quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Enquanto você não vem

Tão lindos esses lábios torneando o sorriso seu
Adorno perfeito que acompanha o par de olhos negros mais impuros que já desejei
Tempo meu, te inscrever em corpo, carne, sonho em versos meus
Castos e não menos impuros

Deita nos beijos meus
Deixa que os meus acordes te acordem
Nas manhãs de domingo
Ensolaradas, atravessadas pelos gritos meus
Que atirei aos céus nos dias em que você não me pertenceu
Você me faltou

Estamos em plena luz
E faz sol em mim
Derrama-te em braços meus
Que o sofrer já desdenhou demais de nós
Nem precisa dizer que vem
Só chegue sem fim

Corra comigo pelas tardes de verão
E teremos paz no inverno
Calmarias que nunca tivemos
E que não precisamos ter se não quisermos
Temos vontade de sobra e amor demais

Então vem, meu bem, deixa o que te pesa para trás
Vou te desenhar em ritmos sincopados no pensamento
Nessa primavera as estrelas vibraram com o som do vento
Eu vou tatuar minha voz nessa canção
Já choramos demais em vão
No outono eu pago para ver
Não me deixe à espera nessa estação
Nosso trem não tem hora certa para partir

Temos vontade de sobra e amor demais

domingo, 15 de dezembro de 2013

A flor do meu jardim

Nasceu uma flor tão linda do meu jardim
Que eu queria tê-la sempre perto me mim
Passava todos os dias por ali
Imaginando uma maneira de colhê-la para trazê-la comigo
Ficava horas sentada admirando-a
Em busca do pensamento certeiro que me desse a chance
De poder tê-la comigo em todos os lugares aonde eu fosse
Mas um dia eu percebi que se eu fizesse isso ela iria morrer mais cedo
E eu não poderia mais tê-la de jeito algum
Mas era tanta beleza que eu continuava indo ao jardim
E com o tempo eu percebi que eu não queria só a flor
Mas que eu gostava de ir ao jardim
De imaginar como ela teria passado a noite
De me preocupar com o seu perder e renovar de pétalas
De entristecer na partida e ansiar a volta
E um dia eu sonhei que quando eu chegava no jardim
A flor se transformava em uma canção que saia voando sobre mim
Não entendi
Mas no dia seguinte quando cheguei ao jardim e não a encontrei
Senti-me triste, chorei
Até que um passarinho cantou lá do alto do seu ninho 
E olhou para mim
Ele tinha a mesma cor da flor que eu adorava
E aí então eu percebi que eu a amava,
Mas ela não me pertencia
E à medida em que ela não me pertencia, eu a amava um pouco mais a cada dia. 

sábado, 7 de dezembro de 2013

É impulso e também por isso é verdade

Escrevo em segredo
Trago no peito um coração faminto
Cheio de boas lembranças e sedento de carinho
Arrisco muito pois não tenho tempo para me precaver
Se a pupila dilata, se as pernas vacilam, se eu me arrepio
Não encontro razão para esperar
E escrevo, e falo, e canto
Transbordo de desejo
Olho em teus olhos, te amo em cada respiração
Te amo em meus sonhos,
Te amo em meus pensamentos,
Te amo em meus planos,
Em todos os meus exageros e também nos meus silêncios
As horas vagas do dia em que me perco pensando em você
As horas ocupadas do dia em que viajo pensando em você
As horas interditas do dia em que eu transgrido pensando em você
Plantei um castelo de sonhos no mar dessa paixão
E dele colho frutos todos os dias
Enquanto te quero, enquanto te busco, enquanto te espero
Enquanto me permito um encontro com à vida
Você me faz bem
E eu quero mais do que te retribuir
Eu quero te amar e te fazer sorrir.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Um amor quase impossível

Será destino dos amantes
Vida de navegante
Sol buscando o mar

Olha o flerte do céu com o luar
Não cabe no horizonte
Não podem se encontrar

A trama, o drama, a dor
O amor
A areia sob as ondas
Vem me acariciar

Venha cuidar da nossa chama
O tempo não reclama
Se não estamos sós

Me dê a tua mão
E deixa eu te contar
Que a vida é grão e flor do amor que existe em nós

A trama, o drama, a dor
O amor.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Mons

Tocam os clarins
Em sol
Ruborizam-se as texturas
Mimetismos do arrebol
Confundindo as estruturas
Manhã de outono
Folhas no chão
Desatentas
À troca das estações...

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Um abraço que atravesse o atlântico

Em minha ausência e impotência
Faltam palavras, falta a presença
Não digo muito, por não haver o quê
Gostaria contudo dizer que penso em vocês
E espero que encontrem algum conforto e serenidade para seguir em frente.
https://soundcloud.com/anasantos-6/travail-de-deuil

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Você está lá...
... Onde a minha visão não alcança
De onde a lembrança não sai...
... No seu sorriso de criança
Meu pensamento se distrai....


Trago no peito um coração aflito que chama seu nome a cada batida,
trago na memória a lembrança recente daquela nossa despedida,
faltaram palavras, sobrou carinho, 
tanto amor, tanta incerteza, 
uma tortura ter que ir embora, 
a partida não cabia em si, 
pensávamos no reencontro
suas lágrimas me angustiavam, 
nem a noite nos acalmava...

Não sei se calo, não sei se conto, 
mas cada carinho que te fiz, 
cada olhar que te dediquei, 
cada abraço que senti, 
cada beijo que te dei, 
foram todos insuficientes, 
você é meu pensamento mais recorrente: 
te amo, te chamo, te quero, te espero, 
seus olhos, seu cheiro, seu tato, seu calor,
nosso jeito louco de conjugar o amor. 

A lua é cúmplice, 
E como quem faz uma profecia, 
Eu que evito promessas e não sei jurar,
Prometo, daqui, sozinha, nessa noite fria, 
trazendo na memória a lembrança recente daquela nossa despedida, 
trazendo no peito um coração aflito que chama seu nome a cada batida, 
Que em breve terei todos os seus mistérios no meu paladar.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Encontros

Adoro chegar do bar com o porta copos cheio de notas no verso
e também com a nota cheia de versos e portas...

sábado, 28 de setembro de 2013

Valei-me, Nossa Senhora das Rimas dos poetas apaixonados

Bate no meu peito 
Uma saudade, um samba, 
Uma vontade sem fim 
De ter você perto de mim 

Tanto tempo sem o seu calor, 
Seu abraço, 
Não sei o que faço 
Se você não vem. 

A quem vou recorrer?
Já tentei poema, música e oração. 
Já tentei te esquecer 
Mas também não deu não. 

Na madrugada me beija,  
Me acorda, me deixa
Perturba o meu sonho 
E ainda quer ter razão. 

No dia seguinte me atenta, 
Sorri do ocorrido, 
Doma meus sentidos,  
E eu não posso não. 

A quem vou recorrer? 
Já tentei poema, música e oração. 
Já tentei te esquecer 
Mas também não deu não.


terça-feira, 20 de agosto de 2013

Ilusões de palhaço

Trago no peito um afeto
Desses de sujeito malino,
Que vive bulindo nas coisas,
Inventando arte,
Mexendo no que não é da sua conta.

Vira e mexe encontro coisas valiosas,
Das quais custo me desapegar,
Abraços longos,
Beijos roubados,
Sorrisos banguelas.

Vez em quando me sobram perguntas,
As quais não sei responder.
Não por questão de dicionário,
Tampouco de conhecimentos gerais,
Perguntas infantis, quase banais,
Do tipo que se faz pensar, mas não se deixa responder.
E a criança me olha, insiste:
- Como você faz para não ficar triste?

Jamais direi que estaria a fingir,
Destruir o sonho de uma criança
Que acredita nos palhaços?
Nunca!
Gargalho sem parar enquanto ela escuta...
Ainda bem que memória de criança é curta.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Tensão

Aquele momento em que há muito silêncio no ar
O céu escurece
E a terra se prepara para receber a chuva...

sábado, 10 de agosto de 2013

Ainda sobre a saudade III

Saudade é cupim nos meus tecidos
Roendo cada fio,
Deixando buracos nos pedaços de malha,
Nas carnes de brim, nos cortes de veludo.

Saudade é auto-boicote
Tortura a memória,
Não deixa a criança brincar,
Tornando os dias discretamente chuvosos.

Saudade é âncora que não fixa nas pedras,
Deixa o barco à deriva,
Ao sabor das ondas,
Ao béu prazer das marés.

