segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Minutos peculiares de um dia quase comum.

Era mais maluco do que eu pensava, muito mais. 

Nunca ia imaginar que aquele homem sério, compenetrado e com pinta de músico tinha tantas histórias para contar, muitas delas, invenções, creio eu. 

Essa minha mania de conversar com estranhos ainda vai me gerar grandes problemas. 

Eu só queria vê-lo tocar uma música na viola...

Depois de borrifar em mim um perfume artesanal em que misturara gasolina e a essência de uma formiga enorme que ainda mantinha no frasco; dizer que ficava dias sem tomar banho, e que no sul esse era um dos motivos para os homens adoecerem em decorrência do catupiry da gola rolê; contar sobre o seu passado de aviador e da sua plantação de ayahuasca; oferecer insistentemente chá-mate em uma garrafa térmica encardida e pão com mortadela em uma sacola de supermercado; escarrar na grama; falar de suas experiências eróticas com as sobrinhas, e do seu hidratante/lubrificante mais potente que o KY, e feito com óleos animais; procurar um diapasão em meio a um short de banho e algumas roupas que trazia na mochila; de comer uma trufa (e sua embalagem) amassada; falar sobre a sua família; dizer que ia sortear uma capa de almofada artesanal que ele conseguiu na etiópia; me oferecer uma burca; mostrar fotos da família, da burca, e uma camisa pintada com referências ao museu de arte moderna da Bahia e ao por-do-sol;  falar mil vezes (ou mais) que estava morrendo de sono e a dias sem dormir; contar que tinham roubado a sua bicicleta e o seu violão; mostrar a estampa bonita do pano com o qual se cobria quando sentia frio; narrar da desventura de um amigo que estava brigado com a mulher porque ela descobriu que ele (o marido) havia desmontado o seu microondas para trazer uma pistola contrabandeada do exterior para o Brasil; ele ainda conseguiu tocar um axé em ritmo de blues com uma viola desafinada e sem uma corda. Além disso me deu altas dicas de afinação e recomendou Almir Sater. É um fã deveras excêntrico.

Pelo menos tocou. Em determinado momento achei que ele não sabia. Mas aí já não era preciso saber. Aquelas histórias eram muito mais difíceis de serem contadas do que tocar viola. E mais, com a mesma viola desafinada e sem uma corda ele tocou "Bem te vi" em ritmo de afro-baião-oriental numa pegada de funk romântico somado ao seu estilo Bob Dylan de cantar. Parece impossível, né? Mas foi bem isso!

Se não acreditou, não tem problema. "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena".

De fato, a vida é curta. Mas nela acontecem coisas que até quem viveu duvida.  

Um comentário:

  1. Adorei! Para quem não acreditou, aqui está uma testemunha...
    Escutei tudo isso por sua culpa, mas valeu a pena! uhauhahuahuauh
    Beijo!

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