borboletas.

Plantei em meu coração uma rosa
Que seduzia esses bichinhos voadores.
E brincavam nos jardins das casas
E brindavam o possuir de asas
E me faziam cultivar flores
E regar amores.

domingo, 26 de julho de 2015

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Um sim em som

Depois de dois anos, escutar a sua voz em cantoria me traz lembranças tão boas. Seus tons são doces, seu som me abraça, contudo "naufraga o cais, bem perto do porto, na porta do quarto e sai tão só". Padecemos do mesmo mal, meu bem, e sinto chamar-te de amigo. Poderia te chamar de amor, pois o amo e sabes disso. Gosto do jeito que você me olha, do carinho que você me dedica, do seu toque, seu cheiro, seu falo. O nosso erotismo é belo, intenso, sutil. Lembro do beijo que te roubei, do primeiro. Sua barba mal feita arranhando o meu rosto, seu dedilhar em minha cintura, seu eregir. E a gente sorria, como criança que cai no meio da correria. Pensávamos que seria o último, mas não seria. Apesar de afirmar que nos encontramos, de lá para cá foram tantos desencontros. Entre partidas e enlaces nos cuidamos, amamos, afastamos, enciumamos, humanos. Essa simplicidade em compreender nossa tara traduzida em risadas e zomberia não é só mais um jeito de disfarçar a heresia, é amizade, é tesão, é verdade. Ainda guardo o cântaro que você me deu.

Operações catárticas

Guarde para mim um carinho só 
Que se destaque do seu medo
Onde você se esparrame sem pressa 

Deixe o meu olhar repousar em seu sorriso 
Tímido e frágil como um brinquedo 
Para que eu me perca sem volta 

A gente aconteceu por acaso e foi bom 
Sair da rotina, poesia sem rima, canção sem refrão, 
Gosto das suas oscilações e odeio a sua antecipação
Me cala, me fere, me silencia 

Queria sonhar um dia nosso espaço 
Amortecer nossas quedas em abraços 
Feito redemoinho, ventania, tufão 
Areia jogada ao vento no meio do furacão 

Mas o longe nos habita, nos impossibilita, 
Nos traga entre os quilômetros dessa estrada amarga 
Entre o sertão e o mar 

Somos pássaros sem ninho ensaiando vôo
Perdidos no tempo
Engolidos pela velodidade 
Subestimados pela aceleração 

Qualquer um diria que foi rápido demais 
Mensagens, telefonemas, crises, jornais
Literatura barata, poesia marginal 
Branco no preto, o bem e o mal 

Desejos e brincadeiras conjugaram juntos verbos intransitivos 
O amor nasceu, cresceu e morreu prematuro, 
Não transitou pela infância, 
Não escutou discos,
Nem arranhou os joelhos.

Sinto não ter sentido o calor da sua respiração, 
a doçura do seu toque, 
o frescor do seu perfume. 
Lembranças que criei enquanto te conhecia 
E sem saber te queria. 






Acordou-me do sonho

Do pequeno calo em seu lábio superior,
me lembro,
textura, temperatura, ardência...

Sabor de guardado,
o beijo molhado acompanhando o seu olhar assustado.

A tarde era fria em Minas Gerais, os arrepios, os deslizes, os não-ditos,
Vi tudo em que acredito se desfazer entre os nossos corpos e as cobertas,
Deitei-me em seu colo,
Chorei
e dormi.

Já acordada,
a luz na sacada nos lembrava que a noite chegava
E junto com ela a realidade ainda mais fria e calada.

Seu sorriso lindo e triste me encantava,
Eu não entendia, mas admirava.
Esperançava o nascimento de um amor que logo se acabaria,
O sol se pôs, a lua se foi, já era dia.
Acordou-me do sonho.
Restou-me a saudade, o desejo, a lembrança, a fantasia.

Tudo que é líquido desliza em seu corpo.

Ter-te em meus lençóis,
detalhes,
Sentir teu cheiro,
texturas,
Conversas nuas,
Águas da sedução.
Muitos grãos desenham o mar,
Oceano de devaneios,
entrenãos,
Dúvidas, conversas dúbias,
Desejos,
Sorrateiros,
Tantos medos cobertos pelo mesmo luar,
A distância impede, os lábios pedem, o beijo,
o cerrar dos olhos, a mão na nuca,
Maluca,
Diz que sou,
Mas sem desviar o olhar,
Sem me perscrutar,
Sem me desejar.
E depois desdiz,
Como quem não fez,
Como quem não quis,
Como quem não come,
Quem não tem fome
de amar.