Saudade é sintoma de doido,
Divide a pessoa em muitas metades,
E não as deixam se unir,
Sempre falta uma parte.

Saudade, bicho indócil que me corrói,
Não te desprezo pelo estrago que faz,
Esvazia o meu templo mais seguro,
O meu melhor me falta.

E é o que você consome,
Que me destrói e me consola,
Os meus pedaços mais nobres
Ficam entre amigos.


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Tenho mais que saudades tuas

De tanto querer,
Sonhei com você,
Seu rosto, seu cheiro,
Seu carinho, seu abraço,
Seus olhos abrindo espaço
Dentro de mim.

Seu sorriso, seu corpo,
Sua mão em minha nuca,
Me deixando maluca,
Seu feitiço em mim.

Seus lábios, sua voz,
Pescoços, fluidos, nós,
Meus poros em fuga,
Sua língua tuga,
A me deixar confusa,
Embolando, pois...

Em vão, desato,
Procuro o seu tato,
Te busco em meus sonhos,
Alegres, tristonhos,
Me entrego sem ver,
Procuro sem ter.

Estou a sentir falta
Dos seus olhos colonizadores,
A me fazerem escrava,
Sem senzala ou feitores,
Apenas com uma mirada,
Impiedosos, predadores,
Simplesmente
Não me deixaram ir...





domingo, 7 de julho de 2013

Eu chafariz

Descobri-me uma fonte de excessos
Nada do que jorra é sobra
Tudo me pertence
E cada parte me constrói

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Moradas

Tem gente que mora com a gente,
Almoça junto, dá boa noite, ajuda nas compras...
Tem gente que mora na gente,
E de noite ela vai pra dentro do travesseiro que a gente abraça na hora de dormir.

sábado, 15 de junho de 2013

Obrigada, revoltosos!

Obrigada, "revoltosos".
Respondo ao Jabor, "o que provoca o ódio tão violento contra a cidade?": a corrupção, o desrespeito com o dinheiro público, a segregação social, uma constituição social que não é posta em prática, a manipulação midiática. É claro que não é o ódio contra a cidade. "A cidade" aqui tem outros nomes, são as políticas de higienização, o desprezo com a educação pública, a angústia com a saúde pública, a vontade de fazer do país um quintal de poucos.
Claro que não é só por causa de um aumento de vinte centavos na tarifa do transporte público. O problema é o “público” em geral. Ou melhor, o privado. A privatização de um país onde o governo do Estado não representa a nação, o seu povo. Povo que está cansado há tempos e que ainda assim é rotulado de preguiçoso, de passivo. Povo que se faz de herói todos os dias para lutar contra uma estrutura perversa que o mastiga em diversas esferas e o rumina sem previsão para uma digestão. E é uma indigestão tão clara quanto a afirmação de que a mobilização do dia 13/06/2013 em São Paulo foi uma mobilização de "filhos de classe média", dizendo que é óbvio que "ali não havia pobres que precisassem daqueles vinténs". Mas é evidente, os pobres morrem nas favelas, nas periferias, na calada da noite, ou escancaradamente nas filas dos hospitais, das creches, das escolas públicas, da seguridade social, nas penitenciárias. E é exatamente por isso que foram arbitradas fianças, porque existe uma expectativa mínima de que os que podem pagar paguem. E assim tem sido a vida no Brasil: quem pode pagar tem educação, saúde, lazer, moradia, segurança, liberdade... ou seja, os direitos sociais são literalmente muito caros! E não é todo mundo que pode pagar.
Os policiais não são os vilões da história, concordo. Apesar de toda a violência, de toda a truculência, de toda a brutalidade, de toda acefalia das políticas de segurança pública do Estado de São Paulo (e dos demais em sua maioria) não podemos ser só irônicos e dizer que "os mais pobres eram os policiais ameaçados com coquetéis molotov". Num país em que o Estado institucionaliza um salário mínimo que chega a ser 500 vezes inferior ao salário máximo INSTITUCIONALIZADO, sem falar dos rendimentos/empreendimentos "particulares", muitas vezes subsidiados com dinheiro público, licitações fraudulentas, etc, ainda assim a ironia com a ficha salarial dos policiais não pode justificar tamanha violência. Violência contra os princípios de um suposto "Estado democrático de direito" em que uma mídia socialmente irresponsável acusa movimentos sociais de viverem no "passado de uma ilusão" através de uma "caricatura violenta"; violência em dizer que esses "revoltosos não valem 20 centavos". Violência de uma mídia que pensa tudo poder dizer de qualquer jeito, manipulando informações, omitindo e inventando, distorcendo, aterrorizando. Não falo aqui de imparcialidade, porque não sou mais tão ingênua, mas não consigo restar imune ao ouvir esse tipo de declaração de um “formador de opinião pública”. Sim, é uma merda o que a polícia está fazendo, mas é uma estrutura que vai além da força policial. O terror e a violência chocam muito pelo sangue, pelo medo, pela dor, mas não podemos negar que os policiais também são vítimas. Arriscaria a dizer que o Jabor também é uma vítima dos micro e macro sistemas que se (re)produzem em relações de poder, desde às empresas têxteis internacionais que exploram o trabalho infantil, às redes de supermercado que mandam matar os meninos de rua do seu bairro. Temo o dia em que eles tiverem a brilhante ideia de conectar os seus dois neurônios e escravizar os meninos de rua para produzir as suas roupas de grife. Isso é uma caricatura violenta talvez quase tão real quanto as imagens que vi dos confrontos entre a polícia e os manifestantes.
Seria excelente se não precisássemos passar por isso, mas isso é também muito bom, e não tem o mínimo de sadismo nessa minha fala. É um momento delicado, mas também muito importante para o país. Apesar de ser extremamente revoltante ver as pessoas apanhando, sem poder se expressar, sendo reprimidas de maneira tão violenta, às vezes penso, “queria muito estar aí”, “ir para as ruas”, “manifestar juntos”, mas por outro lado penso, "e se me matassem", "se eu ficasse cega", "se a polícia me batesse"... Não sei o que fazer. Queria conhecer pessoas "grandes", ter "dinheiro", ter "poder" para poder agir segundo a minha vontade e “resolver” isso de uma maneira menos dolorosa, mas seria mais uma tirania, apesar de toda a boa vontade que eu imagino ter. Seria mais um processo ilegítimo. O que está acontecendo hoje no Brasil faz parte de um processo pelo qual precisamos passar. Apesar de acreditar que os policiais são despreparados, que eles estão usando muito mal a força, que eles estão armados e que apesar de terem sido constituídos policiais para servir e zelar pela segurança da população, entendo que eles podem ser perfeitamente perigosos para a população, mesmo não estando juridicamente autorizados para sê-lo. Não consigo me desapegar da ideia de querer estimular a todos a participar das manifestações, de ir às ruas, de se mobilizar, mas também não consigo parar de pensar nos riscos iminentes/explícitos de violência. Por mais que eu queira, tem algo na balança que me pede para também dizer "por favor, se proteja"... e eu tenho a consciência de que esse é um medo legítimo, grande, real e também de que a causa é nobre e precisa que sejamos muitos e que estejamos unidos. Sim, eu queria ser um super-herói, levar tiros e não morrer, poder me desviar das balas com uma velocidade supra-humana, suportar violências insuportáveis, mas também penso muito na "integridade" dessas pessoas "agredidas" e me preocupo quando penso que muita gente boa pode morrer e sofrer diversos tipos de violência, dentre os quais amigos e conhecidos. Não quero ver fotos de seus rostos desfigurados correndo pelas redes sociais. Por mais que seja grandioso pensar em tudo isso, que estejamos morrendo e sendo violentados todos os dias, que estamos longe de ter a nossa integridade respeitada pelo Estado brasileiro, confesso que prefiro ver vocês ilesos e sei que isso não se confunde com apatia política. Sei do potencial e consciência política de todos, sei que muitos estão indo e irão às ruas. A esses, peço que tentem se proteger ao máximo com roupas grossas contra as eventuais balas de borracha, lenços para as balas de efeito moral, o criminalizado vinagre para amenizar o efeito do gás lacrimogênio, água mineral para lavar e hidratar os olhos e paz, muita paz. A "manifestação" está sendo feita em vários outros níveis, principalmente no dia a dia, com um olhar mais sensível a coisas que temos banalizado ou desacreditado. Espero que isso seja um despertar para um Brasil melhor, espero que tenhamos o mínimo de pessoas feridas e o máximo de pessoas sensibilizadas... estou com um aperto indescritível no coração e na mente, já discuti tanto isso em outras oportunidades, em eventos, trabalhos, textos, provas, mesas de bar, passeatas, etc... mas o que me acomete hoje é um misto de impotência com esperança indescritível, uma vontade de GRITAR para ver se alguém me escuta!!!!! Sinto uma angústia muito forte ao pensar que ainda precisamos cruzar tantas fronteiras para pensar um país menos tirano. O coquetel molotov sou eu: amor, ódio, esperança, revolta, impotência, vontade de mudança. Acredito contudo que isso tudo que está acontecendo no Brasil vai ser um despertar consciente. Vamos juntos!

