domingo, 8 de agosto de 2010

Da discutibilidade das formas à imortalidade da palavra.



"Demorar-se na leitura e saborear as palavras é um luxo que poucos têm ou se dão na atualidade". A globalização trouxe junto com os analfabetos, diferentes tipos de leitores que agora precisam acompanhar o ritmo frenético das relações.

A velocidade impressa por esses novos tipos de relação moldaram os novos leitores. Mudanças históricas como a revolução industrial; revolução tecnológica e a própria “evolução” econômica condicionaram os leitores a um ritmo muito mais esquizofrênico do que eles são capazes de assimilar.

O bombardeio de notícias e os “assuntos do momento” revelam a mudança da produção com relação a sua quantidade, que aumentou, e à sua qualidade, que diminuiu. Mas por outro lado é preciso louvar o aumento significativo daqueles que passaram a escrever, não necessariamente em palavras, mas a exteriorizar suas formar de ler o mundo, que antes eram mais restritas e arbitrariamente selecionadas. Não que tenham deixado de ser, mas precisamos pontuar que essa situação melhorou bastante.

Voltando! Não só os objetos de leitura mudaram de perfil, como os próprios leitores. Mais do que nunca, ler é também consumir, e como se consome, se lê. É perceptível que a leitura está em quase todos os lugares habitados (naqueles em que é interessante para os emissores que a sua mensagem chegue). Mesmo que uma pessoa saia de casa disposto a não ler (absolutamente nada), esta o fará (desde que saiba, ou ainda para além da leitura escrita) em outdoors, propagandas de TV, filmes, e-mails, etc...

A contemporaneidade oferece ao leitor inúmeros signos a serem lidos, e este o faz, muitas vezes sem nem perceber. Para além das arbitrariedades institucionalizadas da língua escrita, precisamos discutir nossos códigos de comunicação. Eles estão por si, fora e dentro das nossas casas, nos dizendo muitas coisas que não filtramos, e, por isso, não as discutimos, e, por isso, as não questionamos.

A revolução tecnológica trouxe várias possibilidades inovadoras para a comunicação, dentre elas recursos de áudio e vídeo nunca antes imaginados. Hoje é possível e “real” assistirmos, ao vivo, a um evento que ocorre a milhares de quilômetros de distância, pode-se pensar que em milésimos de segundo a TV, o rádio, a internet e as redes telefônicas atingem milhões de espectadores. Como pensar então a sobrevivência da palavra em meio a todas as maravilhas da atualidade?

Simples, a palavra também é uma maravilha. A palavra materializa e, principalmente, ela se adéqua aos meios de comunicação: da carta manuscrita ao e-mail digitado (que não deixou de ser escrito à mão, mas que agora também pode ser ditado). Estar com o que se lê em mãos é poder recorrer à idéia sobre a qual se lê, seja por meio de papéis, computadores, ou recursos outros de “áudio e vídeo”.

É preciso, no entanto, refletir sobre esse novo modelo de leitor e de leitura. É certo que os novos signos e suas combinações permitem infinitas possibilidades interpretativas, de exposição, e, o mais importante, de expositores, mas, juntamente a essas novas possibilidades, as informações vêm de forma efêmera e fullgás.

Esse processo é capaz de trazer ao homem inúmeras informações de diversas formas, mas esse mesmo homem não está sendo capaz de filtrá-las. Falta tempo para experienciar aquilo que lhe foi informado. A procura por saber de tudo, ou um pouco de tudo castra as possibilidades de vivência e reflexão. Isso tem tornado os discursos vazios, meros reprodutores.

De fato, não acredito que o ipad irá desbancar o bom e velho livro, mas, para além do ritual da leitura materializada em tinta e papel, acredito que convém discutirmos também a arbitrariedade da língua escrita e o seu processo de institucionalização, bem como a efemeridade das informações veiculadas em meios oficiais, e, mais ainda, a democratização dos meios de comunicação e o processo de castração que vêm sofrendo sob discursos maquiados.

Desculpem a contradição de alguém que sabe da existência das infinitas possibilidades de leitura e que aqui ainda se priva comunicar sob o instrumento da palavra escrita. Mas prometo que nos vemos por aí em outras formas e sem tantas formalidades. Sobre as promessas, leiam meu último cigarro (está num desses textos anteriores).

Ana Míria Carinhanha.

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