domingo, 1 de agosto de 2010

Olhos equilibristas.

Aqueles olhos marejados convidavam a niná-los. O tamborim puxava o samba e os casais no salão. E eles (os olhos) tentando equilibrar as lágrimas à sua altura. Vontade eu tive, juro, de perguntar se estava tudo bem e se poderia ajudar em algo. Mas faziam tanta questão de esconder a emoção que preferi manter a dissimulada expressão de quem não os via já não vendo por terem se alagado em pranto.

Após alguns segundos mirando os cantos, o teto, o chão; dirigiram-se a mim com o semblante bem mais tranqüilo e um sorriso amarelo como quem procura o buraco para se esconder. Também não entendi o porquê da vergonha. Aquela noite não entenderia nada?

O homem casado que tira a aliança para paquerar a menina; a mulher que conhece a outra e não cumprimenta; a gerente que destrata o garçom por ter fechado a conta para menos (nunca vi brigarem assim quando o erro é para mais); as pessoas que dormem na calçada do largo em frente a um evento suntuoso; e a chuva do lado de fora da minha janela fazendo tudo isso parecer normal.

Não conseguiria dormir com tantas inquietações. Tinha apenas três horas para acordar novamente. Equilibrei os olhos para que as pálpebras pudessem baixar sobre eles num espaço de tempo mais prolongado. Feito, findava-se mais um dia sem a plena compreensão dos acontecimentos. Esses olhos inquietos custam-me o descanso, e confesso, não aprenderam a equilibrar muito bem. Não que devessem, até gosto dessa indisciplina.


Ana Míria Carinhanha

Nenhum comentário:

Postar um comentário