terça-feira, 4 de junho de 2013

Sedutor

Eu daqui te mirando com meus olhos de garça,
Você vê e disfarça,
Se faz de sem graça
E sorri como quem entendeu tudo
Olha para baixo por um tempo quase nulo,
E se volta para fisgar os movimentos involuntários em meu rosto,
A boca contrai, a pupila dilata.
Não sei bem dissimular
Arrumo o cabelo,
Passo a mão na testa,
Tiro um cílio inexistente do canto do olho buscando voltar,
Mas me perco em seu sorriso,
Que já tão perto de mim me traz mais confusão
Não é só você que se aproxima,
Uma energia incontinente me arrasta para os seus lábios,
Não vejo mais nada,
Todos os sons se misturam em um ruído não identificado
E você se encosta ainda mais e toca meu rosto com uma ternura desnecessária
Para quem quer apenas falar ao ouvido e evitar os barulhos do bar
E procura a sua voz mais doce para nem falar tão alto,
Eu não entender faz parte do jogo.
Se aproxima ainda mais
E seus lábios me tocam
As pessoas até pensariam que era para ser sem querer,
Mas sua mão possuindo o meu rosto de um lado
Conta mais segredos que a sua boca do outro
Em vão eu resisto,
Sua outra mão me toma pela cintura,
Já não consigo contar quantas mãos você tem,
Cada uma delas cheias de tanta vida, quentes,
Deslizando em meu corpo o lendo em braile,
Os poros respondem,
Sinto-me enfeitiçada,
Meus olhos se fecham, me inclino,
Sinto um calafrio na espinha,
Prendo o suspiro,
As pernas vacilam,
Abro os olhos e inspiro mais forte do que previa
Expiro pela boca e o coração acelera
Sou minha auto-refém
E quando você percebe que venceu todas as minhas defesas eu ouço:
- O bar está cheio hoje, não é?
Como por engano, antes de se despedir do meu rosto, a sua mão ainda toca os meus lábios entreabertos
E você sorri perverso como quem diz: - Está vendo como você ainda me quer?
E no fim das contas mesmo sem ter dito nada,
Meu corpo foi um tagarela traidor.


terça-feira, 28 de maio de 2013

As medalhas e as constelações

Aos vinte e oito de maio de dois mil e treze, ela mergulhou no lago da praça da catedral e em meio a todos os olhares curiosos, alguns de inveja, outros de repreensão, ela fazia menção de se presentear com uma medalha. Muitos dos que passaram repetiram para si: que louca! Mas não era loucura, ela se apaixonou mais uma vez.
Não que a paixão de ontem tenha sido menos importante ou que amanhã isso não aconteça de novo, mas é preciso dizer: ela se apaixonou! Por algum tempo não soube reconhecer o que poderia ser esse sentimento de encanto, mas o aceitou como paixão. Algumas pessoas não a levam muito a sério, outras a admiram pelo mesmo motivo, mas a realidade é que ela se apaixona muito.
Demorou a aceitar isso que considera hoje uma qualidade, mas que envolve os riscos de quem mergulha sem saber nadar muito bem. Tem, contudo, uma sorte inexplicável de encontrar por esses mares salva-vidas, icebergs, ilhas, mergulhadores, banhistas casuais, turistas, atletas, desavisados e outros passionais que sempre a ajudam a não se afogar e a chegar em alguma borda.
Descobriu um nado do tipo que ganha medalhas simbólicas, invisíveis, auto-colocáveis, e que valem muito. Está aprendendo também que não adianta contudo só querer se presentear para consegui-las, porque apesar de invisíveis elas pesam mais do que qualquer metal precioso e o mergulhador deve avaliar o peso das medalhas que carrega para poder realizar os próximos mergulhos, pois o risco de se afogar é grande.
Essas medalhas exigem contudo uma renovação constante, elas não duram muito tempo a partir do momento em que são penduradas no pescoço. Tê-las contudo é a maior honra que um mergulhador pode alcançar. Todos querem se por medalhas, mas elas tem um poder mágico de só se deixarem por quando além da vontade, o mergulhador acredita merecê-la e se apaixona por si próprio.
Parece que a pessoa que morreu com mais medalhas no pescoço se afogou na Cidade do Cabo. Suspeita-se que era uma mulher, mas não se pode ao certo afirmar, porque quando uma pessoa que porta medalhas invisíveis morre chove muito e a pessoa se transforma em pedras lisas, uma ou várias, a mesma quantidade do número de medalhas que ela portava, restando no lugar apenas as pedras que refletem forte no céu depois da chuva como uma constelação desconhecida. Nessa noite havia no céu uma constelação de oito mil estrelas.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Sobre aviso!

Se um dia eu te pedir para se calar, não fale. Eu não saberei escutar.
Se um dia eu te fizer chorar, me perdoe. Eu não poderei te compreender.
Se um dia eu disser que não te amo mais, vá embora. Eu não te mereço.
Não me deixe te fazer nenhum mal, fuja para bem longe, me abandone, não atenda as minhas ligações, não abra a porta da sua casa para mim, me exclua de todas as redes sociais, não responda as minhas mensagens, mas, por favor, aceite o meu pedido de desculpas. E se um dia a gente se reencontrar, me pergunte sem ironia: "como vai você?". Se um dia você fizer algo parecido comigo, é assim que pretendo agir!

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Gamabetização

Tem gente que a gente consegue ler,
Tem gente que a gente acha que lê
E tem gente que a gente lê errado.
É mais que uma questão de linguagem,
De signos ou de aprendizado.
É uma questão de sensibilidade,
O outro é um texto que só pode ser lido com permissão,
Senão perdemos a humanidade.
Talvez as interpretações até sejam as corretas,
E consigamos fazer um bom resumo e uma conclusão,
Mas é texto interdito, não autorizado pelo próprio texto.
Situação em que não convém apenas ser um bom leitor,
Mas um amante da escrita.

terça-feira, 14 de maio de 2013

"Fale agora ou cale-se para sempre"

Ontem, ainda hoje no Brasil, 14/05/2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) emitiu uma resolução que obriga os cartórios a celebrar casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo.
O que o reconhecimento de um instituto como o "casamento" por uma instituição como o CNJ pode significar para a sociedade e os sujeitos de direito diretamente envolvidos em tal reconhecimento?
Sem grandes pretensões morais, gostaria apenas de provocar duas reflexões: 1) quais os caminhos percorridos até que uma situação de fato seja regulamentada como uma situação jurídica? 2) quais são os modos dessa regulação?
Nosso modelo jurídico dedutivo tem nos induzido à ignorância. Quem souber de algo fale agora, ou fale depois também. Sem ressentimentos.


Quem era aquele homem?

Quis perguntá-lo onde poderia reencontrá-lo, mas não o fiz.
Não tinha muita esperança nos olhos, aquela tristeza fisgou algo em mim.
Mais um sentimento de curiosidade que de admiração, seu silêncio me inquietava.
E não é porque seus olhos eram tristes que demonstravam estar perdidos.
Eles sabiam exatamente o porquê de estarem cabisbaixos.
Não sei se era decepção, resignação, perda, fracasso...
... não consegui ler aquele homem de olhar triste, porém caloroso.
Pelo jeito que me olhava eu percebi que ele entendia as minhas questões.
Via a sua inteligência em seu olhar. Parece idiota, mas é óbvio.
Ele desceu do ônibus e me dirigiu um sorriso como quem quis: não se preocupe.
Essa conversa sem palavras me rendeu mais que a vontade de conhecer a sua voz além do seu sorriso.
Não sei nem a língua que ele fala, não sei nem se ele é mudo, não sei onde ele mora, se tem família, esposa, filhos, se trabalha, qual o tipo de bebida que ele gosta mais...
Poderia inferir várias coisas apenas pelas roupas "normais" que ele usava, e ao mesmo tempo essa "normalização" não me permite ir muito longe em minhas interpretações, até porque o que ele tinha de mais singular era o olhar.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Mimos do sol

Escureceu,
o céu chorava sem medida
e então o sol saiu para buscar-lhe um mimo.
Observei tudo da minha janela,
que menino dengoso esse céu,
não só parou de chorar
como também abriu um grande sorriso
Um arco em cores na íris do firmamento.
Com um mimo desses, quem não sorriria?

