quinta-feira, 31 de maio de 2012

Materno

Água faz,
Onda leva,
Vento traz,
Mar revela,

Tempo crê,
Luz transvê
Olho relê
Conselho clichê

A criança corre,
A beata clama,
O idoso morre,
A mãe ama.

Auto-pêsames

Não sei quantas vidas nós temos,
Mas posso afirmar que se morre várias vezes
Antes do definitivo perecer aos olhos.

Ontem foi um desses dias 
Chorei até sentir cada músculo das costas
E perceber como era trabalhoso sustentá-los

Dormi no banco de uma Igreja
Próxima dos bares que costumo frequentar nos finais de semana,
Acordei com frio.

A cabeça ainda dói,
O estômago parece corroído,
Não tenho vontade de levantar.

Sem pêsames,
Sem vítimas,
Sem réus.

O dia da própria morte é sem cor
E tem um cheiro ruim.
Bem que poderia ser inodoro! Mas não é.

Dirigi por algum tempo sem saber para onde
O percurso era o destino
E segui até cansar...

Voltei
E não é seguro.
Ainda ontem eu morria.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Sangria dos dias pela janela
Veste os prédios de luz
Derrama gente nas ruas
Corrói o ferro das passarelas

Uns brincam nas praças
Bebem nos bares
Estudam para concurso
Vigiam as favelas

Outros clamam por chuva
Não dormem
Pensam nos filhos
Cuidam da imagem virtual

Desejam bens
Carecem de amores
Compram bicicletas
Mas não compreendem o valor do transporte público.
Ontem lembrei de nós
Repeti nosso ritual
Dois ovos cozidos
E um copo de achocolatado

Fechei os olhos
Deitei no sofá do lado direito da sala
Mas você não chegou
E não senti a sua perna em cima de mim

Ninguém me acordou para ir dormir na cama
Os dois copos ainda estão sujos do meu lado
Num ato falho sorrio: ontem ainda não era quarta-feira
Mas as lágrimas me lembram que você também não vai chegar hoje

Sinto sua falta
São quase oito anos de dor
Meu número predileto
E você não está aqui para que a gente possa celebrar isto

Ontem em vi um cachorrinho que me lembrou o nosso
Foi o gatilho que me fez querer você aqui
Quando você se foi precisamos mudar de casa
Não aguentamos aquelas paredes a nos inquirir

Precisamos também dar os cachorros
Fomos morar de aluguel em um apartamento
Sobrevieram sofrimentos mentais
E uns ainda perduram

Sem fogos de artifício
Sem portas batendo
Sem suspresas
Criamos regras implícitas

J. nós demos para uma família numa roça
Soube que ela apanhava
Tive vontade de ir buscá-la
Mas não existia nada em mim

B. está doente
Levamos ela para a casa da minha avó 
A qualquer dia espero a ligação
Dizendo que ela foi ficar com você

J. não podia ficar
O seu temperamento causou medo
De que ferisse os idosos os as crianças
Justo ela, uivando de saudade, chorando ao lamber nossos pés

M. A. caiu, quebrou a bacia
M. O. há algum tempo vem piorando
T. B. teve uma filha
H. encontrou um amor

T. R. luta contra o câncer
T. C. compra sapatos
T. E. estuda
M. M. parece enlouquecer a cada dia

Sua lucidez a atropela
E chego a sentir pena
Vínculos foram rompidos
Estamos num momento turbulento

Sobrevieram muitas ondas
Foram muitas ressacas
Muitas tempestades
2036 pores-do-sol

Mudamos para uma casa grande
Temos de novo dois cachorros
Continuo não sabendo de J.
B. continuou com minha avó, sabe como ela é

A casa é grande
Está sempre cheia
E parece vazia
Vai sempre estar faltando você

Eu já não moro lá
Mudei de cidade, formei no curso que você queria
Tenho muitas dores de cabeça
E na maior parte do tempo sou feliz.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Trazer e tragar

Você eu trago aos poucos
Em baforadas lentas e longas
As lembranças, a cafeína,
O chocolate, a aspirina.

Troquei os lençóis
E pretendo abrir mão dos anéis
Há algo diferente em nós,
Mas somos leais apesar de infiéis.

sábado, 12 de maio de 2012

Desencarnar o teu cheiro em mim
Esfregar


Lavar
Não sair