terça-feira, 2 de outubro de 2012

Travessia

Tome a parte de si que te cabe e deseje mais
Rasgue as estradas em várias metades
Ande com os pés de um peregrino ateu.

Vá por amor ao caminho,
É de vida que se faz o sonho,
Sem medo da morte,

Siga à terceira margem,
Ignota, instável, incognoscível aos olhos nus
Anseie o grito das mandrágoras colhidas sob a lua cheia.

Atravesse o que de ti resta preso ao chão
Ícaro só caiu porque subestimou o sol
Seja mais prudente, mas sonhe

Sonhe como o menino que acredita nos sonhos
Escute os conselhos de quem te quer bem
Voe alto, voe sempre, voe sorrindo...

Ainda ontem chorava de saudade
Refleti sobre coisas que só sobrevêm nas estradas
Tanto penso que não sei se onde vou é longe

Um comentário:

  1. O que mais me chamou foi a imagem das mandrágoras. O medo de ouvi-las é paralisante. Mas, nem que eu enlouqueça, arrancarei as danadas da terra! :D

    Engraçado! O texto que eu disse que estava lendo dialoga com o seu. Fala sobre os signos do carnaval e num dado momento sobre travessia: " Travessia é travessura. É a aventura, a viagem, a expectativa do inusitado - seja ele qual for. Travessia é o triz. É o átimo, o susto, o vir a ser. É a promessa. É a renovada interrogação - sem obrigatoriedade de resposta. É o pressentir a ressaca do dia seguinte, é estar com um pé em cada mundo, no desvão do discurso, com a brecha bem no centro. É o quase-quase entre o ganho e a perda, sem consequência previsível. É enxergar antes do espelho. ou depois. A despeito de haver espelho. É essa sissincronia, essa exatidão. É o estilhaçamento da imaginação predileta. Travessia é morte. E ressurreição. Travessia é atualização pura da linguagem. Travessia é o vórtice do deciframento." ( A travessia do avesso: sob os signos do carnaval)

    De quem busca a morte de lagarta.

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