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Confissões a Bastos

Quero um lugar seguro
Para guardar esse sentimento que eu descobri contigo.
O coração flamejante, os poros falando,
O pensamento intranquilo embora afagado
Pela saudade que me traz você.

Não chego a ter medo, mas receio o tempo.
Preciso te ver,
Derramar em você esse amor que de mim transborda
Sujando a minha cama, as paredes do meu quarto
Fazendo tudo impuro.

Não me encanta mais a pureza,
Há tempo já não tenho certezas
Às quais eu possa me apegar.
E pelo contrário, a cada dia que passa
Amo mais o perigo, me seduzem mais as tempestades.

Também não somos inocentes nessa história sem culpa.
Os acordes que dedilhamos juntos
Pintaram no hálito da noite uma melodia tortuosa.
Sonhamos cachoeiras,
E discordamos sem perder o romantismo.

Somos poetas e o sabemos.
E só não digo mais, menino,
Porque sinto que me apaixono
E sabes que me entrego, me atiro e tombo
Feito as cordas que soam nas noites insones.

Não te peço refúgio,
Você é a minha perda mais fugidia,
Os meus pecados sem remissão.
E seremos amantes até o fim dos dias
Antes de você dizer eu já sabia.

domingo, 28 de abril de 2013

Ainda sobre a saudade III

É difícil acostumar-se com a ideia de que não cabe tudo na mala: os amigos, o cachorro, a avó, os livros...
Tem quase um ano que estou longe de casa e nem usei tudo o que eu trouxe naquelas duas malas de trinta quilos. Confesso, muitas das coisas foram supérfluas, ou não serão usadas, ou não fará tanta diferença se eu vier a usá-las. Como eu aprendi o conceito de supérfluo contudo é uma lembrança bem mais útil: estávamos minha mãe e eu no mercado para fazer as compras do mês e eu sempre colocava no carrinho iogurtes, bolachas recheadas, salgadinhos, sandálias coloridas, refrigerantes, e depois minha mãe vinha tirando tudo me dizendo que era supérfluo. Muitas coisas nós levávamos para casa, mas não tem nada que eu me lembre mais do que ela me ensinando o que deveria e o que não deveria entrar no carrinho a cada compra.
Quando decidi vir morar em Bruxelas eu pensava que eu tinha ideia de como seria, mas na verdade nunca parei para tentar realizar como seria essa experiência. Geralmente não penso muito como vai ser o meu futuro, mesmo quando isso significa para o senso comum tomar uma decisão importante. Ainda não sei dizer se isso é bom ou se é ruim. Normalmente me sinto feliz, apesar da saudade que me consome...

sábado, 27 de abril de 2013

Estou tão feliz!

Vi um adjetivo cometer um verbo quando a minha felicidade se transformou em sujeito e sonhou contigo.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Nada demais a dizer, muito para considerar

E então somos nós
E não estamos sós
Gosto de pensar que te encontrei...

Confraria da luta

Iniciamos outra batalha e serão dias longos, 
A guerra nunca apresentou um fim tão incerto. 
Armem-se soldados, estejamos atentos. 
Não é necessário que sorriam sempre,
Mas não chorem tanto.
Valorizemos os nossos motivos.
O inimigo é a tristeza que se alimenta da nossa dor.
Viveremos o nosso luto, mas sejamos um exército forte. 

Possuímos bons instrumentos e não podemos ter pena de usá-los:
Sonhos, irreverência, boa vontade, criatividade.
O mundo carece de amor e de esperança.
Coragem!
Amanhã é um novo dia e precisamos estar a postos.
Não há tempo para a fraqueza,
Cada passo é decisivo.
E poderemos sempre bailar.
Coloque a sua música preferida para tocar,
Invente a sua própria música.
Desistir é proibido para nós.
E lembrem-se: Teremos sempre uns aos outros.
Viver é uma luta constante e não podemos parar.
Se o campo estiver minado,
Saquem suas asas.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

E quando eu acho que já vi de tudo...
... descubro que eu estava cega!

Eu que amo Berenice...


...ainda não consegui dizer para ela não ter tanto medo de ter medo. Ter medo é normal. É o mínimo para quem tem algo a perder e se sente ameaçado. Queria dizer para ela que não é ruim ter medo de escuro, de ladrão, de amores partidos ou bichos ferozes. 
Queria também dizer que eu admiro muito as manobras radicais que ela faz com a vida, o seu destemor às quedas, que nem chega a ser um destemor. É a crença maior na esperança de levantar, de aprender com a queda. 
Nossa... como eu amo Berenice. Tenho vontade de ficar observando o seu dia a dia, a forma com a qual ela reage às investidas mal torneadas do mundo. Seu sorriso ligeiro tomando a frente dos passos certeiros e também dos vacilantes. 
O tempo é doce com Berenice, as rugas na face, a flexibilidade limitada do corpo não tiraram a beleza dos seus movimentos. Ela paira no ar, "inventa jeito" de despistar as desilusões e dança assim mesmo, segurando no sofá ou com a bengala na mão. 
Ah, eu quero envelhecer "que nem" Berenice, saudosa da juventude, acreditando nos sonhos não realizados, contando mil vezes a mesma história com a mesma emoção, relembrando os amigos, silenciando os sofrimentos, valorizando os seus nós. 
Se Berenice não existisse eu a inventaria, para alegrar mais o mundo, para eu descobrir o valor das utopias, para eu acreditar nos homens. 
Berenice, contudo, receia coisas que eu também temo: que os homens não se conheçam e lutem sempre com seus fantasmas. Guerreando sem consciência da morte, arriscando a vida por nada, destruindo quadros que não poderão mais ser pintados, momentos que não poderão mais ser vividos. 
Não gosto das antecipações de Berenice. Quando ela teme eu temo em dobro, pelo temor e por ser ela quem teme. E não entendo quando ela tem medo de temer. O temor de temer é rio sem fonte que nos afoga na primeira braçada. 
Eu que amo Berenice, amo mais quem a inventou. Seria inumano restar imune à tão curiosa invenção. Nada é mais apaixonante que a humanidade à procura de Berenices. 

segunda-feira, 25 de março de 2013

Aurora

De frente para o mundo
Ela olha a versão primeira da fantasia
Os pingos da chuva encenando entre as nuvens
O vento seguindo em sua coreografia inexorável
O movimento das folhas descortinando o dia
O frescor da noite acariciando tudo

Ela sobe no céu para acender o sol
Observa de cima o despertar das formigas
E desce com calma pensando nos seus afazeres
Hoje seria um dia de coincidências
Planejava os caminhos daqueles dois
De modo que eles só fossem perceber depois


quarta-feira, 20 de março de 2013

Agora, olhando para a mesma parede branca que me inquire cotidianamente, penso:
"hoje é um bom dia para recomeçar..."

Ainda sobre a saudade

longe é onde eu queria estar hoje,
porque as pessoas que eu mais amo estão lá...

terça-feira, 19 de março de 2013

Raiva

Quando alguém quiser me defender de alguma fofoca nunca diga: "mas ela é incapaz de fazer isso com alguém...". Não que eu queira dizer que sou boazinha, mas essa frase tira todo o mérito de mesmo "sendo completamente capaz" de fazer ou não alguma coisa, eu posso optar por não fazer algo que considero errado ou fazer algo que considero certo. Nem tudo no mundo são fatalidades, e ainda acho que as escolhas são mais frequentes. Sem falar que gosto de surpreender.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Plágio ainda não consentido

"...não precisa ter conversas reveladoras todos os dias, não precisa ter programas incríveis ou novidades excêntricas. O que nos basta é saber que somos para sempre, que somos um encontro, que a amizade por si só se basta..."

