domingo, 15 de julho de 2012

Crônica do cotidiano I: A enxaqueca e o labor.

Se amanhã eu faltar ao trabalho porque morri ninguém vai reclamar, afinal, não há muito que dizer. Acredito que até terão colegas de trabalho no meu velório.
Se amanhã eu faltar ao trabalho porque estou internado no hospital ninguém vai reclamar. Talvez eu até receba algumas visitas.
Se amanhã eu faltar ao trabalho porque estou com enxaqueca talvez alguns reclamem dizendo que é corpo mole, outros até ligarão perguntando se estou melhor.
Mas se amanhã eu faltar ao trabalho porque optei por ir ao cinema, visitar um amigo, ler um livro, parar um pouco para fazer exercícios de respiração, cuidar da família, me reorganizar mentalmente para suportar a rotina do trabalho, serei um irresponsável, darei causa a comentários desagradáveis a meu respeito que talvez até desmereçam o trabalho que faço e que dizem que é bom.
Pois bem, se amanhã eu não for trabalhar pode ser que eu tenha morrido, e aí você escolhe se vai ou não no meu enterro. Se eu estiver no hospital e a sua preocupação for verdadeira sua visita será bem vinda. Se eu estiver em casa com enxaqueca guarde seus comentários perversos para o seu dia de enxaqueca, agradecerei as ligações dos que se preocuparam. Mas se eu não for por qualquer outro motivo que pareça pequeno aos seus olhos pense que a ausência pode ser uma boa justificativa para render melhor no outro dia.
Não é sempre que se pode morrer para não ir ao trabalho. Hospitais são caros. E as enxaquecas acabam tornando-se cada vez mais comuns porque são transformadas em desculpa ou porque os colegas de trabalho não se chamam para ir ao cinema.

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