
Certo dia rendeu-me a tristeza e montei num cavalo alado. Buscava o infinito. Queria ir para longe, sem saber o quanto e nem aonde chegar. No meio do pseudo-destino percebi que o cavalo havia se cansado e ainda assim percorri vidas à pé. Na medida em que me cansava empenhava mais força nessa caminhada para lugar nenhum. Meu desejo era caminhar até cair por não mais agüentar; sem forças para voltar, mesmo sem saber de onde.
Rodeado de um imenso mar de nada, uma luz intensa ofuscava meus olhos. Não havia noite; nem fazia calor. O sol consagrou-me em solidão, mas havia luz, sim, havia luz, cada vez mais luz, muita luz. O frio cálido dos meus olhos amedrontaria qualquer animal que tentasse se aproximar, mas não havia fauna, não havia flora; somente solidão, uma luz e frio, muito frio.
Um homem cego ia passando e fiz silêncio para que não me notasse, mas a minha respiração me denunciou. Ele levava nas mãos uma caixinha amarela amarrada com um cordão escuro em forma de laço. A curiosidade era grande, porém insuficiente para perguntar o que havia lá dentro.
Embora tivesse me notado, parou e não disse nada. (Será que também é mudo? Pensei).
Mas de repente entoou um canto sereno. (Não era mudo, a resposta veio logo). O canto nada dizia em palavras, mas a vocalização ia provocando em mim sensações no mínimo estranhas. Senti-me uma poesia sem autor, uma canção sem melodia, e aquela voz ia me possuindo, completando toda aquela solidão que há pouco me consumia. Tomava o ambiente de uma forma indescritível. De repente, percebi que a caixa não estava mais em suas mãos.
Acabado o canto, saiu como veio, do nada, e como se nada tivesse acontecido. Logo o perdi de vista. Havia dado o seu recado, parecia satisfeito.
Ali, sentada, a solidão não era mais a minha única companhia. Bem ou mal, aquela imensidão de falta de qualquer coisa compartilhava comigo o meu silêncio, uma espécie de cumplicidade que em pouco tempo nos tornou grandes amigos e trocamos confidências valiosas.
Olhei para cima e vi aquele laço...
Desde então, encontro-me dentro dessa caixa, e sei que esse homem cego está “olhando” por mim. Sinto-me confortável com os seus cuidados, vez por outra ainda ouço a sua canção. E respiro.
Que lindo!
ResponderExcluirAcho que depois de ler algo tão leve, posso ir dormir em paz!
bjs
Fã eu sou.