Tem gente que fala pela gente, e aí não temos muito o que dizer a não ser aquilo que o outro já disse.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Xenofobia

Como é difícil andar sozinho a noite, pai;
Olhar para o lado e ver que eles me temem, pai;
A cor da pele e do meu cabelo, pai;
E também o meu sotaque estrangeiro, pai.

Minha cultura é vista como suja, pai;
O preconceito é latente e velado, pai;
Se manifesta logo ali do lado, pai;
Latinos e africanos são escanteados, pai.

A manifesta violência é rija, pai;
E se fantasia em pequenas muralhas, pai;
Há também as forcas e mortalhas, pai;
Quem não se pintam nem se vestem a face, pai.

Pai,
Afasta de mim esse medo, pai;
O  ódio e a desconfiança, pai;
Os julgamentos, a repugnância, pai;
A aversão e o desejo de sangue.


domingo, 10 de março de 2013

Mãe, eu queria ser poeta

Ler durante a madrugada,
Dormir de dia,
Embriagar,
Escrever,

Eu queria sentir a lua
Se levantar pela minha janela,
Enquanto eu a descrevia
Em minha narrativa estupenda e vadia.

Queria acompanhar-me da solidão dos poetas,
Que fazem coisas exóticas em noites frias,
Que fazem coisas banais em noites frias,
Mas todas elas com poesia.

Eu queria amar como um poeta,
Demonstrar meu escárnio na falta de rima,
Sofrer em cada sílaba,
Corresponder todos os amores,
Sem nunca enterrar o amor não correspondido.

Eu queria morrer como um poeta,
Vícios, melancolia, cores, nostalgia,
Uma leitura equivocada do mundo,
Sob o canto dos mandarins.

A chuva na cara,
Um girassol na lapela,
Cartas para desconhecidos
Na garupa da bicicleta.

Não tem coisa melhor no mundo que vida de poeta,
Desafiar a ordem natural das coisas,
Viajar em campos desconhecidos,
Querer terminar como aprendiz.

Ah, se um dia eu for poeta,
Eu vou fazer uma poesia sobre um trajeto que eu fazia,
De como eu arrancava a flor da graxeira que ficava do lado da igreja
E entregava para minha avó todo dia de tarde quando eu voltava da escola.

Não rimas da madrugada

Saliva,
Língua,
Lábio,
Lua,
É mais que metalinguagem,
É o desejo escorrendo pela boca...

sábado, 9 de março de 2013

Sina

Eu sou uma meta inatingível,
Inalcançável, inacessível,
Em vão me esforço, não consigo,
Estou logo ali do lado.

Sei-me impossível
E isso me alegra,
Uma oportunidade na crise,
Um desdobramento inconvicto.

Há um espelho que reflete em minha direção,
E chega a ser risível,
A tangente do meu eu
Sorrindo à espera de mim.


quinta-feira, 7 de março de 2013

Eu Crusoé

Nossos não ditos me sufocam,
Guardamos as palavras mais sábias
Com medo das que outrora pronunciadas
Pareçam bestiais a nós que juramos tanto.

Estamos nos despedindo sem dizem adeus,
Chorando nos cantos, maquiando as olheiras,
Dissimulando uma indigestão que começa a doer
Mais fora de si do que dentro.

Também quero largar as muletas
E retomar minha juventude num salto imprudente,
Sorrir para toda gente,
Viajar sem mapa.

Ontem sonhei que dormia e acordava sozinha
E sorria,
Mudava de rumo várias vezes ao dia,
Conhecia coisas novas e escrevia.

Sem ninguém me seguir, eu ia,
Sem ninguém me pedir, eu dava,
Sem ninguém me ver, eu fazia,
E aquilo me preenchia.


terça-feira, 5 de março de 2013

Tomates e maçãs


Meu Deus, perdoe a minha ingratidão. Quantas vezes olhei para o céu e não tendo do que reclamar não fiz esforço para agradecer. Quando tudo vai bem a gente nem nota, normaliza o que tem de melhor todos os dias, e é preciso acontecer algum imprevisto que nos "tire" do conforto para que possamos dar valor a tudo que temos. Quantas vezes pensei em dizer: "obrigada meus Deus pelos meus sentidos perfeitos" e não disse!
Quando pensei em escrever esse texto, a primeira ideia que veio em minha cabeça foi: "que saudade de fazer as coisas mais banais como escovar os dentes, pentear o cabelo, tomar banho, cortar um tomate, ou até mesmo dormir sem sentir dor ou sem tanta dificuldade..." mas seria mais uma reclamação do que qualquer outra coisa.
Hoje uma limitação física na mão direita me incomoda bastante e me traz na lembrança momentos não muito distantes em que tive medo de perder a visão. Não pretendo supervalorizar um problema, pelo contrário, quero chamar a atenção de vocês (e a minha) para que sejamos mais gratos e percebamos como é bom poder se locomover nas ruas com liberdade, saborear uma sobremesa que a nossa avó faz com carinho, sentir o perfume de uma pessoa na rua, ou até mesmo o odor desagradável de uma comida estragada, dar risada e conversar com os colegas, admirar o por do sol, sentir em cada poro o mergulho quando se entra no mar, escutar uma música que você gosta, poder cantar, dançar, tocar e todas as outras coisas que fazemos cotidianamente com "normalidade" sem valorizar cada uma delas.
Em 2005 escrevi um texto no qual eu falava da magia de reconhecer algo positivo em nossas vidas sem precisar reconhecer anteriormente algo de negativo na vida do outro. Vou tentar ser mais clara: que tal tentarmos agradecer por ter o que comer sem que para isso precisemos nos comparar àqueles que tem fome; ou agradecer o lugar onde se dorme sem antes pensar nas pessoas que não o tem. A ideia parece egoísta, mas no meu entender vai muito além disso.
Não é agradecer o pão por temer a fome, ou o agasalho por medo do frio, nem o amigo por medo da solidão. Esse é um convite a começar a perceber a vida como pequenos orgasmos que se dão continuamente. A acordar e se espreguiçar na cama ocupando todos os espaços e se dando conta dos ossos, dos músculos, dos órgãos, da respiração. Agradecer como um ato de entrega a si mesmo.
Não é temer o oposto ou a falta. É a ideia de agradecer sem contrapartida, sem precisar se projetar na dificuldade do o outro, ou seja, potencializar o seu agradecimento com relação ao prazer que aquilo te traz, o agradecimento sem culpa, sincero. Porque na verdade um agradecimento pode passar pelo medo de não ter algo que se tem ou que se visa a ter, pela perda ou pela não conquista; ou pode simplesmente ser resultado de um reconhecimento "involuntário" e "inconsciente" de algo que você gosta. Como acordar e simplesmente sorrir porque está vivo.
Não fosse o meu dedo enfaixado me gritando o quanto eu me contradigo neste texto eu seria cínica. Mas prefiro agradecer também à minha contradição. É bom poder ser contraditória e encontrar razão nas contradições, porque ambas me fazem sentido. Sim, quero meu dedo de volta, quero fazer de novo as coisas banais sem dor ou dificuldade, quero cortar meus tomates, porque não quero comê-los como se fossem maçãs; quero lavar a louça com as mãos, mesmo tendo máquina de lavar em casa. E quero também agradecer mais, inclusive por aquelas coisas das quais eu nunca senti falta, daquilo que talvez eu nem saiba que eu tenha, mas eu quero agradecer. Agradeço o querer. Ainda que por vezes sem poder; desejar talvez seja uma das maiores conquistas do homem. E hoje só o que eu desejo é agradecer.

Em caminhar


O caminho era feito de pedras
Umas menores
Outras nem tanto
Amontoadas
Gritando direções.

domingo, 3 de março de 2013

Meus poemas perderam o sentido
Tento pensar em outra coisa, não consigo
Sou poeta de um tema só
Amor não correspondido.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Dissociação intuitiva

"Eu não preciso mais de você..."

Era tudo o que alguém não precisava escutar em uma noite como aquela, após uma semana cansativa e estressante, receber uma "notícia" dessa era mais forte que a vinheta do "Plantão Globo" na hora do almoço. Foi um belo soco no estômago. Não sei porquê, mas me lembrei do dia do desastre das torres gêmeas, senti a implosão em mim.

Deitei para descansar um pouco, mas não consegui sequer dormir. Era mais grave do que pensei. Para mim, dormir depois do almoço é mais fácil que respirar. E aquilo me incomodava. As palavras repetiam-se randomicamente "você" "de" "não" "preciso" "eu" "mais"... aquilo me enjoava. Corri no banheiro quase sem tempo para levantar a tampa do vaso sanitário. Vomitei duas vezes. Na primeira o "eu", e depois o "não preciso mais de você" saiu de vez, num jato só.

