segunda-feira, 25 de julho de 2011

Para te enxergar melhor.

Temos que estar sempre felizes,
Exibindo nosso melhor sorriso,
Esbanjando o sucesso e o glamour de sermos...
Dispostos, radiantes, intensos, inteligentes, comunicativos,
Enobrecidos pela deslumbrante tarefa de ser
Sem tristeza, sem problemas,
Sem melancolia....
Com aptidões diversas para sermos os melhores
Nesse mundo de competições.

Não podemos não ser assim,
Não ser o problema.
Não sermos vistos,
Não sermos reconhecidos em nossa estranha face.
Por mais que gritemos
Em nosso desesperado silêncio.
Por mais que exploremos as mais diversas formas
De nos inconformar diante do contrato que assinaram por nós.
E nos obrigam a cumprir todos os dias.
Sob pena de sanções cruéis.

Por mais que queiramos dizer não.
O aqui não nos cabe. 
Não cabemos aqui.
E não vejo alternativas de fuga,
Que não sejam estas reveladas por minha alucinada visão.

Rupturas,
Descontentamento,
Desconforto,
Anormalidade. 

Eu não sou daqui também, marinheiro.
Eu venho de longe.
E por desejar um horizonte,
Por conseguir vê-lo,
Além.

Além de nós mesmos. 
Pareço louca aos olhos dos que não conseguem ver.
O reflexo da clausura está na lucidez maltrapilha,
Atropelada pela brutalidade do acostumar-se...

E são tantas por aí,
Jogadas, esquecidas. 
Mortas a cada dia,
Matadas em ações corriqueiras.
Julgadas por sua (não) vontade. 
Facilmente julgadas.
A outra.
O outro: o fraco, o covarde, o inconsequente. 

Quantos gramas dessa tonelada você representa?
O que você jogou aqui?
O que você deixou de tirar?
Quantas destas você ajudou a construir?  
E quantas você ainda vai deixar perecer?
Ao sabor de valores rotos,
De expectativas consumistas,
De éticas utilitaristas.


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