domingo, 8 de agosto de 2010

Tá na rede! E agora a culpa é da internet!



Como utilizar bem as redes sociais virou assunto principal nas entrevistas com jogadores de futebol, de comentarista de programa esportivo na TV, e de mais um monte de gente que não se atentou (alguns propositadamente) para a explosão das discussões sobre a internet antes mesmo da confusão causada pelos meninos do Santos.

Há muito tempo as discussões sobre a internet vem sendo travadas no campo acadêmico e também jurídico. A ânsia por regulação apresenta-se agora como mais uma tentativa de conter esses fluxos de informações desequilibrados pelas redes.

Nada cai melhor para essa situação quanto o dito popular que diz ser necessário olhar para as duas faces da moeda. Infelizmente temos o hábito de demonizar as coisas quando elas fogem do nosso controle sendo que nós mesmos as produzimos e colocamos à disposição.

Todo o conteúdo disponível na internet foi colocado lá por alguém.

A internet é o espaço "i"material em que as pessoas, e ninguém ou nada além delas, falam, escrevem, catam, encenam o que pensam. É o espaço onde podem atuar sem a castração dos veículos de mídia convencionais. Com exceção é claro daqueles lugares que ainda não "suportam" ou já demonizaram de modo preventivo os perigos da rede.

Bem ou bem, a internet representa a democratização da informação. Se, de fato um jogador de futebol gasta mais com a ração do cachorro do que um torcedor recebe de salário por mês, o erro não está em ele exteriorizar isso, muito menos a culpa é da internet, mas dos homens que acham normal a concentração de renda, os salários milionários do futebol e a miséria dos proletariados convencionais, e dos que permitem isso sob a condição de um discurso velado e hipócrita.

A internet assim como toda técnica em si não é maléfica. São elementos condicionados a práticas em que o homem é o ator fundamental na determinação da finalidade à qual se destinam.

O que Ronaldo pensa sobre as férias de Felipe Mello depois da copa do mundo é o que Ronaldo pensa sobre as férias de Felipe Mello depois da copa do mundo. É claro que a exposição midiática e o endeusamento de alguns personagens por essa mesma mídia fazem desses personagens fortes formadores de opinião da população em geral, mas, de novo, isso não é culpa da internet, é culpa da ética utilitarista da mídia.

A internet não é capaz de se auto-determinar. Ao mesmo tempo em que oferta novas possibilidades de comunicação, inovação tecnológica, também é através dela que vinculamos vírus, e possibilitamos o cometimento de agressões despersonalizadas. Temos o hábito de dizer que a internet encurta distâncias ao passo em que torna os homens mais solitários. Mas não vemos que não é a internet que faz isso, somos nós, os homens.

A despersonalização dos homens e a personalização da internet é que é danosa, e não a abrangência da técnica informacional. O homem é que tem a capacidade de se auto-determinar e decidir o que fazer ou não com determinado instrumento.

A insegurança “provocada pela rede” é divulgada na mídia com o objetivo de nos fazer temer a internet, quando na verdade são os homens determinados que querem se fazer temer (e se fazem através dos seus discursos) de forma bastante direcionada ideologicamente, e, por isso, divulgam, reiteram e exploram esses medos que, de quebra, ainda são rentáveis.

Espero que a “vontade de correção” dos homens que dominam os poderes das leis não pretenda conter esses fluxos de forma anacrônica, ineficaz e descartável, mais uma vez. Querem calar, de novo, com restrições, força e coerção os que “falam o que querem sem medo de serem punidos”. O discurso da correção pela punibilidade também precisa ser discutido, não serve mais de parâmetro para justificar a coerção por si mesma, que não deixa de ser uma violência. É por isso que ainda vivemos regidos por uma legislação do pânico.

Espero que a exploração desse medo não se torne motivo para restringir de forma sorrateira mais um meio de comunicação que hoje amplia nossas possibilidades de democracia. Querem calar quem nunca teve a oportunidade de falar enquanto discursos bem mais violentos são exibidos em “horários nobres” por emissoras autorizadas via concessão pública.

Não que os telespectadores ou usuários das redes sejam ingênuos, mas os discursos veiculados são muito bem costurados, articulados, e ideologicamente direcionados, além de terem o poder seletivo de escolher o que sai e o fica “no mundo real”. Os petiscos de realidade divulgados cotidianamente acabam construindo os nossos pratos principais. Além de interferirem no “menu” ainda escolhem a nossa sobremesa.

E é não só por esperar, que hoje, através da internet, eu me manifesto com liberdade, a favor desse instrumento facilitador, quando muito provavelmente em outros meios de comunicação eu não tivesse abertura para me manifestar dessa forma.


Ana Míria Carinhanha.

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