Era como se eu não quisesse me livrar daquilo. Olhava a sopa de letras na água turva e ainda pensei um pouco antes de dar descarga. Vacilei mas o fiz, apertei o botão acompanhando as letras que se embaralhavam de novo em minha frente "mais" "de" "você" "não" "preciso" "eu"... desceram cano abaixo rindo da minha cara.

Já quase chorando deitei de novo na cama. Ainda sem conseguir dormir, liguei o rádio e Ed Sheeran fez questão de me dizer "you need me, but I don't need you"... Tive vontade de arremessar o rádio pela varanda, destruindo inclusive a janela, mas então eu me lembrei que eu precisava dela (apesar dela não precisar de mim).

Desconsolada com as coincidências, comecei a escrever para ver se esquecia isso tudo, mas não deu outra. As primeiras palavras que o teclado me sugeriu foram "eu não preciso mais de você". Imaginei-me bebendo a água da privada. Que merda! Porquê é tão difícil se livrar disso. Ok, ok! Nem todas as pessoas são "precisadas" na vida umas das outras. Existem várias pessoas que não precisam de mim, eu não preciso de várias pessoas, etc... Porque esta em particular me incomoda tanto?

Abdiquei da escrita. E o sono parecia ter se abdicado de mim. Levantei, comecei a andar pela casa. Na prateleira os livros me remetiam a uma leitura repetida. Exceto a biografia de Flávio José, naquela brochura amarela que pela primeira vez na vida me chamara a atenção. Comecei a folheá-lo e logo ali, na décima segunda página eu li a seguinte estrofe: "Eu não preciso de você/ o mundo é grande e o destino me espera/ não é você quem vai me dar a primavera/ as flores lindas que eu sonhei no meu verão...".

Ri alto! Enquanto lia a canção, imaginava a voz do matuto cantando aquela música. Conseguia até ouvir os acordes da sanfona. Era quase uma zombação. Segui na brincadeira. Imaginei um forró no interior. Quase uma regressão. Minha adolescência nas ruas sem calçamento das cidades do interior em época em São João, os namorados, os quentões, as bandeirolas, as bandas da praça.

Quer saber? Liguei o som e cantei junto: "Eu não preciso de você/ já fiz de tudo pra mudar meu endereço/ já revirei a minha vida pelo avesso/ Juro por Deus não encontrei você mais não...". Dancei no meio da sala, suei, me diverti com o sotaque sertanejo, ai que saudade da minha gente. Parece que deu certo tanta coincidência, tô aqui me perguntando quem foi "Mestre Osvaldo". Será que alguém já disse para ele "Eu não preciso mais de você"...?

O que teria acontecido no quarto dia?

Estive por quatro dias na casa de Zaffar,
No primeiro ele me apresentou a casa,
No segundo ele permitiu que o ajudasse a lavar os pratos,
No terceiro ele pediu que eu fizesse a minha própria comida,
No quarto eu fugi com medo do quinto dia...

A cidade dos poetas embriagados

Vejamos o que a cidade guarda para nós,
Uma blusa rasgada, uma força, um conhaque,
Um passeio pelas calçadas a sós.

É tanta sobra pelo caminho,
Que falta o que não se tem.
As rotas são tantas e eles estão perdidos.

As dúvidas se multiplicam pela estrada.
A certeza é pouca,
A direção é louca.

Bifurcações,
Sinalizações,
Reparações a fazer,
Engarrafamentos.

São os passos dos outros nos caminhos nossos.
Muita chegada em terra de partida.
Encheram as ruas de um grande vazio.

E quando a noite cai e as luzes se levantam,
Esvaziam as ruas enchendo-as de gente.
E somos muitos de novo.

Somos uma comunidade, quase um povo,
De várias idades,
Jovens, idosos, crianças.

Sorrindo,
Atrevo a dizer que têm esperança,
Que vivem com urgência.

Entre nados e vôos.

Hoje acordei olhando o espinho que tinha por entre as suas asas e que eu ajudei a tirar.
Foi intrigante encarar algo que no passado me fazia sofrer porque te impedia de voar
E que agora me faz triste porque sei que voarás para longe.
Não sei se é egoísmo ou só o medo de te perder,
Mas qualquer distância é pequena quando te vejo drapejar o firmamento.
Continuo te olhando daqui,
Te amando.
E adoro ver como você corta os ventos,
A maneira como você se arrisca nas manobras,
Tenho uma felicidade imensa em ver suas aterrissagens imperfeitas,
E mais ainda em ver quando você arremete brilhante como uma estrela que busca o seu lugar no céu
E depois se inconforma pensando que é uma estrela do mar,
E volta, mergulha,
Desafia as leis da física,
Voando os oceanos,
Flutuando por sob as águas,
Como um peixe que voa desavisado, teimoso,
E sei que ninguém vai convencê-lo de que não tem asas.
Ele nada e isso é tudo,
Inclusive voar.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Despedida inconjugável

Despedir é de parar um sonho,
De tirar a paz do cidadão comum
Que acorda todos os dias no mesmo horário
E que também dorme no mesmo horário
Tendo feito as mesmas coisas de ontem,
Sabendo que vai fazer as mesmas coisas amanhã,
Sem conhecer novas pessoas,
Sem descobrir novas cores,
Sem se aventurar por caminhos outros.

Despedir é de despedaçar o coração remendado
Que já não quer crer no amor,
Sem conseguir,
Prefere viver aflito,
Que enfrentar o conflito,
Duvida das coisas,
Evita os perigos,
Se defende de tudo,
Espera a calmaria,
Sem nunca desvendar os mistérios das ondas.

Despedir é de emudecer a música no refrão,
Estender pausas,
Cortar compassos,
Silenciar os acordes,
Amplificar os ruídos,

Despedir é de deixar perdido o sujeito encontrado,
Adoecer o paciente sadio,
Fazer voltar o andarilho que não foi,
Desequilibrar o homem mais sóbrio,
Enlouquecer o mais sensato,

Despedir é o desassossego de que ainda não aprendeu a conjugar esse verbo.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Ingrata irrendição

Minha vontade mais transgressora é de efetuar contigo os planos mais comuns:
Casa, filhos, férias, flores. 
Caminhar pelas ruas do interior de mãos dadas, 
Mandar mensagens logo após ter se despedido, 
Ligar de madrugada, 
Querer te acordar com um beijo de bom dia, 
Chorar depois de termos brigado por besteira, 
E terminar a mesma conversa dizendo que te amo. 
Éramos tão inexperientes, 
E éramos tão sinceros. 
Não sei se sei ser assim de novo. 
Eu me machuquei demais, 
E sei que também não cumpri minha promessa de não deixar ninguém te machucar. 
Mas, por favor, não me peça para voltar,
Não quero arriscar perder mais nada em você
Que já não me chama pelo apelido, 
Que já não tenta fazer poesias, 
Desastrado e lindo. 
Não é o nosso amor que eu reprovo,
Só acho que não sei ser assim de novo. 

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Distância relativa

Quem pensamento mais sem sentido.
Eu sem você?
Duvido!
Não depende mais de querer.
Mesmo se eu quisesse, não conseguiria.
Não tem porque viver essa agonia.
O que de mais sincero eu posso te dizer
É que quero muito a sua companhia,
Sua presença no meu dia a dia.
Nossa insegurança?
É só reflexo da esperança
De um dia a gente se reencontrar.
Sinto sua falta, do seu carinho, do seu olhar,
E não é porque hoje eu não quis conversar
Que você precisa temer eu me calar.
Te amo diariamente.
De diversas maneiras diferentes,
Mas nenhuma delas se aproxima do "esquecer",
Nem se parece com o "afastar".
Esqueça a tristeza,
Não precisa pensar muito.
Deixe de lado também essas defesas.
Meu sentimento por você é gratuito.
Acredite, te amo com meus defeitos,
Só não sei se é do melhor jeito.
Não vou te deixar,
Repito, isso não é uma promessa!
É só uma vontade insistente,
De ter você por perto
E para sempre.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A solidão é parte do duro encontro consigo mesmo.

Insegurança

A dor,
A perda,
O choro,
Não ter alguém do seu lado,
Ouvir o mundo rosnar,
E ter medo até de gritar,
Sem saber o que pode te engolir.

