Durante o período de festas natalinas as pessoas falam de
Papai Noel e consumismo, do nascimento e Jesus Cristo e valores humanos, de
retrospectivas e projeções de vida... mas (para mim) além disso tudo, o Natal
era a data em que eu tinha a oportunidade de estar com a minha família. Como
somos numerosos e “espalhados” pelo mundo, no Natal nos reuníamos para a ceia,
trocávamos presentes, fazíamos orações, estávamos juntos. E não temos como
fugir ou negar isso, somos uma família imersa em uma sociedade
"capitalista" que sempre celebrou reunida essa data
"cristã" e ansiando por um “futuro melhor”. São três categorias
inerentes ao nosso Natal.
Para mim isso foi sempre muito simbólico, me lembro da
montagem da árvore e dos presépios, de buscar folhas no quintal para
enfeitá-los, de desembolar o pisca-pisca, de ficar escondida atrás da porta
para ver como os presentes “apareciam” na árvore de natal no dia seguinte. Não
demorou para descobrirmos que eram os nossos parentes que colocavam os
presentes lá. Na verdade, saber que o papai Noel não existia nunca foi um
trauma. Era bom saber que a gente “se presenteava”. No presente sempre a
etiqueta: De Papai Noel, Para: “fulano”. Tínhamos também na árvore umas meias
de camurça vermelha com os nomes de cada um e dentro uma quantia em dinheiro, o
bom é que ela acompanhava a inflação e ia aumentando os valores a cada ano J, quando era tempo de
vacas magras ela vinha murchinha, mas a gente não importava muito. Sempre
comíamos e bebíamos muitooooo depois da oração e estava tudo certo. Era uma miscelânea
de graça e pecado, coisa de brasileiro, baiano, da minha família. Tivemos anos difíceis,
com muitas lágrimas de dor, perdas, sofrimentos, aflições, mas a maioria deles
foi de muitos sorrisos, vitórias, conquistas e realizações.
Lembro-me com muito carinho dos meus Natais. Temos o hábito
de receber também os amigos que por qualquer motivo não passavam o Natal com as
suas famílias, e a gente sempre vai correndo providenciar um presente para por
na árvore para essa pessoa. E é muito legal quando a gente vê que alguém se
sente bem na casa da gente, que se sente acolhido e que volta no ano seguinte.
Que reza com a gente mesmo sem ser seu hábito. Um dia me tocou muito um amigo
ateu me dizer que se sentia bem lá na casa da minha avó (onde a gente sempre se
reúne para celebrar o Natal) porque ele se sentia acolhido. E que ele se sentia
bem quando a gente ficava em círculo e se dava as mãos para fazer a oração.
Aquilo era um ritual de carinho, de esperança, uma representação que alguns
chamam de religião, de Deus, mas que a gente fazia por amor, e qualquer um que
quisesse celebrar o amor ali naquela casa seria bem-vindo para fazê-lo conosco.
Esse é o primeiro Natal que eu vou passar fora de casa,
longe da minha família. Mas eu gostaria de dizer a minha família e aos meus
amigos que estou bem, que eu encontrei pessoas maravilhosas no meu caminho que
me fizeram sentir em casa, segura, que cuidaram de mim quando precisei, que me
deram apoio, força, carinho, até bronca quando precisei. E queria dizer que
nesse Natal vou sentir muito por não poder estar aí com vocês no nosso ritual,
mas que eu estou feliz porque eu vou ser a “estrangeira” na casa de uma outra
família que como a nossa celebra o amor. Estou com o coração apertado, as
lágrimas acabaram de me pegar de surpresa. Queria muito poder abraçar meus
avós, minhas tias e tios, meus irmãos, primos, minha mãe; sentir de perto o
cheiro de vocês. Usar roupa branca para abraça-los de igual para igual. Ganhar
de novo uma camisola, uma caixa de bombom, um conjunto de calcinhas, ou aqueles
presentes personalizados que sempre fazem sucesso. Cantar. Brincar. Falar
besteira! Trouxe aquela camisa branca com os nossos nomes. Falta o de Maria
Flor, mas vou guardá-la comigo para estar com vocês.
Bem... o choro já não me deixa pensar. Só queria agradecer a
todos que me acolheram para que eu pudesse me sentir em casa, especialmente a
Dan, Riccardo, Jaques, Viviana, Juliana, Anna Júlia, Clarinha, Bruno, Andreia,
Sarah, Camila, Tiago, Paco, Peter, Raquel, Eleni, Eya, Anais, Bia e Regina.
Obrigada!
À toda minha família e amigos que estão no Brasil, Feliz
Natal e Feliz Ano Novo. Espero vê-los em breve. Continuem a celebrar o amor! Vocês fazem isso muito bem!