segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Ao som do tambor

Vindos de outros lugares,
Tambores bordados com feltros de luz.
Saberes que são milenares,
Inscritos no couro das telas azuis...

Como é tão difícil ver um sonho
Correndo para um lugar qualquer...

Me empresta um pedaço da infância do céu,
Para eu fazer de conta que é meu sonho bom.
Girar num carrossel,
ao som do tambor...

Tum, tum, tum...
Ao som do tambor...

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Conselhos de Aninha I

Corra que lá vem o agenciamento coletivo do desejo,
Corra dele ou em direção a ele...
ou simplesmente não corra,
passeie,
pare,
volte,
retorne,
Invente um novo jeito de ir,
Mas não ignore a paisagem...

O abraço que não quero

Tristeza tem um abraço frio e cálido
Sonega o calor e o carinho...

Vai sem saber

Passamos a vida toda buscando formas de nos diferenciar,
Escolhendo com cuidado nossas rotas,
Aí vem a morte e iguala todo mundo:
Os brancos e negros, as mulheres e os homens,
os ricos e os pobres, os belos e os feios,
os analfabetos e os doutores, os tristes e os felizes.
Como água que escorre e se perde no chão,
A morte simplesmente leva.
Aí buscamos de novo nos diferenciar perguntando para onde,
Mas já não interessa.
Independentemente de onde você queira ir,
Ela vem e leva.
E você vai sem saber... E você vai sem saber...

A inveja sadia.

Dia tenso, noite longa...
A lua flutua no céu reinventando seu itinerário.
Façamos algo semelhante,
Nunca o mesmo.
É sempre bom ter o próprio itinerário,
Ainda que acompanhado
E observando a lua.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O menino que aprendeu a aprender

Ele sempre queria saber mais,
Mas tinha medo de perder o não saber
No começo, quando aprendia,
Lamentava por ter perdido o que não sabia
Mas, enquanto aprendia,
Percebeu que sempre não sabia mais do que imaginava.
E quis aprender mais
Cada vez mais,
Porque à medida que conhecia,
Ganhava saberes e "não sabias".

O menino que seguia sentindo.

Ele queria saber dos segredos
Queria inventar seus caminhos
Gostava de parar quando todos seguiam
Para observar o andar
E voltava se preciso.

Por fora era calmo e tranquilo
Por dentro, um furacão
Pensava um mundo, questionava o mundo
Um explorador
Sonhando a perder de vista

Via beleza em quase tudo,
Reflexo dos seus belos olhos
Ainda quase infantis.
Surpreendiam por tanta luz
Pelo tanto que conseguiam iluminar

E como eram belos os caminhos iluminados por aqueles olhos
Tão mais livres,
Tão mais...
E ele seguia em paz,
Buscando,
Sentindo.

O menino por trás dos óculos

Como pode um garoto
Seduzir-me com as palavras
Colocando-as lado a lado
Como quem lapida preciosamente uma pedra.

Suas pausas, seus silêncios
Remetem-me a uma operação delicada
Em que cada ação ou omissão são fatais,
Nesse caso, vitais.

Empreende tanta vida em cada sílaba
Que chego a temer terminar seu texto
E leio uma, duas, quantas vezes mais seus escritos pedirem
Deixo passearem por mim à vontade.

Quando consigo me libertar da leitura
Vejo que foi uma mentira.
Ainda estou presa
Esperando o próximo escrito.

Lembro do seu sorriso tímido
Das suas poucas palavras
Do óculos que o protege
E o imagino escrevendo...

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Vitrines

Eram promessas expondo sonhos.
Miravam longe, focavam depressa,
com grande alcance
E mostravam o melhor que se pudesse ver...

Amarelas

Me tira daqui
Que a lembrança daquelas rosas amarelas não me deixam dormir.
Enfeitam o altar tão alto, tão grande, tão distante.
E me impedem de descansar.

Não sei se era eu,
Não sei se era Deus,
Mas o mármore frio,
Gelou-me também os pés.

Descalça, pensei que o homem que ali dormia
Tremia por conta do tempo,
Que passada cada vez mais frio
Entre os poros por sob as pedras.

Talvez fosse Deus,
Ou minha culpa cristã,
Me faziam tristeza no peito,
Sempre que olhava para o tal sujeito.

E as rosas amarelas enfeitavam o altar.
Tão vivas, tão belas.
Pareciam gostar da frieza do mármore
Se espalhando pelo recinto.

E o sujeito girava procurando posição,
Como um cão que sonha e revira no chão,
Sem saber que nunca será compreendido.
Julgados sempre aquém dos sonhos ou do sereno.

Talvez fosse eu
E esses olhos miseráveis,
Enxergando sempre o refugo,
Desprezando até o esforço das rosas amarelas que não me deixam descansar.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Quando os pássaros conversam em minha janela

Gosto de te ver passar,
Encanta os caminhos.
Gosto de te ver sonhar,
Muda o tempo
E fica tudo mais bonito!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Agradecimento por um sorriso sincero.

Não fui eu quem te deu o sorriso mais bonito,
Sequer o motivo para te fazer sorrir,
Mas não me aborreço,
Gosto tanto de te ver sorrir,
Que mesmo sem conhecer,
Gosto também dos seus motivos.

Ainda que me façam sentir ciúmes,
Ainda que os inveje eu meu silêncio,
Ainda que os procure em seu olhar,
Ainda que eu nunca os encontre,
Eu os agradeço
Por fazerem você sorrir.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Sem nada a dizer

Hoje eu queria ouvir um silêncio teu
Só olhar você me olhando
Sem nada a dizer...

Aulas de conquista

Era só um garoto
E eu queria muito beijá-lo.
Em seus vinte e poucos anos
Aos meus olhos era um menino.

Tinha barba e fumava,
Mas seus caixinhos,
Seu sorriso quase infantil,
Não me permitiam tocar-lhe a face.

Os lábios carnudos um dia se atreveram
Aproximaram-se com a malícia de um adulto.
Mas recuei, disse que não iria beijá-lo,
Sem saber muito bem o porquê.

Eu queria, mas não o fiz.
E naquela noite beijei outro homem,
Que nem me apetecia tanto quanto àquele dono dos lábios carnudos,
Entretanto, quase infantis.

E o jeito de olhar,
De falar, de sorrir,
Não me deixam esquecer que o quero,
Mas que é só um menino.

Os óculos ajudam a imprimir na face o eterno ar colegial
Desajeitado com as meninas,
Mas muito bem quisto por elas.
Um garoto inexperiente.

Talvez essa seja a resposta,
Ou, por fim, a grande questão.
Teria que ensinar ao garoto?
Ou sou eu que preciso aprender?

Ele respeita demais,
Poderia ser mais ousado.
Mas é tão bonitinho,
O seu jeito acanhado.

Diz saber o que faz,
Mas não me sinto segura,
Acredito no menino, no garoto,
Mas duvido do homem, do rapaz.

Pensa como um dragão,
Age como um felino,
Sorri como uma criança,
Más é só um menino.