Faz tempo que não me sinto assim,
Ter duas pernas sadias e faltar algo para caminhar,
Tudo além das paredes do quarto é um perigo,
Os entranhos, os conhecidos,
As lembraças e o que foi esquecido.
Tenha dó, por favor, tenha dó.

Fecho os olhos com força,
Ocupo o melhor espaço possível na cama,
Tudo dói,
As incertezas,
As correntezas,
As tempestades,
A fortaleza que o tempo levou.

Um filhote nu jogado às feras,
Não saber para onde correr me atropela,
E lá estou estagnada por entre dentes famintos,
Gritar não adianta,
Chorar não adianta,
Fugir é a única esperança.
Fuja de mim, insegurança. 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O grande segredo é que nós amamos os apaixonados.

Quase um conto...

Sabe, pequena,
Dizem que a fé no homem é coisa de acabar.
Não acredito.
Te conhecer me fez querer amar o infinito,
Me fez querer ser muito mais e bem melhor.

Penso na vida,
Nas histórias que eu lia quando era criança,
Nos heróis, nos vilões, na esperança,
Na fome, nas guerras, na ignorância,
Na vontade de fazer isso tudo mudar.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A fantasia brindou comigo
Me olhou nos olhos e sorriu
Virou o copo de vez
Num gole só
Achei que ela fosse soluçar
Mas encheu o copo de novo
Olhou o meu sorriso e brindou
Outro gole voraz, 
Outro copo
Sorriu o brinde e olhou
Outro copo vazio em suas mãos
Completou outro copo 
Bebeu os olhos e sorriu
Brindou comigo e nem viu...

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Para depois da morte

Quando eu morrer,
Se quiserem falar mal de mim,
Digam que eu pequei,
Que eu pequei muito,
Que tive vários amores,
Que chorei de raiva,
Que tive medo,
Que pensei em desistir,
Que duvidei das divindades,
Que tive vícios,
E que eu adorava versos.
Mas não inventem muito,
Nem diminuam tanto,
Muitos não irão acreditar no que disserem,
Alguns tentarão me defender,
Não acreditarão que eu era uma pessoa tão ruim,
Não acreditarão que eu era uma pessoa tão boa,
Não que eu quisesse ter sido mais ou menos "correta",
Mas tentei ser coerente comigo,
Embora a coerência não seja uma variável constante para mim,
Porque mudei muitas vezes o meu modo de pensar, de ser, de ver,
Mas tomem cuidado, não falem como quiserem,
Ou não digam,
Silenciem,
Falem pouco,
Ou falem muito,
Mas falem só do que me viram fazer,
Não me definam com as suas opiniões, 
Se eu não tentei mudar é porque elas não tiveram valor para mim,
Ou porque achei que os seus valores eram menos convincentes que os meus,
Se me arrependi, pedi desculpa a quem era de interesse,
Se me arrependi e não pedi desculpa, morri com esse remorso,
Se não me arrependi, sinto dizer que alguém perdeu uma oportunidade de aprendizado
E espero que não tenha sido eu,
A não ser que eu possa reviver para tentar aprender de novo,
Talvez com o mesmo erro, ou com outros,
Porque eu também adorava errar,
Adorava poder errar sem que me julgassem,
Adorava quando me corrigiam com ternura,
Porque eu também adorava aprender,
Não tinha facilidade com algumas coisas,
Com outras eu era cabeça dura,
Podem dizer que eu fui muito orgulhosa,
É um defeito que reconheço por antecipação.
Ah, digam o que quiserem,
Mas terminem dizendo que eu fui feliz. 

Conversa de cronópios I

- ... eu nao sei se o que eu senti por ele foi um coisa chamada amor platônico, que estava aqui guardado e quando foi correspondido causou aquele desejo, sabe? Eu nao sei se é só desejo, mas é algo que me deixou em um estado de embriaguez, que  me fez sabotar a minha razão e eu fui mesmo sabendo que eu não podia estar lá... mas estar para sentir as bochechas quentes, o espaço em volta sumir... e o outro faz eu me sentir feliz... com os pés no chão, confortavel... o q era?
- Sei lá o que era... para cada pessoa há um amor diferente. Acho que o amor tem uma espécie de bimatéria. Ele é algo em si, mas antes disso é uma "substância" que depende de uma relação. E a gente precisa de várias relações de amor. E cada relação dessa assume uma função diferente na nossa vida, ainda que a função seja simplesmente amar. Até uma música você ama de um jeito diferente de outra, ainda que você ame muito as duas e não saiba dizer qual delas você ama mais. É por isso que por mais que você ame uma pessoa, você não pode passar a vida toda só com ela, porque você precisa de amigos, você precisa de família, você precisa de você, você precisa de solidão. A economia do amor é complexa, é muito mais do que a vontade ou a disponibilidade do/para consumo de uma coisa só e de um jeito só, ele pede uma pluralidade de formas e de sentimentos que a gente sempre tenta definir como uma coisa só, mas no fundo a gente se sente encurralado, porque o amor é sempre mais que isso tudo e no final ele é tão simples que por mais que a gente não consiga defini-lo, a gente sabe quando a gente ama, porque a gente sente que ama.

Amar, verbo composto.

Uma amiga me disse que não queria amar
Pensei em dar uma resposta óbvia e simplesmente dizer:
- Quem não quer amar?
E conhecendo-a como conheço,
Sei que ela é uma dessas pessoas que SEMPRE querem amar,
Ainda quando dizem que não querem.
Como eu estava morrendo de sono, dei-lhe a seguinte resposta:
"Amor não tem querer, ou melhor, ele quer mais que a gente. Se amar fosse assim "de se deixar querer" e "desquerer" não seria amor. Seria desejo, vontade. O amor é algo além disso, ele tem vontade própria e parece que a vontade dele é sempre maior que a nossa. Quantas vezes a gente ama alguém que não "deve", ou ama alguém que não ama a gente? Quantas vezes a gente tem uma pessoa que ama a gente, e que a gente até queria amar, mas a pupila não dilata, o coração não acelera, os poros não se arrepiam quando essa pessoa abraça a gente? Amar não é tão simples. Não dá para entender o amor pelo querer, é preciso conjugar outros verbos e nenhum deles vai substituir o verbo amar."
Foi uma resposta meio louca, mas ela me disse que entendeu o que eu quis dizer.

Do que sei do amor

Em matéria de amor todo coração é leigo, por mais que se tenha amado, por mais que se tenha sofrido, quando se ama não é possível ser um conhecedor pleno. O amor é capaz de trazer as dúvidas mais bobas às pessoas mais espertas e experientes. O amor guarda uma inteligência própria que se distancia da razão; ele é uma simbiose involuntária que implica confiança e vulnerabilidade num ato de entrega.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A certeza de não estar só é muito pequena diante da certeza que se tem quando você sabe que está muito bem acompanhado.

"Como está por aqui?"

Por aqui tudo vai bem,
Exceto o amor, exceto a saudade,
Tudo me sobra,
Nada me resta.

Minha alma mudou de rua,
Convidou a poesia,
Viajou para a lua,
Passeamos nuas.
Estão dizendo que a gente não presta.

Sinto sua falta,
Ainda te amo,
Ainda te quero,
Ainda te espero, 
Não aguentam mais essa minha conversa.

Não ligo,
Repito,
Choro,
Escrevo,
Parece que morro, mas vivo e é uma festa.

Oração

Meu Deus, meu Deus,
Por onde repousa os olhos Teus?
Te peço, ilumine os caminhos dos "meus",
Daqueles que amo, ainda que ateus.
Abençoe com força, com paz, com leveza,
Amenize a dor, a saudade, a dureza,
Que por vezes as curvas da vida impõem,
Mesmo sem entender o que Você compõe.
Me permita que eu os veja por mais um dia
Com saúde, com amor, sem melancolia.
Amanhã eu repito a oração com alegria.

Escolha

Encantam-me os miseráveis
A pedagogia deles é mais honesta
Recheada de empiria, de sabor, de fantasia.

Adoro as suas metáforas,
Sua mania de olhar para o além,
De insistir em querer o bem.

Eles têm uma loucura que me fascina,
Identifico-me com as suas trapalhadas
E até com as lágrimas regadas a gargalhadas.

Os bêbados, os drogados, as prostitutas,
Exercitam bem melhor a escuta
E têm, quase sempre, muito mais a dizer.

