segunda-feira, 26 de julho de 2010

Cumplicidade das palavras não ditas.

Não precisava ter hesitado em responder (ou não), era só desligar. Já tinha engolido um pouco daquela vontade louca de sair pelas ruas perguntando o por quê. A cara inchada de tanto chorar, sem energias para comer, apesar de ter jejuado o dia inteiro, com aquela angústia presa na garganta e a preocupação apertando o peito que de tão pequeno impedia o próprio coração de bater.

Preocupação! Não perguntem o por quê, já pedi. Motivo ou razão inteligíveis à consciência humana não explicariam. Quem sabe a metafísica conseguisse introduzir justificativa para tanto pranto. Foi-se o amor, veio a loucura.

As tentativas de se auto-acalmar pareciam em vão.

A velha na ponte era um reflexo. Morreu-lhe um filho? (Pensei com a mesma incerteza que me consumia em lágrimas.) Quanta desilusão!

A verdade parecia nua, crua, opaca. Sem intervenções, manipulações ou resquício de vontade de uma vida nova. Era aquilo e só aquilo. Nada além do que se podia enxergar.

Tantos amores, tantas dores, e as cores, para onde foram? Aquele dia o sono seria tranqüilo, apesar de não gerar descanso. Como um soldado que chega da guerra, com menos amigos, dá beijo nos filhos e lava as mãos com vontade de que muita coisa além daquela sujeira desça pelo ralo, mas não desce.

Entendo você, soldado! Chega vivo e não comemora.


Ana Míria Carinhanha

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