terça-feira, 5 de julho de 2016

Deus de quintal II

Lá estão os deuses me sorrindo
Nas tardes de domingo no quintal da casa da minha avó
Descascando laranja,
Colocando o pequi para secar ao sol,
Alimentando as galinhas
Tirando os bichos de porco das pontas dos dedos.

Reconhecia a divindade nas piadas infantis do meu avô
No cachorro que corria atrás do sarigué e sangrava-o até a morte
Nas mangueiras, goiabeiras, cafezais
Em Judith, cágado de passo lento, firme e certeiro
Que morava debaixo da sombra do abacateiro

O fundo da casa da minha avó não era um quintal,
Não era só um jardim, era mais que um terreiro
Era onde Deus morava e brincava com a gente
Caçava minhocas e borboletas
Brincava de pique esconde, subia em árvore, corria
E caia

Éramos felizes
Éramos deuses
E ninguém precisava acreditar em nada disso
Porque minha avó sempre saia na porta batendo o pilão e gritando:
Olha a merenda!

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