quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Cachimbo de vento é fumaça

Sei-me impossível.
Era preciso paciência e delicadeza,
E eu não tinha nenhuma delas.
Estava a ponto de um surto.
Aquele silêncio havia me deixado louca,
Assistia a fumaça misturar-se à neblina,
E procurava desenhos nas nuvens que se formavam.
Uma lucidez insustentável,
Um labirinto sem fim.
Muita reta para pouca curva,
Tomando forma no céu,
Sem que eu pudesse intervir.
Mirei o chão.
Eu me reconheci naquele mendigo velho
E a gente nem se parecia,
Apesar de me olhar como quem me conhecia.
Permiti que seu olhar me perscrutasse,
Até o último broto de mim.
Sorri,
Era quase noite.
Um açoite aquelas retinas a me percorrer.
Desenhou uma chave em um caderno azul
Que guardava com cuidado sob as cobertas sujas da rua
Foi o tempo de eu piscar
E ele sumiu por entre os cílios
Aproximei-me e encontrei a porta aberta, 
No caderno sob as cobertas.
Ainda ouvi o barulho da chave caindo ao tocar o chão.
E ele sumiu sem que eu pudesse saber o que levou de mim.

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