quarta-feira, 25 de maio de 2011

Sagradas labaredas.


Festa do divino.
Não era Europa, era Sertão.
Eu decorava o hino.
E seguia a procissão.

Quarenta graus no cortejo.
Entre anáguas e filós.
Ironia de Deus em nossas moleiras mal fechadas.
Nem pecado eu tinha direito e o sol já me castigava.

Pelourinho itinerante a me vestir.
O pezinho apertado dentro do sapato.
Subia e descia as ladeiras quase chorando, quase sorrindo
Faixas de panos e paus em dizeres proféticos.
Quase poéticos; diria patéticos.

Eu ficava no meio,
Os mais brancos e ricos na frente,
Os mais pretos e pobres atrás.
Todos em louvor.
Sem entender a mentira, ou mentindo sem entender.

Cabelos domados,

Pés latejando, 
beatas cantando e procissão seguindo.
O sol enfurecido sob as nossas cabeças.
As lágrimas caindo.

Entre fotografias e insolações.
Não sei o que doía mais em mim.

“Você já viu anjo preto?”
Era ruim ser mulher, era ruim ser preto, era ruim ser pobre.

Mas, Mãe...
Não era o vestido.
Nem a faixa.
Nem o hino.
Nem eu.

Tortura divina.
Olhos que jamais se enxugariam.
Não é raiva de ti.
É saudade dos meus cachinhos.
E da pomba branca que sempre cagava na saída.

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