São vidas que não se domesticaram,
Transgrediram, criaram
Alternativas para sobreviver.

O mundo corre, tem pressa,
Nos quer bem sucedidos, estáveis,
Mas eu ainda prefiro muito mais os miseráveis.


Negação

Elegante mente tristonho
Fácil mente o sonho
Me faz lembrar você

Tranquila mente a rua
Desejosa mente a lua
Parece que vai chover

Disfarçada mente a noite
Constante mente um açoite
Não sei não ter você

Vagarosa mente a carne 
Prudente mente a tarde
Começa a escurecer

Ingênua mente cogita
Insistente mente acredita
"Preciso amar você" 

Cuidadosa mente a calma
Abandonada mente a alma
Temem não mais te ver

Falsa mente a saudade
Dicreta mente a amizade
Te amo e não sei dizer

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Não é fácil manter o ritmo,
As pernas cansam,
Os caminhos mudam,
Vêm a sede,
O vento,
A noite,
O amanhã.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Retiro o alvo.

Mais do que hipócrita, aquele que que não consegue fazer uma auto crítica sem antes apontar defeitos/qualidades alheias é um doador de falsas carícias, nunca quis reconhecer as qualidades. Esse não passa de um sujeito incapaz de pensar, incapaz de externalizar um pensamento sem antes se esconder por trás de um escudo imaginário, uma projeção de si. Não consegue ferir sem antes cortejar com falsos elogios, e antes disso não é possível não se afirmar. Esse tem a espada torta, impregnada de tanta mentira, camuflada em suas projeções. A maquiagem ajuda a pesar, e a espada sempre pende para um lado. Faz do alvo ficar cada vez mais distante. Para poupá-los desse trabalho retiro o alvo. Despejem à vontade as suas flechas. Os elogios eu dispenso. Isso não significa que eu esteja me abstendo da luta. Mas prefiro lutar diretamente, olho no olho. Sem precisar de arcos, flechas, escudos, muito menos de me esquivar por entre as árvores ou qualquer outra projeção. Gosto das batalhas em que o melhor mecanismo de defesa é a escuta e que as palavras não vêem contaminadas de falsas intenções. Sinto-me inclusive honrada quando saio derrotada, pois aí já não tive um inimigo, mas um mestre.

Paciência

Queria buscar-te em fonte,
Descobrir os segredos que te fazem brotar, 
Te sentir nascendo dentro de mim
Como a água que acaricia as pedras
Eliminando as quinas,
Arredondando as pontas,
Aliviando as mágoas, 
Amenizando os cortes
Abaulados por sua mão incansável
Que cuida sem bajular,
Zela sem vigiar.

Queria entender-te plena
Porque te admiro em verdade.
Gosto quando te acesso sem dificuldade,
Quando te encontro mesmo sem te procurar.
Sinto que às vezes não temos muita afinidade
E me deparo com coisas que não consigo suportar.
E então eu grito, eu explodo, despedaço,
Voam cacos para todos os lados.
E então eu machuco o outro,
E então eu sofro,
E então eu choro.
É um remorso inútil por você não ter chegado antes que eu notasse a sua ausência.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Nomes próprios

Meu amor, que saudade é essa que me consome?
Estou quase mudando de nome.
Ia ficar engraçado eu assinando e as pessoas olhando para mim como se eu fosse uma pervertida...
Não iriam entender.

É sempre assim, parece sina.
Quando a gente se encontra,
Quando a gente se aproxima,
Vem o tempo e bota fogo no galão de gasolina.

É uma rotina que não me abandona,
Não deixa eu cultivar as minhas borboletas,
Sempre nessa ânsia de desencontro.
Pra quê tanta pressa, meu filho?

Augusto se foi outro dia?
E temo que em abril ele esteja em Amsterdã.
Fiz uma música no ano passado
E quero tê-la sempre como um mistério.

Desvendar é bom,
Mas a ignorância tem seus encantos.
Nem falo pela pureza,
Que não me apetece tanto quanto os miseráveis.

Tem gente que insiste: tem algo de errado!
Mas é tão sedutora a loucura,
O desconstruir, a tessitura,
Que a gente conserta, remenda, aperta...

Separa em bandas para colar de novo,
O brinquedo mole de tão usado,
Mas sempre bem quisto,
Ainda que quebrado.

É assim também meu coração desvirtuoso,
Bate gritando, bate calado, bate teimoso.
Mas não desiste de acreditar no amor.
... Assinado: Eu Preciso de Você.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Cachimbo de vento é fumaça

Sei-me impossível.
Era preciso paciência e delicadeza,
E eu não tinha nenhuma delas.
Estava a ponto de um surto.
Aquele silêncio havia me deixado louca,
Assistia a fumaça misturar-se à neblina,
E procurava desenhos nas nuvens que se formavam.
Uma lucidez insustentável,
Um labirinto sem fim.
Muita reta para pouca curva,
Tomando forma no céu,
Sem que eu pudesse intervir.
Mirei o chão.
Eu me reconheci naquele mendigo velho
E a gente nem se parecia,
Apesar de me olhar como quem me conhecia.
Permiti que seu olhar me perscrutasse,
Até o último broto de mim.
Sorri,
Era quase noite.
Um açoite aquelas retinas a me percorrer.
Desenhou uma chave em um caderno azul
Que guardava com cuidado sob as cobertas sujas da rua
Foi o tempo de eu piscar
E ele sumiu por entre os cílios
Aproximei-me e encontrei a porta aberta, 
No caderno sob as cobertas.
Ainda ouvi o barulho da chave caindo ao tocar o chão.
E ele sumiu sem que eu pudesse saber o que levou de mim.

Coincidir

Tem gente que entra na nossa casa sem pedir licença. Não avisa que está chegando e nem toca a campainha. Você simplesmente abre a porta da rua, entra na sala e ela está lá, sentada no sofá, admirando a vista da sua varanda. Então você vai até a cozinha, prepara um aperitivo, abre a geladeira, pega o vinho que ela mais gosta e senta no sofá para continuarem aquela conversa que parece que vocês tinham começado a anos atrás.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Enfim sós

Você me fez falta, querida
Senti saudade de nós no quarto
Eu mirando as paredes ad eternum
E você admirava todo aquele mar branco comigo.

Seus olhos nunca me julgaram,
Nem às minhas dancinhas estranhas quando acordo brincando.
Nem à minha voz rouca quando canto chorando.

Que saudade eu tive
Só nós na varanda
Observando os poucos carros que passam na madrugada
Tentando adivinhar de qual direção viriam.

Lembrei das inúmeras vezes em que abri a geladeira
E você não estava lá
Para me ajudar a lutar contra a insônia,
Para a gente pensar na vida...

Entre encontros e despedidas,
Choramos com as partidas,
Vibramos com as chegadas,
Estivemos de mãos dadas.

Que falta, querida, que falta você me fez.
Vou te abraçar bem forte,
E sei que você não vai se importar se eu chorar ou se eu sorrir.
Cedo ou tarde você terá que partir. 

Mas volte sempre, intermitente.
A falta da falta.
Enfim sós,
A solidão e eu.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

já estive dos dois lados... definitivamente, é muito pior amar sem ser amado.

... ainda pensei que você estivesse morando em Paris. Mas de qualquer outra cidade do interior da França você conseguiu me fazer sentir ciúmes de alguém que talvez eu nunca encontre.
Não precisava tentar reverter a situação dizendo que fiz a mesma coisa inúmeras vezes com você. Acredite, as minhas palavras dizendo que estava feliz por você e triste por mim não foram cobrança, muito menos ironia. O amor é uma nuvem tão branda e bela, que eu vibro quando ele se esparrama pelas calçadas flutuando sobre os pés das pessoas que caminham sem pressa e que dançam na chuva. Mas eu não pude negar, tive ciúme, tive medo de te perder. E por mais que eu tentasse me esconder por trás de ideologias libertárias e nada conservadoras... sim, eu fiz planos para nós. Mas não convém falar dos nossos/meus planos. Não pense que vamos brincar menos, só vamos mudar o estilo da brincadeira. Quem sabe um dia a gente não resgata o jogo? Mas por enquanto prefiro não trapaçear, é anti-desportivo. E isso nem é um campeonato. Não são as regras do jogo que importam. É o bem estar dos jogadores. Continue brincando e sorrindo com o seu sorriso, lindo. Isso de ficar chateado por mais de um dia é coisa de gente velha, e nós temos a vida toda pela frente.